Domingo, 8 de julho de 2007 - 10h11
Brasília - Pesquisadores e representantes da Agência Nacional de Águas (ANA) estiveram reunidos recentemente para debater mudanças climáticas e impactos sobre os recursos hídricos do Brasil. Entre eles, uma voz dissonante afirmava que a Terra não está esquentando, que o gás carbônico não aquece o planeta e que o homem não é o principal responsável pela emissão de gases poluentes, contrariando as principais conclusões do quarto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês), divulgado este ano.
Professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Molion é dono de um currículo que inclui formação em física pela Universidade de São Paulo (USP), doutorado em meteorologia pela Universidade de Wisconsin (EUA) e pós-doutorado em Hidrologia de Florestas pelo Instituto de Hidrologia (Inglaterra), além de uma passagem de 25 anos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), onde foi diretor. Mas isso não intimida outros especialistas ouvidos pela Agência Brasil, que discordam firmemente de suas contestações.
Sobre a temperatura, Molion alega que o planeta passa por fases alternantes provocadas por fenômenos naturais: aquecimento entre 1925 e 1946, resfriamento entre 1947 e 1976, novo aquecimento de 1977 a 1998 e, no momento, um resfriamento que ainda não terminou. "Minha previsão é de que nesses próximos 15 anos vai haver um resfriamento, porque o Sol está entrando em um período de menor produção de energia". Para ele, o planeta deve esfriar em torno de 0,1 a 0,2 graus em média.
O pesquisador aponta que a superfície terrestre passa atualmente por um período interglacial - entre dois períodos em que fica coberta de gelo. Lembra que houve quatro períodos anteriores como esse e as temperaturas eram mais elevadas com níveis de gás carbônico menores. "Isso é sinal de que o gás carbônico não é responsável pelo aumento de temperatura. Muito pelo contrário: o que se percebe é que há um aumento da temperatura primeiro e, depois, a concentração de gás carbônico vai atrás".
Molion defende ainda que a quantidade de gás carbônico emitida pelo homem é três vezes menor que a de fluxos naturais da fotossíntese em florestas, oceanos e solos.
O IPCC divulgou relatórios este ano que revelam que a maior parte do aquecimento dos últimos 50 anos se deve aos gases de efeito estufa produzidos por atividades humanas, já que as emissões aumentaram 70% entre 1970 e 2004. Os estudos apontam que 49 bilhões de toneladas de gás carbônico são despejadas na atmosfera por ano.
Os pesquisadores Carlos Nobre e Thelma Krug, ambos membros do Inpe e do IPCC, ficaram inconformados ao ouvir as opiniões de Molion e disseram que não há como contestar a seriedade das conclusões do estudo.
Ela, que é secretária nacional de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental e doutora pela University of Sheffield (Inglaterra), diz ter conhecimento suficiente para afirmar que qualquer questionamento é "infundado".
Nobre, que fez doutorado no Massachussets Institute of Technology (EUA) e pós-doutorado em Maryland (EUA), comentou que o professor não está mais na ativa. No currículo lattes de Molion, consta a publicação de três artigos em periódicos no ano passado e nenhum neste ano; nenhum texto em jornal ou revista desde 2003; e dois trabalhos completos em anais de congressos neste ano.
O relatório do IPCC aponta que a Terra vai se tornar mais quente até o ano de 2100, o que significa aumento do nível do mar e catástrofes naturais mais intensas. Pelas projeções dos 2.500 cientistas que participaram do estudo, o aumento será de 1,8 a 4 graus. Apesar de os índices de gases de efeito estufa e aerosóis terem se mantido estáveis nos últimos anos, a concentração desses gases deve causar aquecimento de 0,1 grau por década nos próximos 20 anos. Nos países do Hemisfério Norte, o aquecimento será mais intenso. As principais causas são as emissões e o aumento da concentração de gases poluentes, principalmente por causa do uso de combustíveis fósseis, como o petróleo.
Monique Maia e Julio Cruz Neto
Da Agência Brasil
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