Quinta-feira, 17 de julho de 2008 - 11h58
Ana Luiza Zenker
Agência Brasil
Brasília - Com cerca de 315 mil brasileiros, o Japão tem a terceira maior comunidade brasileira no exterior, atrás dos Estados Unidos e do Paraguai. No entanto, ao contrário do que se vê na maior parte dos principais destinos, duas características chamam a atenção nesse grupo de migrantes brasileiros. A primeira é o fato de que quase 100% dos deles estão regularizados no Japão. Isso acaba levando à segunda grande característica: a maioria ou é descendente ou cônjuge de japonese.
No início do século 20 os japoneses vieram para o Brasil e depois de quase um século, na verdade a partir de meados da década de 1980, seus descendentes, filhos e netos, começam a ir para o Japão novamente, diz a professora Elisa Massae Sasaki, da Universidade de Campinas (Unicamp).
De acordo com ela, essa relativa homogeneidade entre os migrantes ocorre, em parte, pelo fato de ser necessário comprovar a ascendência ou o casamento com um descendente de japonês para se ter o visto permanente. O Japão se considera uma sociedade homogênea etnicamente, uma língua, uma nação, mas esse discurso é desafiado pela entrada de novos e cada vez mais variados estrangeiros, afirma Sasaki.
Desde o início dessa migração, os chamados dekasseguis (em japonês trabalhar fora de casa) têm ocupado postos de trabalho na indústria manufatureira. Os japoneses se recusam a trabalhar nesse setor, considerado atividade de baixa qualificação e de pouca possibilidade de ascensão profissional, explica.
Atualmente, eles se concentram na Ilha Principal, Honshū, particularmente nas províncias de Aichi e Shizuoka, onde se concentram manufaturas especialmente do setor automobilístico, e Nagano, onde há indústrias de componentes eletrônicos.
Se no início os dekasseguis tinham a expectativa de ficar no país temporariamente, hoje a presença se tornou mais permanente. Elisa Sasaki destaca que cerca de 25% da comunidade, ou em torno de 78 mil imigrantes brasileiros, têm visto de permanência. Isso gera uma das principais demandas: educação para os filhos.
Hoje a gente já encontra uma presença cada vez maior de jovens brasileiros, ou que foram pequenos ou que já nasceram lá, diz. E complementa: das grandes questões na área da educação, uma é se você vai ensinar à la brasileira ou à la japonesa, qual o sistema educacional que você vai escolher, o que depende, segundo ela, do projeto de vida de cada família que está lá.
Apesar de no Japão praticamente não haver políticas, especialmente em nível nacional, para a integração dos imigrantes, a comunidade desenvolveu formas de adaptação e integração. Uma é a imprensa étnica. A professora Sasaki informa que existem cerca de 50 publicações, com quatro jornais bem sucedidos: International Press, Jornal Tudo Bem, Nova Visão e Folha Mundial. Isso além de empresas importadoras de produtos brasileiros, bares, restaurantes, TV e mesmo escolas brasileiras.
Para conhecer um pouco mais quem são os brasileiros que vivem em outros países e as necessidades dessas pessoas, o Ministério das Relações Exteriores organizou a 1ª Conferência sobre as Comunidades Brasileiras no Exterior. Com o slogan Brasileiros no Mundo, o encontro ocorre hoje (17), no Rio de Janeiro, e tem o apoio da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag).
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