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A CURTA VISÃO E O TRATO RASTEIRO


 A CURTA VISÃO E O TRATO RASTEIRO - Gente de Opinião

Por: Altair Santos (Tatá)

Não se destitui a preço qualquer as pertinências do papel do legislativo municipal em investigar a coisa pública quando se trata de investimentos e serviços à população, quer seja educação, saúde, obras estruturais, cultura, esporte, etc. Se Alceu Valença e Cidade Negra foram caros ou baratos que se verifique e “ponto”. Porém na celeuma de CPI pra cá e pra lá, o que se vê reluzir pelos vitrais ofuscantes é uma mistura antiga, manjada e mal temperada de imputar aleijadas considerações pra cima da cultura com alguns querendo se promover tirando lascas, sem sequer se aterem aos efeitos da sua causa, importância e valores ao interesse social, em detrimento de mazelas existentes e vividas na cidade.

A multidisciplinar estrutura de governo de um município, estado e da união, são organismos criados pra darem conta justamente dos programas, projetos, pleitos e clamores de cada área, o que nem sempre é fácil, possível.

Ao sinal primeiro de se investir nisso ou aquilo demandado pela esfera cultural, as curtas visões e as tratativas rasteiras com as afiadas lâminas das podas empunhadas, alardeiam não se poder fazer carnaval, promover show musical ou espetáculo teatral porque o rio encheu e alagou, a rua tem buraco, falta iluminação, não tem placa de sinalização, acabou o remédio... Saiamos disso, isso é atraso, é como diz o poema Canteiros, de Cecília Meirelles, musicado por Raimundo Fagner “deixemos de coisa e cuidemos da vida, pois senão chega a morte ou coisa parecida e nos arrasta moço sem ter visto a vida...” Pra piorar, os vesgos de mentes farpadas, se alimentam de doentias considerações de que “esse dinheiro” (seja qual for o valor) tem que ser revertido pra educação, pra saúde, obras, etc.

Ora, primariamente falando esses setores todos são aquinhoados na obediência e na força legal das tratativas e legislações orçamentárias, com montantes infinitamente superiores ao que se destina para o setor cultural justo porque, nessa cadeia, cultura é um dos últimos - senão o último setor - a ser contemplado com singelos percentuais na mesa e hora da partilha.

Assim como não alimentamos que recurso da saúde pague programas culturais, no mesmo diapasão defendemos que recurso da cultura é pra ser “investido” em cultura. Se apenas construíssemos prédios, escolas, postos de saúde e derramássemos asfalto pra tudo que é lado, estaríamos sim fazendo “uma parte do dever”. Se, contudo, nada de cultural operássemos, seríamos da mesma forma os animadores de uma sociedade molestada, torta, com cidadãos e cidadãs no papel de mórbidos transeuntes em asfalto e calçadas retinhas e ladrilhadas, satisfeitos e apaziguados iluminados por lâmpadas de mercúrio, porém uma escancarada, deseducada e fétida bocarra banguela, sem o frescor do riso cativante da cultura que, na contramão de que falam muitos deformadores ela (a cultura) educa, forma e informa!

Nunca foi, não é e nunca será almofadado e tranquilamente perfumado o caminho da concepção, da produção, da gestão e da defesa cultural. Aqui também se vive a dura realidade das carências, inclusive de forças ou expressões parlamentares que se apropriem da defesa intransigente dos ricos enunciados da cultura. O tecido parlamentar de um município, estado ou país exibe várias estampas representativas como religiosos, redes de comunicação, educadores, ruralistas, sindicatos de classe, dentre outros. Cultura nesses espaços de poder parece ser um tema que arde na carona das últimas carroças, tipo a borra das causas.

Há quem – por desinteresse, não entender ou saber - chame cultura de festa (ela também a é!) Outros mais dizem “vamos ajudar a cultura, a brincadeira do pessoal” (ela também a é!) Rica, multifacetada e ampla, a cultura se permite , ser a festa, ser a brincadeira, mas, antes de tudo, é um sagrado elemento de expressão humana, de enlace entre pessoas de distintas classes e diferentes nacionalidades, modos e costumes, por uma vida simplesmente digna e cidadã. Quem nega a cultura, nega a vida, a cidadania, a consecução histórica!

Por aqui, já passa da hora de se vê e se ter, uma constituída e compromissada manifestação parlamentar embocando a tuba da defesa política e soprando pela re-significação do status da cultura, elevando-a para a insistente e perseguida condição de política de estado.

Não vimos a banda Cidade Negra, mas fomos ver o premiado da Música Popular Brasileira, o Bicho Maluco Beleza do Alceu Valença, pernambucano de São Bento do Una, esse serelepe da cultura popular e suas peripécias, do alto da sua juventude de 65 anos, despejando com o seu temático Show Forró Lunar, o aroma de parte da obra de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. A organização acertou na escolha, a cidade – pra seu povo - merece sim receber bons shows e, ademais, sobre supostos problemas, os promotores estão aí pra elidir dúvidas, se for o caso e, de certo, o farão!

tatadeportovelho@gmail.com

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