Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Mundo - Internacional

Papa aos luteranos: nunca mais rivais, o futuro é a comunhão


 Gente de Opinião

Papa Francisco com a Presidência da Federação Luterana Mundial

Cidade do Vaticano (RV) – Entre as inúmeras audiências desta quinta-feira, o Papa Francisco recebeu no Vaticano a presidência da Federação Luterana Mundial.
 

Gente de Opinião

À delegação, liderada pelo Secretário-Geral Dr. Musa Filibus, o Papa dirigiu um discurso ressaltando os momentos que marcaram ecumenicamente o Ano da Comemoração da Reforma, que acaba de ser concluído.

De modo especial, Francisco recordou sua visita a Lund, na Suécia, em outubro de 2016, quando se rezou juntos para que da graça de Deus brote e floresça o dom da unidade entre os fiéis.

“Somente rezando podemos custodiar uns aos outros. A oração purifica, fortifica, ilumina o caminho, faz ir avante. A oração é como o combustível da nossa viagem rumo à plena unidade.”

Reconhecendo-nos irmãos, disse o Papa, podemos olhar para a história passada e agradecer a Deus porque as divisões dolorosas confluíram, nas últimas décadas, num caminho de comunhão, no caminho ecumênico suscitado pelo Espírito Santo. Este caminho nos levou a abandonar antigos preconceitos, como aqueles sobre Lutero e a situação da Igreja naquele período.

Por isso, Francisco enalteceu o diálogo entre a Federação Luterana Mundial e o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos:

“Com a memória purificada, hoje podemos olhar com confiança para o futuro. Nunca mais poderemos nos permitir ser adversários ou rivais. Se o passado não pode ser mudado, o futuro nos interpela: não podemos nos subtrair, agora, da busca e da promoção de uma maior comunhão na caridade e na fé.”

Francisco pediu ainda vigilância diante da tentação de parar no meio do caminho. O impulso para prosseguir pode vir de duas frentes: a caridade e o martírio. Os pobres são “indicadores preciosos” do caminho, que nos chamam a tocar suas feridas com a força restauradora da presença de Jesus.

Já quem sofre de modo heroico para testemunhar de Cristo nos impele a uma fraternidade sempre mais real.

“Querido irmão, invoco de coração todas as bênçãos de Deus e peço ao Espírito Santo, que une aquilo que está dividido, de efundir sobre nós a sua sabedoria mansa e corajosa.”

Eis a íntegra do pronunciamento do Pontífice:

“Querido irmão, querido Arcebispo Musa,

Saúdo-o cordialmente junto ao Dr. Junge, Secretário Geral, aos vice-Presidentes e aos delegados da Federação Luterana Mundial, e ao mesmo tempo em que agradeço por suas cordiais palavras, congratulo-me pela sua recente nomeação a Presidente.

Juntos podemos fazer memória, como a Escritura ensina, do quanto o Senhor realizou entre nós (cf. Salmo 77,12-13). A recordação vai, em particular, aos momentos que ecumenicamente marcaram o Ano da Comemoração da Reforma, há pouco concluído.

Gosto de pensar sobretudo ao 31 de outubro de 2016, quando rezamos em Lund, onde a Federação Luterana Mundial foi instituída. Foi importante nos encontrarmos, antes de tudo, na oração, porque não é dos projetos humanos, mas da graça de Deus que germina e floresce o dom da unidade entre os fiéis.

Somente rezando podemos custodiar-nos uns aos outros. A oração purifica, fortifica, ilumina o caminho, faz seguir em frente. A oração é como o combustível de nossa viagem rumo à plena unidade. De fato, o amor do Senhor, que alcançamos rezando, coloca em ação a caridade que nos aproxima: disto a paciência do nosso esperar-nos, o motivo do nosso reconciliar-nos, a força para seguirmos em frente juntos. A partir da oração, que é “a alma da renovação ecumênica e do anseio pela unidade”; o diálogo “sobre ela se baseia e dela recebe sustento” (cfr Carta Enc. Ut unum sint, 28).

Rezando, podemos cada vez nos ver uns aos outros na perspectiva correta, aquela do Pai, cujo olhar coloca-se amorosamente sobre nós, sem preferências ou distinções. E no Espírito de Jesus, no qual rezamos, nos reconhecemos irmãos.

