Quarta-feira, 6 de setembro de 2017 - 21h27
Os Estados Unidos são o país com a maior comunidade brasileira no exterior: segundo o documento Brasileiros no Mundo, do Ministério das Relações Exteriores, a estimativa é de que quase 1,5 milhão de brasileiros vivam no país. Desses, 250 mil moram na região que abrange Flórida, Porto Rico e Ilhas Virgens, área por onde o furacão Irma deve passar com forte intensidade no final de semana. Para enfrentar o fenômeno – no momento classificado como de categoria 5, a mais alta de todas, mas que pode ser rebaixado a 4 quando chegar nos Estados Unidos – os brasileiros já estão se preparando.
Bruno Contipelli é empresário do ramo de comércio na internet em Miami e mora nos Estados Unidos há 19 anos. Ele diz que está com medo, mas se sente relativamente seguro, porque mora em um apartamento construído há pouco tempo, já enquadrado nos padrões de segurança atuais. “Agora, quem mora em casa, tem que tomar cuidado”, diz.
Na tarde desta quarta, Bruno estava ajudando um amigo a instalar protetores nas janelas de casa. Ele conta que já enfrentou um furacão de categoria 3 e que está apreensivo porque o Irma é de categoria 5: “categoria 5 ninguém está preparado para enfrentar”. “É assustador”, diz. Para ele, é importante estar preparado, pois a população pode ficar sem energia elétrica, sem internet, sem água. “Depois que a tempestade passa, demora uns cinco dias para chegar ajuda do governo, para quem não está preparado, esses cinco dias são um sofrimento”.
Caribe
O Irma atingiu as ilhas do Caribe hoje (6) pela manhã, em Antígua e Barbuda. Depois, passou por São Martin e Ilhas Virgens, e seguiu seu trajeto em direção a Porto Rico, República Dominicana e Haiti. O trajeto exato do centro do furacão é incerto, mas a expectativa é que sua passagem pelo Caribe tenha impactos também em Cuba, embora com menos intensidade.
Segundo o Centro Nacional de Furacões do governo dos Estados Unidos, o Irma está entre os cinco mais poderosos furacões do Atlântico dos últimos 80 anos, e é o mais forte do oceano a sair do mar do Caribe e do Golfo do México e atingir a costa. O fenômeno já atinge 295 quilômetros por hora durante os picos.
Experiência em furacões
O Irma pode ser pior do que o furacão Andrew, que devastou a Flórida em 1992. Ele é o segundo furacão de grande intensidade a atingir o sul dos Estados Unidos nesta temporada, depois do Harvey, que provocou destruição no Texas e deixou mais de 60 mortos e prejuízos de US$ 180 bilhões.
O agente de seguros de saúde Paulo Sérgio de Souza mora em Orlando, na Flórida, há 17 anos e conhece bem parte da história dos furacões na Flórida. Em 2004, o Charley passou por cima da casa onde morava. “É assustador. Primeiro vem um vento muito forte, que é a primeira parede, depois a calmaria, e depois o vento forte de novo, a segunda parede”, disse. Mas ele diz que a passagem do Charley o fez estar mais preparado para o Irma. “Eu estou calmo, eu já passei por três, quatro furacões, então não tenho assim grandes preocupações, já enchi o carro com gasolina se precisar fazer uma evacuação de última hora”, diz.
Souza diz que o governo orientou os moradores para se preparem, fazendo kits com um galão de água por pessoa por dia para três dias, comida enlatada e fogão a gás, além do gás para fazer o fogão funcionar, mas, segundo ele, esses itens já estão em falta nos supermercados. Ele não está preocupado, pois se preparou com antecedência, justamente por já ter passado pela situação antes. “Quem está mais nervoso com a situação são os brasileiros mais novos que chegaram há seis meses, um ano”, diz.
Evacuações na Flórida
O governo de Florida Keys ordenou a evacuação de visitantes do arquipélago ao sul da ilha a partir da manhã desta quarta-feira (6). As escolas públicas foram fechadas. Residentes de áreas mais perto do nível do mar, como do condado onde fica Miami, foram aconselhados a se mudar para regiões mais altas. O governador do estado, Rick Scott, disse que pode emitir novas ordens de evacuação até o final de semana, e pediu para que os moradores não desobedeçam as já emitidas: “Lembrem-se de que nós podemos reconstruir a sua casa, mas nós não podemos reconstruir a sua vida”.
Anderson Vargas trabalha em uma empresa de elevadores, está na Florida há 17 anos e sua esposa deu à luz há duas semanas. Ele mora em Parkland, que está fora da área de evacuação obrigatória, e diz que, quando ficou sabendo do furacão, no final do ano passado, já começou a preparar a casa. “A gente já passou por furacão em 2005 e aprendeu que cinco, seis dias antes, as coisas começam a faltar, então compramos gasolina, gerador de energia, proteção nas janelas e avisamos os amigos”.
Apesar de toda a preparação, ele e a esposa continuavam preocupados com a filha, pois, durante um furacão, ruas ficam bloqueadas, e o acesso a serviços básicos, como hospitais, pode ser difícil. Por isso, resolveram fechar a casa e dirigir mais de oito horas até Atlanta, no estado da Geórgia, e ficar longe do furacão. “Não existem modelos que dão previsão [de onde o furacão vai passar], se a gente demorar muito para sair, você pode ficar parado nas rodovias”, disse, mas defendeu a preparação que fez durante os oito meses antes do Irma chegar, e afirmou que a decisão de partir é por um motivo maior. “Só estou indo por causa da bebê”.
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