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Programa brasileiro estimula produção rural familiar na Africa


Ana Cristina Campos e Michèlle Canes - Repórteres da Agência Brasil

Referência mundial em tecnologia dedicada à agricultura familiar, o Brasil incrementou, em 2015,  o programa criado com o objetivo de fortalecer a produção agrícola em países da África, da América Latina e do Caribe, com o foco no combate à fome. O Mais Alimentos Internacional, uma versão do programa nacional que estimula a produção rural familiar, oferece financiamento aos países e ainda permite a troca de conhecimento técnico.

No início deste ano, Moçambique recebeu 513 tratores e o Senegal, 175, por meio do programa. No ano passado, o Zimbábue adquiriu 320 unidades, com os recursos advindos do crédito do Mais Alimentos. Além do aspecto social, economicamente o programa tem impacto positivo no estímulo à exportação brasileira de máquinas.

Na avaliação de João Carlos Marchesan, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), entidade que intermedia a parceria, o programa tem grande alcance social e econômico. “Além de gerarmos divisas, estamos gerando empregos no Brasil e fazendo com que as indústrias possam continuar desenvolvendo e pesquisando produtos para o Mais Alimentos. Além disso, o programa leva recursos e condições para que países pobres e subdesenvolvidos possam produzir alimentos”, avaliou.

Coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, o programa hoje está presente em Moçambique, Gana, Quênia, Zimbábue, Senegal e Cuba, segundo o diretor do Mais Alimentos, Lucas Ramalho. “O programa busca oferecer um crédito barato para países adquirirem máquinas e implementos agrícolas produzidos no Brasil. Hoje, o Brasil é referência mundial em tecnologia adequada para agricultura familiar”.

O Mais Alimentos África nasceu em 2010 durante o Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural. “Naquela ocasião ficou definido que seria criado um programa de estímulo à exportação das nossas máquinas para a África principalmente com o intuito de aumentar a produção de alimentos daquele continente, que passa por sérias restrições em vários países. A chegada desses maquinários e dessa tecnologia foi muito bem recebida”, conta Ramalho.

Os equipamentos são comprados pelo governo dos países parceiros, e cada um tem uma maneira de disponibilizar o material aos agricultores familiares. Ramalho conta que relatos vindos dos países onde o maquinário já está em funcionamento indicam a satisfação dos agricultores locais. “A gente recebe relatos que as máquinas já estão em operação nos países, que os agricultores estão muito satisfeitos com a tecnologia recebida e com a melhoria da qualidade de vida porque torna a vida no campo mais fácil.”

O vice-presidente da Abimaq destaca o impacto que o programa gerou em Moçambique, por exemplo, que, antes, só tinha 100 tratores para a agricultura. “Com a exportação, foram mais de 500 tratores além dos implementos para Moçambique. Os técnicos brasileiros vão ao país capacitar o agricultor e dar assistência para que faça bom uso do produto”.

Os países participantes têm até 15 anos para pagar o empréstimo com juros de 2% ao ano. Além de adquirir as máquinas, Ramalho destaca outra vantagem da relação que é firmada entre os países, como a do comprador ter a oportunidade de aprender sobre políticas públicas desenvolvidas no Brasil na área da agricultura familiar.

E o Brasil também ganha. “Os países compram as máquinas produzidas no Brasil. Isso gera emprego, gera renda, aumenta a produção no nosso país”, diz Ramalho. Marchesan completa: “Quando [o Brasil] manda esses produtos e nossos técnicos vão lá treinar e demonstrar, estamos fixando o produto brasileiro nesses países, exportando nossa tecnologia. Isso é importante porque os fabricantes brasileiros concorrem na África com a China, Índia e Turquia, que são países de baixo custo e com incentivo muito grande à exportação”, observa.

Ramalho destaca que outros países têm procurado o Brasil para firmar parcerias internacionais como a Guiné Bissau, Guiné Equatorial, o Sudão e a Colômbia, por exemplo. Para ele, a política traz outras vantagens para a exportação brasileira. “A gente exporta muita matéria-prima barata. Com um programa como esse, a gente contribui para que a nossa pauta de produtos mude, agregando tecnologia, bens industrializados. É um programa bastante interessante para a nossa própria soberania enquanto país mais avançado, um país com uma pauta de exportação mais interessante”.

O Mais Alimentos também incentiva a agricultura familiar no Brasil. A diferença da versão nacional para a internacional é que, em vez de um país ter o direito ao crédito, aqui, o próprio agricultor recebe o financiamento. “O objetivo primordial é dotar a nossa agricultura familiar de melhores condições de produção, com maiores capacidades de investimento, de modernização da sua propriedade”.

O representante da Abimaq informou que todas as empresas brasileiras cadastradas no Programa Mais Alimentos Brasil estão aptas a participar do programa internacional. Para Marchesan, o desafio do Mais Alimentos Internacional é a continuidade dos recursos para manutenção do programa. “O único risco que vejo hoje [ao programa] são os cortes que estão tendo no Orçamento da União, que a gente possa vir a ser prejudicado. O grande desafio é ter essa definição dos recursos”.

Sensível à questão, o diretor do programa lembra que o Brasil está passando por ajustes em um período de crise econômica mundial e que o programa não está imune. Mas, para Ramalho, o Mais Alimentos pode ajudar a preservar o setor industrial. “O debate que temos feito internamente é o de, nesse momento de desafio econômico, a gente conseguir preservar a nossa indústria nacional e manter a produção de forma a passar por esse momento difícil, economicamente falando em nível mundial, da melhor forma possível. Então, preservando empregos, garantindo renda dos trabalhadores e conseguindo exportar o máximo possível a nossa produção. Nesse sentido o programa contribui para esse processo”.

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