Domingo, 26 de agosto de 2007 - 18h35
Alex Rodrigues
Agência Brasil
Brasília - O diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) e vice-presidente do Conselho Mundial de Águas, Benedito Braga, não concorda com as avaliações de que o mundo está à beira da escassez de água. Ele, que participou neste mês da Semana Mundial da Água, em Estocolmo, na Suécia, acredita que o pior cenário ainda pode ser evitado.
"Temos de chamar a atenção para a boa gestão dos recursos hídricos. Só faltará água se não fizermos os investimentos necessários ao funcionamento do setor", afirmou à Agência Brasil.
Para Braga, boa parte dos problemas existentes hoje podem ser superados com as tecnologias disponíveis, muitas delas simples e baratas, por exemplo no Nordeste. "Em termos de escassez de água, a região se parece com o Oriente Médio ou com locais áridos do Chile e do Peru. Só que no Nordeste chove e a água não é armazenada. Então seria muito importante termos recursos para a construção de reservatórios onde se armazene água por períodos mais longos".
O diretor da ANA completa seu raciocínio explicando que os açudes não bastam. "Não adianta construir somente o açude. São necessárias adutoras que levem a água, sem desperdício, até as casas e as indústrias. Temos exemplos de construção de açudes ao longo dos últimos 100 anos que não foram muito eficientes".
Braga defende que os brasileiros que têm acesso à água encanada dispõem de um produto saudável. O problema, segundo ele, são os cerca de 10% da população que ainda não contam com o serviço. "Quase 90% da população brasileira recebe água tratada, de boa qualidade. Mesmo assim, ainda há muita gente que não a recebe, principalmente nas zonas rurais. Isso tem de ser corrigido urgentemente. Nosso grande problema é a falta de saneamento, o esgoto lançado diretamente nos rios".
Ele garante que a água de poços profundos é de boa qualidade, mas faz uma ressalva: a possível contaminação do Aquífero Botucatu, na região de Ribeirão Preto (interior de São Paulo), por fertilizantes e agrotóxicos empregados na agricultura.
Apesar do otimismo quanto às reservas mundiais de água, Braga acha essencial um investimento maior nos sistemas de armazenagem e gerenciamento. "Se aqueles que têm a condição de fazer os investimentos de forma correta não o fizerem, aí sim nós teremos uma grande crise em um futuro próximo. Muito mais complexa que uma crise de petróleo, que pode ser substituído por outras fontes energéticas".
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