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Papa chega a Mianmar em meio a pedidos de que ignore o termo 'rohingyas'



Cristina Cabrejas - Repórter da Agência EFE

O papa Francisco chegou nesta segunda-feira (27) a Mianmar, onde encontrará uma Igreja que lhe recomendou prudência na hora de referir-se à perseguição da minoria muçulmana rohingya e que apoia fortemente à chefe do governo, Aung San Suu Kyi, apesar das críticas internacionais. A informação é da Agência EFE.

Após quase 11 horas de voo, o pontífice chegou ao Aeroporto de Yangun às 13h30 (horário local, 5h de Brasília) onde foi recebido por um delegado de governo.

Durante o voo, o papa se limitou a saudar e agradecer o trabalho que farão os 66 jornalistas que viajam com ele, entre eles a enviada da Agência EFE, e lembrar que talvez "fará muito calor".

Após sua chegada e para descansar da longa viagem, Francisco se transferiu à residência do arcebispo de Yangun, Charles Maung Bo, nomeado cardeal em 2015 pelo próprio papa.

Hoje não está previsto nenhum ato oficial no programa pontifício, mas não se exclui que o papa faça alguma visita surpresa durante a tarde.

Francisco se alojará no arcebispado devido ao fato de que ainda não existe uma nunciatura (embaixada vaticana) em Mianmar, uma vez que as relações entre ambos Estados se iniciaram em maio deste ano, e já hoje poderá abordar com o purpurado birmanês como encontrar um "equilíbrio linguístico" para falar dos rohingyas.

Paradoxalmente foi o papa que em fevereiro deste ano lançou uma chamada à comunidade internacional sobre o drama que estavam vivendo os rohingyas, a minoria muçulmana que vive no oeste de Mianmar, "expulsos, torturados e assassinados pela sua fé", segundo disse durante uma oração do Angelus.

"Vão de um lugar a outro porque não lhes querem. São bons. Não são cristãos. São gente pacífica. São nossos irmãos e irmãs e há anos sofrem, são torturados, assassinados, simplesmente por seguir sua fé muçulmana", declarou.

"Chegam tristes notícias sobre a minoria religiosa dos rohingyas. Expresso a minha solidariedade a eles e pedimos que sejam salvos e haja homens e mulheres de boa vontade que lhes ajudem e lhes deem plenos direitos. Rezemos pelos irmãos rohingyas", reiterou Francisco durante outro Ângelus no último mês de agosto.

No entanto, a igreja de Mianmar decidiu em plenário pedir expressamente ao papa que não pronuncie o termo rohingya.

O porta-voz da Conferência Episcopal de Mianmar (CBNM), Mariano Soe Naing, afirmou em entrevista à agência vaticana Asianews que a relação com os concidadãos budistas "é muito boa, não existem hostilidades. Os problemas poderiam surgir se o santo padre utilizasse o termo rohingya. Isto daria pretexto aos extremistas para criar tensões".

Segundo a Asianews, a maioria da população, que professa o budismo, critica duramente o pedido do papa para que se orasse pelo reconhecimento dos direitos desta minoria muçulmana, à qual acusam de favorecer as infiltrações de islamitas no país.

O bispo de Bhamo e ex-diretor da Cáritas Mianmar, Raymond Sumlut Gam, também disse a esta agência que "afirmar que os rohingyas são perseguidos poderia gerar graves tensões".

Francisco viajará amanhã à capital, Naipyidó, para se reunir com o presidente do país, Htin Kyan, e a chefe de fato do governo birmanês, Aung San Suu Kyi, que recebeu várias críticas da comunidade internacional pelo seu comportamento com o grupo, a última do governo dos Estados Unidos que considerou que está havendo "uma limpeza étnica".

A Igreja católica birmanesa, com 16 bispos, e sobretudo o cardeal Bo, se mostrou nestes últimos meses sempre ao lado da vencedora do Nobel da Paz, lembrando seu "compromisso a favor da democracia" e "os sacrifícios pessoais que atravessou durante a ditadura militar".

O cardeal Bo foi um dos mais ferrenhos defensores da líder birmanesa ao considerá-la a única que pode levar a paz ao país.

O mesmo cardeal respondeu às críticas à "Dama", como é chamada no seu país, argumentando que "atribuir-lhe a culpa de tudo e estigmatizar sua resposta (sobre os rohingyas) é realmente contraproducente".

O cardeal também aconselhou a Francisco que se reunisse com o chefe do Exército, Min Aung Hlaing, o principal responsável de ter lançado uma ofensiva contra os rohingyas e a quem receberá no dia 30 de novembro no arcebispado.

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