Terça-feira, 4 de março de 2008 - 09h16
Mylena Fiori
Agência Brasil
Brasília - Conflitos como o que ocorre hoje entre Equador e Colômbia podem se repetir na fronteira do Brasil com a Colômbia. O alerta é do advogado Salem Nasser, professor de Direito Internacional da Fundação Getúlio Vargas. "Temos um território que é propício à presença dos guerrilheiros, ainda que isso não tenha sido um problema nos últimos tempos", pondera o advogado.
Ele ressalta que são comuns problemas de fronteira em um país como a Colômbia, dividido internamente em regiões sob influência direta do governo e dos militares e áreas sob influência das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) ou outros grupos.
"Além da atuação de guerrilheiros a partir de um território estrangeiro, há também a questão dos refugiados, a questão das relações econômicas. A fronteira significa muito mais do que apenas uma linha que não deve ser cruzada pelos militares de um país contra o outro", diz Nasser.
O agravamento da crise entre Equador e Colômbia, especialmente a partir do envolvimento da Venezuela, também desperta outros temores. Na avaliação do advogado, pode levar a um conflito armado no continente. Embora seu país não esteja diretamente envolvido na crise - desencadeada a partir de ação militar colombiana contra guerrilheiros das Farc território equatoriano - o presidente venezuelano, Hugo Chávez, saiu em defesa do Equador e enviou tropas militares para a zona de fronteira.
"Chama muita atenção a reação venezuelana, foi uma reação muito forte embora não seja uma parte diretamente envolvida nestes fatos. Há uma retórica extremamente violenta e o quadro que vai se desenhando é de piora das relações entre três vizinhos que são colados um no outro", avalia Nassar.
"A preocupação é de que essa escalada tanto de retórica quanto de tensão política e militar vá crescendo até que haja um transbordar e o início de um conflito armado mais perigoso. Isso representa um perigo para toda a região", afirma.
O conflito poderia gerar, ainda, a atuação norte-americana na região. Nasser ressalta que o presidente Hugo Chavez e a Venezuela são a questão central da política externa dos Estados Unidos para a América Latina. "Ele é o homem a vencer e, nesse caso, é o homem que se coloca contra o país que mais recebe ajuda dos Estados Unidos e onde eles têm uma política mais agressiva contra a questão das drogas e contra as Farc", argumenta, frisando que há pesados investimentos norte-americanos na Colômbia para ajuda no combate ao narcotráfico.
"É o lugar em que o envolvimento dos Estados Unidos se vê de modo mais imediato na América Latina. Se essa crise persistir, isso chamará os Estados Unidos a agirem mais concretamente", acredita.
Tal ação, na avaliação do professor, teria desfecho incerto - até pela falta de alinhamento de interesses, com os Estados Unidos, da maioria dos países da região. "O envolvimento dos Estados Unidos é sempre perigoso porque sempre dotado de um certo grau de irracionalidade. Pelo menos a experiência mais recente mostra isso", conclui.
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