Terça-feira, 11 de dezembro de 2007 - 20h28
Julio Cruz Neto*
Agência Brasil
Brasília - O clima está tenso na Bolívia após a aprovação da reforma constitucional pela Assembléia Constituinte, domingo passado (9). Na esfera política, governadores da oposição anunciaram que vão declarar autonomia no próximo sábado, apresentando um estatuto independente. Nas ruas, novos conflitos deixaram uma pessoa ferida em Santa Cruz de la Sierra, um dos estados que reivindicam autonomia.
A ameaça de declaração de autonomia foi feita por governadores (chamados na Bolívia de prefeitos) de cinco estados (departamentos), a chamada "meia-lua": Santa Cruz, Pando, Beni, Tarija e Cochabamba. Eles se dizem insatisfeitos com a forma como a nova Constituição trata o tema da autonomia, uma antiga reivindicação das regiões mais ricas do país.
Os governadores convocaram a população a não respeitar a Carta Magna. Santa Cruz desenhou inclusive uma moeda própria, que também deve ser apresentada no fim de semana.
O presidente Evo Morales convocou os governadores e demais autoridades a "trabalharem juntos, com base na nova Constituição", além de declarar un período de paz para as festas de fim de ano.
O comandante geral da Polícia, general Miguel Vásquez, foi mais duro. Advertiu que cumprirá seu papel constitucional em "defesa da sociedade" e "manutenção da ordem pública", "mesmo que isso desagrade muita gente". Ele disse que vem acumulando informações sobre os atos de violência que têm ocorrido nas regiões autonomistas para poder tomar as ações adequadas.
Em Santa Cruz, na Praça 24 de Setembro, um cidadão foi "brutalmente" agredido ontem por pessoas em greve de fome contra a reforma constitucional, na definição da Agência Boliviana de Informação (ABI), que é estatal. Ele foi acusado de ser militante do Movimento ao Socialismo (MAS), partido do governo, e de estar infiltrado tirando fotos dos manifestantes.
O constituinte Ruben Dario Cuellar, chefe de bancada do Podemos, principal partido da oposição, contou à Agência Brasil, por telefone, que o rapaz entrava de barraca em barraca fotografando as pessoas, sem possuir nenhuma credencial. Ele, que recentemente denunciou ter sofrido um atentado, acha que esse tipo de situação é reflexo do clima de tensão implantado pelo governo.
O agredido em Santa Cruz tentou fugir, mas foi derrubado e coberto de socos e pontapés no corpo todo, especialmente no rosto. "Índio de merda", gritavam os manifestantes. Ele saiu correndo e tentou entrar num ônibus, mas o motorista não deixou.
A ABI informa que são freqüentes os atentados contra pessoas que discordam do Comitê Cívico pro Santa Cruz e seu grupo de choque, a Unión Juvenil Cruceñista.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que durante a posse de Cristina Kirchner, ontem, chamou Evo Morales de "a coisa mais extraordinária" que aconteceu na América do Sul, deve visitar a Bolívia no próximo fim de semana.
*Com informações da Agência Boliviana de Informação.
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