Quarta-feira, 2 de abril de 2014 - 06h20
Mariana Branco
Agência Brasil
Inaugurado em janeiro, o Porto de Mariel, em Cuba, está em busca de investidores. O Brasil, que financiou parcialmente as obras de modernização, enviou na última semana a primeira missão de estrangeiros para prospecção de negócios na área, que oferece incentivos fiscais. Em junho, será a vez da China.
No sábado (29), um dia após os brasileiros partirem, parlamentares cubanos aprovaram a nova lei de investimentos estrangeiros, destinada a estimular o crescimento econômico. Empresários brasileiros que participaram da viagem, organizada pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex) e Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), dizem que a ilha ainda apresenta obstáculos e um mercado de consumo restrito, mas ressaltaram seu potencial e a importância estratégica do porto como ponto de distribuição para outros mercados.
Um deles é Julian Pedro Carpenedo, da Globoaves. A empresa exporta carne de aves para Cuba há cinco anos, a um volume aproximado de mil toneladas mensais. De acordo com ele, a empresa vê espaço para aumentar sua fatia do mercado. “A gente quer trabalhar com companhias [cubanas] que já compram, mas ainda não diretamente da gente”, diz. Segundo Carpenedo, Cuba tem uma demanda estável e não faz parte do grupo de mercados mais expressivos entre os mais de 50 países para os quais a empresa exporta. No entanto, os negócios com a ilha compensam.
“As empresas que compram são quase todas do governo. Para nós, é um mercado interessante. Bastante particular, tem seus obstáculos e dificuldades, mas é bom”, observa. A empresa de Carpenedo apresentou ao governo cubano, no início de suas operações no país, um projeto para a reativação da indústria avícola da ilha, com venda de tecnologia e know how.
Durante a viagem a Cuba na última semana, o empresário recebeu convite do ministro do Comércio Exterior e Investimentos Estrangeiros do país, Rodrigo Malmierca, para ampliar a proposta e investir em uma unidade produtora, aproveitando as taxas especiais da zona de desenvolvimento do porto. De acordo com ele, ainda não há decisão sobre o assunto. “Fomos ouvir que programas estão oferecendo [no porto] e verificar a possibilidade. Temos que trabalhar nesses números para dizer se vai ser possível ou não. Achamos interessante que haja a possibilidade”, declarou.
O consórcio WLobo/Petrosan, que reúne empresas de engenharia elétrica, energia, equipamentos industriais e cosméticos, também analisa a possibilidade de investir. Segundo Eduardo Choca, diretor técnico da CCSBusiness e do Laboratório Boniquet, que trabalham com cosméticos, o grupo atualmente não tem negócios em Cuba e quer fornecer produtos, tecnologia e know how à ilha. As empresas ainda farão um estudo sobre a viabilidade de investimento no Porto de Mariel.
“Vimos grande oportunidade de produzir no território de Cuba e fazer exportação para países tanto da Europa quanto da América Central. Em uma análise preliminar, também existe mercado interno para absorver [a produção], pois além de essa população ter um certo consumo, por mais que seja regrado, vai existir o desenvolvimento que o próprio projeto [do porto] trará. Hoje, Cuba tem de 70% a 80% do material [consumido internamente] importado”, ressalta.
Segundo ele, a avaliação das empresas brasileiras é que o mercado de cosméticos e higiene não é explorado em todo o seu potencial na ilha. “A gente tem como levar coisas que hoje existem lá, mas estão inacessíveis [em função do preço]. Algo que chamou a atenção dos cubanos [durante a missão] foram os lenços umedecidos para bebês e lenços demaquilantes, que eles não têm”, informa.
Vladimir Guilhamat, diretor da Fiesp que acompanhou a missão empresarial brasileira, disse que além dos benefícios fiscais de Mariel, que são dez anos de isenção tributária e, posteriormente, taxas, no máximo, de 12% sobre os lucros, os brasileiros consideraram a qualificação da mão de obra um ponto favorável. “Há engenheiros, químicos, pessoas com formação acadêmica de uma forma geral”, diz. Segundo ele, o mercado de consumo já não fica restrito aos turistas. “Há muitos [cubanos] que trabalham para empresas estrangeiras, empresas mistas. Há os que têm seus pequenos negócios: restaurantes, mecânicas, salão de cabeleireiro. O governo tem incentivado essa abertura. Isso cria uma demanda por produtos que não existem na ilha. Ou que existem, mas não com variedade, opções”, avalia.
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