Domingo, 14 de agosto de 2011 - 10h31
Por Carlos Chagas
Começou com Fernando Collor no palácio do Planalto, mas a grande distorção aconteceu nos oito anos de Fernando Henrique e foi continuada no governo Lula.
A pretexto de diminuir o tamanho do estado, ou imaginando reduzir despesas, os governos neoliberais começaram a contratar empresas privadas para fazer o trabalho que sempre coube ao poder público. Foi a chamada terceirização.
Nos ministérios, nos tribunais, na administração direta, até na presidência da República, no Congresso, nos governos estaduais e nas prefeituras, a moda pegou.
Não se contrataram mais funcionários, individualmente, senão empresas, por coincidência a maior parte delas cujos donos eram amigos, parentes, interessados, ex-funcionários e gente ligada aos governos, mesmo sem experiência. No máximo, aconteceu a troca de tucanos por companheiros. Ou companheiros que eram tucanos mudaram rápido, por interesse financeiro.
Para fazer serviços de segurança, de limpeza, de alimentação, de distribuição de eletricidade, de água, telefones, computadores, merenda escolar e, mais ainda, serviços de publicidade, propaganda, promoção pessoal, pesquisas e até jornalísticos, de comunicação.
O poder público “terceirizou”, quer dizer, entregou a tarefa a empresas privadas, celebrando com seus proprietários contratos multimilionários, e com uma característica: os trabalhadores, os empregados, eram e são contratados a preços vis, na maioria dos casos ficam meses sem receber, sob o pretexto de que as verbas não foram liberadas. Foram, mas para os donos.
O pior dessa história é que mesmo agora, em plena crise econômica, tudo continua igual. Com raras exceções, os donos dessas empresas locupletam-se e os empregados comem o pão que o diabo amassou.
TRIBUNAL PARA CRIMES ECONÔMICOS
Funciona na Holanda um tribunal internacional para julgar crimes contra a Humanidade. De quando em quando ouve-se que um ex-ditador foi condenado, houve até um que cumpriu pena, acusado de genocídio na antiga Iugoslávia.
Por que não viabilizar um tribunal internacional para julgar crimes econômicos? A idéia foi proposta décadas atrás pelo então senador Marcos Freire, num seminário em Canelas, Rio Grande do Sul, sobre o “Diálogo Norte-Sul”, promovido pelo governo da Alemanha. Até Fernando Henrique, então apenas sociólogo, estava presente.
O mundo vive uma de suas piores crises econômicas dos tempos modernos. Recessão, estagnação, crescimento negativo, falências aos montes e, acima de tudo, desemprego em massa. Como essas coisas não acontecem por coincidência, fica evidente a existência de responsáveis. De culpados. Parece fácil identificá-los, como acontece nos Estados Unidos. São os especuladores, os banqueiros que jogaram com o crédito, os dirigentes de grandes empresas ávidos de locupletar-se em seus falsos lucros.
Aqui no Brasil é a mesma coisa. A crise nos pegou de jeito, conforme números divulgados há muito, mas explodindo esta semana. Serão os culpados apenas os estrangeiros? Nem pensar. Aí estão os bandidos do colarinho branco, que todo mundo conhece.
Não seria o caso, ao menos enquanto o tribunal internacional não é criado, de o Congresso aprovar um tribunal nacional? O diabo é quando os processos chegarem à fase da identificação dos colaboradores, co-réus, incrustados na máquina pública...
MINAS E A AVENIDA PAULISTA
Estrilou o governador Aécio Neves, sustentando que a partir da Avenida Paulista não se constroem candidatos presidenciais. Falou diretamente contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, hoje defensor da sagração imediata de José Serra como candidato tucano, sem prévias nem pré-campanhas. Uma estocada para ninguém botar defeito.
O singular nessa história é que a Avenida Paulista não prepara apenas candidatos à presidência da República. Agora mesmo está sendo colocado o nome do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, para governador do estado. Pode até constituir-se numa boa opção, capaz de reduzir impostos e de desonerar as empresas. Passando de estilingue a vidraça, porém, precisará estender sua vista até a periferia e o interior.
QUEM SABE UMA MULHER RESOLVERÁ?
Nestes dias em que tanto se fala da necessidade de mulheres assumirem o poder político, até a presidência da República, os elogios vão para o presidente da Câmara e até ontem presidente do PMDB, Michel Temer. Mesmo sem renunciar, ele licenciou-se da direção do partido, entregando a presidência à deputada Íris Araújo, primeira vice-presidente. Parlamentar por Goiás, experiente mas até agora sem maiores oportunidades, tem tudo para surpreender. Não precisará rezar pela cartilha do senador Jarbas Vasconcelos, mas disporá de condições para dar uma balançada no PMDB, até mesmo no diálogo com o presidente Lula. Afinal, os seis ministros que o partido possui serão, sob certo aspecto, seus representantes no governo. Precisarão prestar vassalagem à nova presidente.
Aliás, dona Íris deve cuidar-se, porque a turma da pesada começou a articular-se para a eleição de um presidente definitivo, coisa que só aconteceria no caso da renúncia de Michel Temer e da convocação de uma convenção extraordinária. Será que o machismo vencerá?
DÚVIDA CRUEL
Ciro Gomes vive dias de dúvida. Seus amigos e correligionários encontram-se à espera da definição fundamental, sobre ser ou não ser candidato á sucessão do ano que vem. Tentam convencê-lo de que entre Dilma Rousseff e José Serra existe amplo espaço para sua candidatura, mas desde que inicie logo a campanha. Sabe que não terá o apoio do presidente Lula, no primeiro turno. Nem dos tucanos. Na hipótese de passar para o segundo turno, porém, estará respaldado pelas forças que tiverem sido derrotadas. E por razão simples: seu perfil aproxima-se do PT se precisar enfrentar o PSDB. E contará com o PSDB caso o adversário venha a ser o PT.
Falta de recursos não será surpresa para Ciro Gomes, nas duas campanhas anteriores foi assim.
(Artigo publicado em março de 2009 – Republicado a pedidos)
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