Domingo, 7 de novembro de 2010 - 12h45
Luiz Antônio Alves
Agência Brasil na Argentina, Buenos Aires - Milhares de pessoas transformaram o centro da capital argentina, na noite de ontem (6), em uma colorida e barulhenta celebração que simbolizou não apenas as conquistas políticas da comunidade homossexual mas, também, a disposição de continuar apresentando aos legisladores locais novas reivindicações.
A Marcha do Orgulho Gay 2010 começou na praça localizada diante da Casa Rosada, sede do governo argentino, seguiu pela Avenida de Maio e se concentrou no palco armado nas escadarias do Congresso Nacional, onde conhecidos ativistas revezaram-se em discursos políticos entremeados de apresentações musicais.
Nesse mesmo local, outra multidão acompanhou e celebrou, ao longo da madrugada do dia 15 de julho deste ano, a votação do Senado argentino considerada histórica que aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O resultado da votação, que se prolongou por 14 horas e modificou um artigo do Código Civil, transformou a Argentina no primeiro país da América Latina a legalizar o casamento homossexual.
Ontem, a inédita e reconhecida vitória política da comunidade homossexual argentina transformou-se na justificativa para manifestações que lembraram o ex-presidente Néstor Kirchner, que morreu no dia 27 de outubro, vítima de problemas cardíacos. Ele se posicionou a favor do casamento homossexual na votação ocorrida na Câmara. Depois disso, o projeto seguiu para o Senado para a votação final que referendou o apoio do governo da presidenta Cristina Kirchner a essa reivindicação.
A coordenadora do Programa Nacional de Diversidade Sexual, Maria Rachid, disse aos jornalistas que registravam a marcha que as manifestações favoráveis tanto a Néstor quanto à presidenta Cristina Kirchner se justificam porque eles sempre manifestaram apoio ao desenvolvimento de políticas públicas para as minorias da Argentina e o repúdio à discriminação sexual. Essa é a mesma posição de um grupo de jovens peronistas e também da ala socialista da União Cívica Radical, conhecido partido representado na marcha.
Os ativistas políticos da comunidade gay argentina, vencida a etapa do casamento entre pessoas do mesmo sexo, querem agora a aprovação de uma Lei de Identidade de Gênero. Vários esboços de projeto de lei já foram entregues a deputados e senadores argentinos para discussão interna. De acordo com Luis de Grazia, integrante da ala jovem da Comunidade Homossexual Argentina (CHA), a Lei de Identidade de Gênero não soluciona todos os problemas vividos pelos gays do país mas é um novo e importante passo para suas conquistas civis.
Luis de Grazia disse que as propostas apresentadas pela organização incluem itens importantes relacionados à troca do registro civil de transexuais e o acesso dessas pessoas ao serviço de saúde pública para a realização de cirurgias de mudança de sexo. Além disso, o anteprojeto proíbe intervenções cirúrgicas em crianças e adolescentes transexuais, enquanto não puderem tomar decisões próprias sobre seu corpo. Há casos em que os próprios médicos tomam a decisão de realizar cirurgias para “corrigir” o sexo de crianças que apresentam características masculinas e femininas.
A Marcha do Orgulho Gay 2010 não se limitou a reunir a população de Buenos Aires. Caravanas das províncias de San Luis, La Pampa, Santa Fé Córdoba e Entre Rios levaram para a celebração diante do Congresso grupos de jovens usando camisetas pretas com o desenho da bandeira com as cores do arco-íris, que identifica a comunidade gay. A celebração diante do Congresso terminou na madrugada de hoje (7) com um espetáculo de fogos de artifício.
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