Sábado, 16 de novembro de 2013 - 21h02
Monica Yanakiew
Correspondente da Agência Brasil/EBC
Santiago – As eleições presidenciais de domingo (17) no Chile serão as mais disputadas desde o retorno à democracia, há 24 anos. Nunca houve tantos candidatos (são nove), nem tantas mulheres (são três as candidatas). E, apesar de todas as pesquisas de opinião indicarem que a socialista Michelle Bachelet será a vitoriosa, conquistando um segundo mandato presidencial de quatro anos, existem muitas dúvidas em relação ao futuro: desde os protestos estudantis de 2011, os chilenos mostraram que querem mudanças mais profundas, além da estabilidade política e econômica, conquistada nas últimas duas décadas.
“Avançamos muito nas últimas duas décadas, mas existem muitos sinais de que o ciclo, que inauguramos com o fim da ditadura, está chegando ao fim”, disse, em entrevista à Agência Brasil, o analista político Ernesto Ottone. “Recuperamos a democracia, promovemos o crescimento econômico e reduzimos drasticamente a pobreza. Não há inflação e o desemprego é baixo. Mas o Chile ainda é um país com altos índices de desigualdade social e a classe média agora tem mais expectativas. Um exemplo foi o movimento estudantil, que colocou milhares de jovens nas ruas em 2011, exigindo educação gratuita e de qualidade para todos”.
O problema é que o novo governo, seja ele qual for, não poderá avançar muito, sem reformar a Constituição. A atual, herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), limita a atuação dos políticos: nenhuma reforma profunda pode ser realizada sem um consenso. Pelo atual sistema eleitoral chileno, o presidente eleito só terá maioria no Congresso se seus candidatos a deputado e a senador dobrarem os votos do concorrente.
“Foi um sistema desenhado para promover um empate entre dois blocos, de esquerda e de direita. Então, não importa se você escolheu um candidato de esquerda, por causa de suas promessas. Ele só pode fazer o que prometeu se negociar com a direita, e o resultado acaba sendo algo intermediário, que deixa a todos insatisfeitos”, explicou a prefeita de Santiago, Carolina Toha , aliada de Michelle Bachelet.
Mas até Rolf Luders, que foi ministro da Economia na ditadura, concorda que esse sistema já não funciona, porque hoje em dia os chilenos já não acreditam nos políticos – não importa o partido.
Uma incógnita dessas eleições diz respeito a quantos dos 12 milhões de chilenos em idade de votar irão às urnas. Pela primeira vez, o voto é opcional. Além de presidente (no Chile não há vice), os chilenos escolherão deputados federais e senadores. Michelle Bachelet dedicou boa parte de sua campanha para convencer os chilenos a votarem: ela pode ter a vitória assegurada, mas precisa conseguir o maior número possível de votos no Congresso, se quiser cumprir as promessas feitas.
Um dos temas principais dessa campanha é a reforma educacional. No Chile, todas as universidades são pagas e caras. Os estudantes pedem educação gratuita e de qualidade para todos. Atualmente, quem quer ter uma carreira universitária e não tem dinheiro precisa pedir um crédito, o qual levará dez anos para ser pago.
Outros temas da campanha são a estatização da água e do cobre, ambos privatizados na ditadura militar, além de uma reforma tributária e a reforma da Constituição.
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