Os planos de governos latino-americanos contra o corte indiscriminado obteve avanços, mas ainda se chocam com fortes interesses econômicos.
México, 11 de fevereiro (Terramérica) - Nunca antes na América Latina e no Caribe se lutou tanto contra o desmatamento como atualmente, afirmam especialistas e governos. Mas o corte de árvores na região aumentou até se constituir no maior do mundo. De cada cem hectares de florestas perdidos no planeta, entre 2000 e 2006, quase 65% correspondem a esta área. Nesse período, o desmatamento registrou a média anual de 4,7 milhões de hectares, 249 mil hectares a mais do que o registrado entre 1990 e 2000.
“A questão do desmatamento continua sendo difícil de manejar porque há muitos interesses econômicos em jogo”, disse ao Terramérica Ricardo Sánchez, diretor para a América Latina e o Caribe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Os ministros de Meio Ambiente da região receberam em seu último fórum, realizado entre 30 de janeiro e 1º de fevereiro, em Santo Domingo, um informe de circulação limitada que expõe, entre outros assuntos, o fracasso das estratégias contra a destruição florestal.
O documento “Iniciativa Latino-Americana e Caribenha para o Desenvolvimento Sustentável (Ilac) após Cinco Anos de sua Adoção” avalia os compromissos oficiais assumidos pelos governos em 2002. “Há uma atuação dos governos contra o desmatamento como nunca antes, mas vemos que não é uma tarefa simples, pois há uma alta pressão por parte de grupos econômicos”, alertou Sánchez. O desmatamento representa a perda de biodiversidade e fomenta a degradação dos solos, além de favorecer “a reincidência dos fenômenos climáticos extremos”, acrescentou.
Entre 2000 e 2005, a proporção da superfície total coberta por floresta diminuiu, na área da Mesoamérica, de 36,9% para 35,8%, e na América do Sul, de 48,4% para 47,2%. Só no Caribe aumentou, de 31% para 31,4%. Segundo o mexicano Enrique Provencio, autor do informe do Ilac, a principal causa do aumento do desmatamento é o avanço das monoculturas, um fenômeno que não teve maior peso nos anos 90. “Houve um aumento dos preços internacionais de produtos como a soja, o que impulsionou a ocupação de áreas de floresta, especialmente no Brasil, Paraguai e Bolívia”, disse Provencio ao Terramérica.
O documento da Ilac indica que, embora a atividade “florestal tenha mantido um desempenho positivo pela melhoria da produtividade e avanços no manejo sustentável e outras práticas como a certificação”, isso não evitou a perda das florestas. “Em alguns países a redução da superfície florestal continua associada ao crescimento da pecuária e se aplica o clássico padrão de ampliação da superfície de pastagem por meio do desmatamento”, afirma.
Para enfrentar o desmatamento, a maioria dos governos criou nos últimos anos novos esquemas de vigilância e controle, chegando inclusive a usar o exército para perseguir os cortadores de árvores. Além disso, baixaram normas punindo severamente os que destróem a floresta. Sánchez destacou recentes esforços, como a aprovação na Argentina, no final de 2007, da Lei de Florestas, após uma ativa campanha que conseguiu reunir 1,5 milhão de assinaturas. Essa lei estipula que as autoridades deverão criar novos planos de exploração florestal e as permissões para isso serão emitidas apenas depois de um estudo de impacto ambiental e audiências publicas.
Outras “luzes” que o diretor do Pnuma encontra nesta luta ambiental são os esforços do Brasil, com a criação de mecanismos interministeriais que cuidam do assunto, e a criação no Chile e no Peru de superintendências contra o desmatamento. Entretanto, o desmatamento persiste. “Isto demonstra que continuamos sendo economias dependentes do uso intensivo dos recursos naturais e que, com o crescimento da demanda por alimento e outros produtos, houve um avanço da fronteira agrícola”, disse Sánchez.
Provencio, ex-diretor do estatal Instituto Nacional de Ecologia do México, considerou uma aventura opinar se o acelerado desmatamento continuará ou não nos próximos anos, mas chamou a atenção para as iniciativas em andamento, que podem detê-la e inclusive revertê-la. Há esforços de defesa da floresta e reflorestamento de muito sucesso, sobretudo em Cuba, Costa Rica, Santa Lucia e Uruguai, afirmou. Em contraste, “a situação na Amazônia brasileira agora é preocupante e isso pode ter impacto nos indicadores de toda a região”, acrescentou.
Outro dos elementos positivos contra o desmatamento é o aumento da superfície das áreas naturais protegidas. No qüinqüênio analisado passaram de 19,2% para 20,6% da América Latina e do Caribe. A mudança significou um crescimento de 320.400 quilômetros quadrados. Embora o aumento da superfície protegida não tenha compensado a perda de cobertura vegetal, “o processo dá alguma esperança”, afirmou Provencio.
* O autor é correspondente da IPS.
Crédito de imagem: Fundação Democracia sem Fronteiras