Voto útil leva Ségolène Royal ao segundo turno contra Sarkozy na França

Agência O Globo CREVRY (França) - O acanhado birô de voto de Crevry parecia escondido atrás do prédio mal cuidado dos Correios e ao lado da linha de ferro que há muito tempo deixou de trazer o trem para esse vilarejo distante de Paris e perto de Genebra, na Suíça. Mas os eleitores chegavam a toda hora. Dos 633 inscritos no vilarejo, 40% já tinham votado até as 11h. Fato jamais visto, admirava-se o mesário Antoine, com um enorme sorriso. Fazia sol e isso parece ter empurrado os eleitores a sair de casa, correr para votar, e correr ainda mais, abusando da buzina, para aproveitar o bom tempo. Nesse vilarejo onde quase todo mundo trabalha em alguma cidade maior nas redondezas, já havia indicações desde cedo do que seria confirmado nacionalmente. De um lado, o " voto útil " levou a candidata socialista Ségolène Royal ao segundo turno da eleição presidencial na França, para afrontar o candidato de direita Nicolas Sarkozy no dia 6 de maio. De outro, o país registrou a maior participação dos últimos tempos. A taxa de participação foi de 85%, dos 44,5 milhões de eleitores inscritos. " Eu queria votar nos socialistas, mas Ségolène é tão confusa que hesitei até o ultimo momento. No fim, achei mesmo melhor votar nela " , resumiu uma resignada Pia, secretária de 28 anos. O choque de cinco anos atrás, quando o socialista Leonel Jospin perdeu a chance de ir ao segundo turno para o extrema-direita Le Pen estava na cabeça de todos, inclusive aqui " no fim do mundo da França " , como dizia Jean-Paul, que mora na região. Marie Therese, uma elegante senhora que trabalha em Genebra, levantou as mãos para o céu e disse rezar por Sarkozy por uma razão clara. " Ele prometeu não aumentar os impostos. Já os socialistas vão. É preciso declarar imposto na França para se saber o peso deles. Tem imposto de solidariedade, tanta coisa. " Em Perón, no Departamento de Ain, as opiniões se dividem entre Sarkozy, Ségolène e o candidato do centro François Bayrou. Os franceses que habitam perto de Genebra souberam a estimativa de boca de urna meia-hora antes do resto da França. A televisão suíça antecipou o resultado, mostrando os 30% de Sarkozy e a evidente vitória de Ségolène Royal, ao conseguir chegar ao segundo turno. Apesar de derrotado pela terceira vez no primeiro turno, Bayrou conseguiu triplicar sua percentagem para 18% e implantou de vez o centro na vida política francesa. Ele será certamente a balança no segundo turno. Os dois candidatos já tentavam adaptar seus discursos para agradar ao centro. Em Ferney Voltaire, cidade francesa onde reside bom número de funcionários internacionais de Genebra, os bares tinham a televisão ligada a toda altura, mostrando um a um os candidatos de esquerda, derrotados, manifestando seu apoio a Ségolène para o segundo turno, algo que não acontecia há muito tempo. Os pequenos candidatos de direita diziam que iam ainda pensar o que fazer. Laurent, um francês aposentado, não é socialista, mas julga ter identificado a tática da esquerda: transformar o segundo turno em um referendo contra Sarkozy. Em vez de discutir os dois programas, o enfoque será martelar o " perigo " que representa Sarkozy, com seu discurso duro, que leva ao confronto, em vez de compromisso para as reformas. Uma nova campanha começa. Os eleitores de Crevry esperam pelo menos bom tempo, para de novo sair de casa. (Assis Moreira | Valor Econômico)

Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

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