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A política da bunda


      Dr. Bumbum, Pati Bumbum e tantas bundas cheias de silicone ou de outras bombas – ou mesmo cheias de músculos –, o que isso importa ou revela desse país?

    Quem enche as bundas é uma pergunta. Porque faz isso é outra. E por aí vai. O país está uma caca? Certeza. É de hoje? Certamente que não. As bundas que matam hoje já existiam antes? Sempre.

    Então, por que temos tanto fetiche – masculino e feminino – por bundas? Sinceramente, não sei!

    Mas, sei que é um problema político. Trata-se de política porque, enquanto se enche a bunda de alguma porcaria qualquer que mata, a cabeça está vazia.

    Pelo que vejo nos noticiários oficiais e nas redes sociais, o ditado popular deveria ser alterado: “bunda cheia de silicone é a oficina do diabo”. É machista isso que escrevo? Sim.

    Mas, como tudo neste país, louco para ser descoberto por um psicanalista que use uma droga cavalar, nada é tão simples assim.

    Por que, culturalmente, os homens querem tantas bundas grandes? Por que as mulheres se matam para atendê-los neste desejo letal?

    Se soubesse a resposta estaria milionário.

    Como não sei, me contento em retratar o que me parece ser a política da bunda.

    E o que é a política da bunda?

    É a ausência de preocupação com outra parte do corpo humano que o ser considere relevante.

    Diria que, para mim, o cérebro é mais importante do que a bunda. Porém, sou minoria. Evidentemente.

    Alguns até diriam que essa conversa é brochante. Claro. É preciso explicar por quê?

    Não vou apelar dizendo que o resíduo que sai do cérebro é o desenho da Humanidade – bom e mal. Não é preciso comparar, não é mesmo?

    Em todo caso, não me parece à toa que, nesta fase tão reacionária da política nacional, com o fascismo sentado em cima de todos nós, as bundas ganhem tanta relevância.

    Penso, aliás, que há uma justaposição entre o fascismo e as bundas. Para ser gentil, diria que se o cérebro nos traz inquietação (boa e má), a bunda ajuda a relaxar – quando sentada.

    Se é chato pensar, usar o cérebro para um esforço maior – que não seja pensar em bundas –, obviamente, pensar em bundas é mais fácil porque descarta uma reflexão mais séria sobre a política.

    Também pode-se dizer que a política está tão ruim, que é melhor, mais agradável, pensar em bundas. Mas, ainda assim, é essa política (boa ou ruim) que ditará quem levará um pé na bunda (ou não).

    Por fim, quero dizer que foi muito fácil escrever isso, mas foi muito triste; especialmente, porque me lembrei que Rubem Braga tratou da Mão e da Luva. E eu aqui nessa flatulência moral do país.

    Também resisti o quanto pude ao simulacro, ao passatempo, aos trocadilhos. Há abundância, mas resisti. Por exemplo, não chamei nenhum fascista de bunda mole.

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