Segunda-feira, 15 de dezembro de 2008 - 07h47
A crise econômica está mudando os hábitos alimentares dos franceses, sugere o estudo anual sobre alimentação do Centro de Pesquisas para o Estudo e Observação das Condições de Vida (Crédoc, na sigla em francês).
Segundo a pesquisa, os franceses estão indo com menos freqüência a restaurantes e passaram a comer mais em lanchonetes no horário de almoço.
Além disso, quando decidem comer fora de casa, estão dispensando entradas e até mesmo o vinho numa tentativa de diminuir a conta.
Se em qualquer outro lugar esse comportamento seria considerado normal em tempos de crise, no país da gastronomia, onde o conceito de "boa mesa" é uma tradição cultural, a mudança de hábito representa uma reviravolta.
Lanchonetes
"Não sentimos o impacto da crise até o momento", disse à BBC Brasil Frédéric Maquair, um dos donos da lanchonete Cojean, com 13 lojas em Paris.
"Os hábitos dos franceses estão mudando por necessidades econômicas. A crise contribuiu para o aumento da clientela em estabelecimentos que servem refeições rápidas", diz ele.
Maquair ressalta que algumas de suas lanchonetes em Paris - onde uma refeição custa em média 11 euros (R$35) - registraram aumento de 10% a 12% do faturamento em 2008 em comparação com o ano passado.
"É mais barato do que um restaurante comum, onde um cliente gasta normalmente 20 euros (R$63)", afirma.
Prioridade
A mudança também atingiu os critérios levados em conta para a compra de alimentos. De acordo com o estudo do Crédoc, o preço passou a ser o fator mais importante para os franceses.
Para se ter uma idéia da alteração dos hábitos gastronômicos no país, há dois anos, o primeiro critério considerado pelos franceses para escolher o que comprar no supermercado era a qualidade dos produtos.
Atualmente, mais de 15% dos franceses fazem suas compras de alimentos em lojas de desconto, onde os produtos que fazem a reputação da gastronomia francesa são raramente encontrados. No ano passado, a clientela desse tipo de loja era de 9,3%.
Restaurantes
O Crédoc realizou ainda outro estudo no qual indica que os restaurantes franceses já registram uma queda de 30% na clientela desde o início deste ano.
Em entrevista ao jornal Le Monde, o diretor da consultoria Gira Sic, especializada no setor alimentício, afirmou que a crise e a conseqüente queda do poder aquisitivo dos franceses reduziram principalmente o hábito das chamadas "refeições de lazer", ou seja, de sair de casa para jantar fora.
Para diminuir a conta do restaurante, muitos franceses passaram a optar por dividir entradas ou sobremesas, às vezes até mesmo o prato principal, economizam no vinho e trocam a garrafa de água mineral - a França é o segundo maior consumidor mundial - por uma jarra de água da torneira, que é gratuita, afirmam diversos profissionais do ramo.
Os restaurantes comuns, onde a refeição custa de 25 a 30 euros (cerca de R$ 80), valores até então considerados bem acessíveis para a classe média, são os mais atingidos pela crise, segundo profissionais do setor.
Apesar da queda no faturamento dos restaurantes, outros dois segmentos do setor registraram progressão nas vendas. Nas lanchonetes, o faturamento aumentou 2,6% no último ano enquanto nas cantinas de empresas, o crescimento foi de 4,6%, de acordo com a revista Néorestauration, especializada no setor.
A crise, até o momento, tem poupado também os restaurantes mais sofisticados e os de alta gastronomia, com chefs renomados mundialmente locais onde uma refeição pode custar 300 euros (R$ 950).
No entanto, alguns grandes chefs, como Paul Bocuse, Guy Martin e Marc Veyrat acompanham a tendência atual e as mudanças de comportamento na França.
Recentemente, eles abriram lanchonetes que servem, entre outros pratos, sanduíches por cerca de 4 euros (R$12).
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