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Metade do dinheiro doado a países da África para combater a Aids não é gasta


Carolina Brígido - Agência O Globo BRASÍLIA - Metade dos recursos doados a países da África sub-saariana para financiar o combate à Aids não é gasta. Um estudo realizado pelo Centro Internacional de Pobreza do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) constatou que esse percentual do dinheiro fica retido no Banco Central do país beneficiado com a doação para fazer caixa. O coordenador da pesquisa, Terry McKinley, representante da instituição em Brasília, alerta para um problema grave: em vez de se empenhar prioritariamente em frear o avanço da doença, esses países estão mais preocupados com questões macroeconômicas. A preocupação das Nações Unidas é que, se esse comportamento não for modificado logo, é muito provável que não se cumpra a meta traçada para que, até 2015, o avanço da Aids seja contido e o número de infectados com a doença comece a regredir. Não foi revelado o número de países avaliados pelo PNUD. Também não foi divulgado o percentual não gasto dos recursos repassados em cada um dos países. Segundo McKinley, a média fica em 50%. Os países avaliados pelo estudo têm receio de que o gasto de todo o dinheiro recebido para incrementar políticas de combate à Aids afete a saúde financeira interna. Os governos temem que os custos computados a mais nas despesas internas reflitam no aumento da inflação e na volatilidade cambial da moeda. Segundo McKinley, esse risco é real se consideradas as peculiaridades econômicas de boa parte dos países que dependem da ajuda. Outro problema que impede os países beneficiários das doações de gastar todo o dinheiro recebido é a falta de estrutura para absorver os recursos. Em alguns locais, por exemplo, não adianta adquirir grandes lotes de medicamentos se a rede de saúde não tem médicos suficientes para atender aos doentes. - Um dos motivos para não usarmos todo o dinheiro recebido é a nossa falta de capacidade técnica - explicou o representante do PNUD na Etiópia, Fidele Sarassoro. Esses e outros nós do gerenciamento da ajuda financeira estão sendo discutidos em um encontro realizado em Brasília. O encontro tem a participação de governos africanos, integrantes das Nações Unidas e representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI). Apesar de os recursos não serem totalmente gastos, as doações de países ricos para programas de combate à Aids aumentaram no período de 2002 a 2004. A Zâmbia, por exemplo, recebeu 698% a mais na comparação entre os dois anos. O incremento foi de 394% na Tanzânia e de 321% em Moçambique.

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