Quarta-feira, 29 de março de 2017 - 08h13
O governo da Venezuela está diante de uma maioria de países-membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) determinada a encontrar "soluções diplomáticas" para mediar a crise política e social do país, apesar da rejeição do governo do presidente Nicolás Maduro. As informações são da Agência EFE.
Durante uma sessão extraordinária do Conselho Permanente, convocada a pedido de 18 países para debater a crise venezuelana, vinte países dos 34 membros ativos da OEA (Cuba não participa desde 1962) assinaram nesta terça-feira (28) uma declaração conjunta na qual se comprometem a elaborar um roteiro "no menor prazo possível" para "apoiar o funcionamento da democracia e o respeito ao Estado de Direito" na Venezuela.
O texto, ao qual a Agência EFE teve acesso, tem apenas três pontos e não inclui as reivindicações de fixar um calendário eleitoral, libertar "presos políticos" e respeitar as decisões da Assembleia Nacional da Venezuela – cuja maioria faz oposição ao governo de Maduro. Esses itens, no entanto, estão em declaração conjunta assinada por 14 países, divulgada na quinta-feira (23) passada e que não foi votada hoje.
A esses 14 países – Brasil, Canadá, Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Estados Unidos, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Uruguai – se somaram no texto de hoje Jamaica, Santa Lúcia, Barbados, Bahamas, Belize e Guiana, que permitiram em uma votação anterior que essa sessão fosse realizada, apesar da oposição da Venezuela.
O texto dos 20 não foi submetido à votação na reunião de hoje porque é apenas o alicerce de uma resolução mais concreta que estará pronta nos próximos dias e que, se for aprovada, estabelecerá um mecanismo para acompanhar a evolução da crise na Venezuela.
A situação foi explicada aos jornalistas pelo embaixador mexicano na OEA, Luis Alfonso de Alba, a quem foi atribuída a liderança do grupo de países "preocupados" com a Venezuela, que passaram de 14 a 20 em poucos dias.
O embaixador mexicano foi, junto com os representantes dos EUA, Canadá e Paraguai, o mais crítico em relação à Venezuela. Para ele, há uma alteração da "ordem democrática" na Venezuela que inclui violação aos direitos humanos.
A proposta de Alfonso de Alba é que a OEA analise periodicamente, em prazo que não seja maior que um mês, a situação na Venezuela e a evolução dos diálogos entre o governo e a oposição. O embaixador mexicano tem também a missão de convencer os 14 países que ainda não assinaram a declaração a apoiar as medidas.
Seus comentários lhe valeram uma dura resposta por parte do vice-ministro venezuelano para América do Norte, Samuel Moncada, nomeado ontem novo embaixador na OEA em substituição a Bernardo Álvarez, que morreu em novembro.
"A Venezuela precisa de um grupo da OEA tanto quanto o México precisa do muro", alfinetou Moncada, em referência ao muro que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mandou construir na fronteira com o México e que abriu uma crise sem precedentes entre as nações vizinhas.
Essa foi só uma das duras críticas que Moncada fez a cada um dos países fizeram intervenções sobre a crise na Venezuela. Ele criticou, por exemplo, que o governo do Brasil "seja fruto de um golpe de Estado" e instou a Colômbia a "parar a produção de cocaína" se realmente quiser ajudar à Venezuela.
O embaixador mexicano Alfonso de Alba foi o mais contundente e chegou a se levantar-se de seu assento e dizer que, se a Venezuela não parasse com seus ataques aos demais países-membros, ele abandonaria a sala e foi, então, aplaudido por várias delegações.
A Venezuela, e seus grandes aliados na OEA – Bolívia e Nicarágua – argumentam que em vários países do continente há violações de direitos humanos e da democracia com as quais a OEA parece não se importar.
Tanto a Venezuela como os países que querem mediar a crise no país deixaram claro que a sessão de hoje foi apenas o início de uma queda de braço na qual nenhum dos dois lados está disposto a ceder.
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