Este é o ponto do qual partir e recomeçar sempre. A partir disto olhamos também para a história passada e agradecemos a Deus porque as divisões, mesmo muito dolorosas, que nos viram distantes e contrapostos por séculos, nos últimos decênios confluíram para um caminho de comunhão, no caminho ecumênico suscitado pelo Espírito Santo. Isto nos levou a abandonar os antigos preconceitos, como aqueles sobre Martinho Lutero e sobre a situação da Igreja Católica naquele período.

Para isto contribuiu notavelmente o diálogo entre a Federação Luterana Mundial e o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, realizado a partir de 1967; um diálogo do a ser recordado com gratidão hoje, cinquenta anos mais tarde, também reconhecendo alguns textos particularmente importantes, como a Declaração Comum sobre a Doutrina da Justificação e, por último, o documento “Do conflito à comunhão”.

Com a memória purificada, hoje podemos olhar confiantes para um futuro, não marcado por contrastes e pelos preconceitos do passado; mas um futuro sobre o qual importa somente a dívida do amor recíproco (cfr Rm 13,8); um futuro no qual somos chamados a discernir os dons que provém das diversas tradições confessionais e em acolhê-los como patrimônio comum.

Antes das oposições, das diferenças e das feridas do passado, existe de fato a realidade presente, comum, alicerçada e permanente do nosso Batismo.

Isto nos torna filhos de Deus e irmãos entre nós. Por isto não poderíamos nunca nos permitir ser adversários ou rivais. E se o passado não pode ser mudado, o futuro nos interpela: não podemos subtrair-nos, agora, do buscar e promover uma maior comunhão na caridade e na fé.

Somos chamados também a vigiar, diante da tentação de pararmos ao longo do caminho. Na vida espiritual, como na vida eclesial, quando se está parados, sempre se volta para trás: contentar-se, parar por temor, preguiça, cansaço ou conveniência, enquanto se caminha rumo ao Senhor com os irmãos, é diminuir o seu próprio convite.

E para proceder juntos em direção a Ele, não bastam boas ideias, mas é preciso dar passos concretos e estender a mão.

Isto quer dizer, sobretudo, despender-se na caridade, olhando aos pobres, aos irmãos menores do Senhor (cf. Mt 25,40): são os nossos indicadores preciosos ao longo do caminho.

Nos fará bem tocar as suas feridas com a força curadora da presença de Jesus e com o bálsamos do nosso serviço.

Com este estilo simples, exemplar e radical, somos chamados, particularmente hoje, a anunciar o Evangelho, prioridade de nosso ser cristãos no mundoA unidade reconciliada entre os cristãos é parte indispensável de tal anúncio: “Como anunciar o Evangelho da reconciliação, sem contemporaneamente se empenhar a agir pela reconciliação dos cristãos?” (Ut unum sint, 98).

No caminho, somos encorajados pelos exemplos daqueles que sofreram pelo nome de Jesus e já estão plenamente reconciliados na vitória pascal. São ainda tantos, nos nossos dias, os que sofrem pelo testemunho de Jesus: o seu heroísmo manso e pacífico é para nós um chamado urgente a uma fraternidade sempre mais real.

Querido irmão, invoco de coração para você todas as bênção de Deus e peço ao Espírito Santo, que une aquilo o que está dividido, de infundir sobre nós a sua sabedoria mansa e corajosa. E a cada um de vocês pelo, por favor, rezem por mim. Obrigado!"

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Marcos Rocha faz discurso firme na COP29 e desafia o mundo a agir pela Amazônia: “Quem pagará para que a floresta fique em pé?”

Marcos Rocha faz discurso firme na COP29 e desafia o mundo a agir pela Amazônia: “Quem pagará para que a floresta fique em pé?”

O Governador de Rondônia, Marcos Rocha, protagonizou um dos momentos mais marcantes da COP29, realizada no Azerbaijão, ao unir palavras e imagens qu

Biolab reforça foco em inovação em participação na CPhI, evento farmacêutico global

Biolab reforça foco em inovação em participação na CPhI, evento farmacêutico global

Ponto de encontro ideal para ações de relacionamento e prospecção de parcerias, além de atualização das tendências do mercado farmacêutico, a CPhI r

Presidente da FIERO recebe visita do embaixador da Áustria no Brasil

Presidente da FIERO recebe visita do embaixador da Áustria no Brasil

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (FIERO), Marcelo Thomé, recebeu na última quarta-feira (22), a visita do embaixador da

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)