Segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017 - 06h09
Papa Francisco durante a conferência sobre a água na Casina Pio IV - ANSA
O Papa Francisco participou na tarde de sexta-feira (24/02), na Casina Pio IV, no Vaticano, do encontro sobre o direito à agua, promovido pela Pontifícia Academia das Ciências. Especialistas na área vieram do mundo inteiro para debater o tema inspirado, inclusive, em passagens da Encíclica Laudato si.
No seu discurso, o Papa Francisco começou saudando os participantes que se propuseram a enfrentar “a problemática do direito humano à água e a exigência de políticas públicas” no sector, para dar uma resposta à essa necessidade que vive o homem de hoje.
Em seguida, Francisco usou uma passagem do Livro do Génesis para tratar a questão de maneira fundamental e urgente: “a água está no princípio de todas as coisas”, fonte de vida e de fecundidade.
“Fundamental porque onde tem água, tem vida, e assim a sociedade pode nascer e progredir. E é urgente porque a nossa casa comum tem necessidade de protecção e, também, que se compreenda que nem toda a água é vida: somente a água segura e de qualidade. Toda pessoa tem o direito ao acesso à água potável e segura; é um direito humano essencial e uma das questões cruciais no mundo actual. É triste ver quando, numa legislação de um país ou de um grupo de países, não se considera a água como um direito humano. É ainda mais triste quando se apaga aquilo que era escrito ali e se nega esse direito humano.”
O Papa Francisco novamente enfatizou que é um problema que diz respeito a todos nós, pois faz parte da nossa casa comum, aquela que “suporta tanta miséria e exige soluções efectivas, realmente capazes de superar os egoísmos que impedem a actuação desse direito vital para todos os seres humanos”. É necessário atribuir à água, acrescentou o Pontífice, “a centralidade que merece no âmbito das políticas públicas”.
“O nosso direito à água é também um dever com a água. Do direito que temos à ela vem a obrigação que é ligada à ela, e não se pode separar. É imprescindível anunciar esse direito humano essencial e defendê-lo, como se está fazendo, mas também agir de maneira concreta, assegurando um empenho político e jurídico com a água. Nesse sentido, cada Estado é chamado a concretizar, também com instrumentos jurídicos, o que vem indicado nas resoluções aprovadas pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2010, sobre o direito humano à água potável e à higiene.”
O Papa continuou o seu discurso, sublinhando como “o direito à água é determinante para a sobrevivência das pessoas”, e como decide o futuro da humanidade. Por isso, continuou, é uma prioridade também “educar as próximas gerações sobre a gravidade dessa realidade”.
“A formação da consciência é uma tarefa difícil, requer convicção e dedicação. E eu me pergunto se, em meio a esta terceira guerra mundial em pedaços que estamos vivendo, não estamos caminhando em direcção à grande guerra mundial pela água.”
Francisco citou dados “graves” das Nações Unidas que não podem nos deixar indiferentes e devem ser parados: “mil crianças morrem todos os dias por causa de doenças ligadas à água e milhões de pessoas consomem água contaminada”. “Ainda não é tarde”, disse o Papa, “mas é urgente estarmos cientes da necessidade da água e do seu valor essencial para o bem da humanidade”. O Pontífice também abordou o tema, do respeito à água, como “condição para o exercício dos outros direitos humanos”.
“Se respeitarmos esse direito como fundamental, estaremos a colocar as bases para proteger os outros direitos. Mas se violarmos esse direito essencial, como poderemos vigiar os outros e lutar por eles! Nesse empenho de dar à água o lugar justo é necessária uma cultura do cuidado, parece uma coisa poética. A criação é uma poiesis, essa cultura do cuidado que é criativa. E também favorecer a cultura do encontro, em que se unem numa causa comum todas as forças necessárias de cientistas e empreendedores, governantes e políticos. Isso é poesia, como a criação. Precisamos unir todas as nossas vozes numa mesma causa. Não serão tantas vozes individuais e isoladas, mas o grito do irmão que protesta por nós, é o grito da terra que pede o respeito e o compartilhamento responsável de um bem, que é de todos. Nessa cultura do encontro, é imprescindível a acção de cada Estado para garantir o acesso universal à água segura e de qualidade.”
O Papa Francisco finalizou exortando o olhar de Deus Criador nesse trabalho, mas sublinhou que “o trabalho é nosso, a responsabilidade é nossa”. Uma acção prioritária para que “as pessoas possam viver”, um ideal pelo qual “vale a pena lutar e trabalhar. Com o nosso ‘pouco’”, disse Francisco, “contribuiremos para que a nossa casa comum seja mais habitável e mais solidária”. (BS/AC)
Fonte: rádio Vaticano
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