Quarta-feira, 5 de novembro de 2008 - 14h48
A "change" chegou à América! Essas foram as primeiras palavras do 44º presidente eleito dos Estados Unidos. Barack Houssein Obama, 47 anos, protestante, descendente de muçulmanos, nascido em Honolulu, filho de pai queniano e mãe norte-americana, formado em Direito pela Universidade de Harvard, senador pelo Estado de Illinois, tornou-se não apenas o 1º homem negro a ocupar o cargo de "poderoso chefão" da maior potência do planeta, mas também o 1º presidente democrata eleito com expressiva votação e legitimidade desde a retumbante vitória de Lyndon Johnson, na reeleição em 1964.
Se Obama será ou não um bom e racional presidente para os Estados Unidos, só o tempo dirá; a dimensão da "change" cultural que sua eleição provocará nas terras do Tio Sam não devem ser por nós avaliadas, pois, mesmo com as credenciais que a globalização e a internet nos fornecem, não vivemos a realidade norte-americana; o impacto mundial da administração da super potência só ganhará forma, de fato, quando Barack estiver nas atribuições de sua função; a potencialidade de Obama em se tornar um estadista não estará em seu largo e carismático sorriso ou na cor de sua pele, mas em seu poder, robustez e habilidade em promover essa tal "change". Qualquer análise mais profunda é, no momento, pura conjectura.
Em termos de interesses do Brasil e da América Latina, a eleição de Barack Obama soa apenas como a reprise de um filme e o embalo de um trilha sonora que já ouvimos em terras tupiniquins, contrariando assim todas as declarações acaloradas da imprensa brasileira. Essas mesmas citações foram bradadas na noite do dia 27 de outubro de 2002, quando o país parou para assistir a ascensão do sindicalista, ex-metalúrgico e pseudo-representante da classe operária Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. A eleição, tanto de um quanto de outro, sedimentou-se muito mais pela passionalidade de uma prometida "change" e quebra de paradigmas do que por princípios de legalidade, competência, capacidade e experiência. Isso sim é lamentável.
Não acredito que o caráter passional de uma eleição seja um problema em si, afinal, a Política, muito antes de ser ciência, transformou-se em um processo movido à paixão, "para o Bem e para o Mal", como muito bem reflete o Mago Gandalf na obra "O Senhor dos Anéis", de Tolkien. No entanto, a problemática de eleger o supremo representante de uma nação pelos critérios passionais da "change" está justamente na possibilidade de análise de sua gestão em curso: qualquer crítica é vista como sectarismo, racismo, elitismo, pequenez ou o mais puro e famigerado preconceito. É assim com o presidente Lula e seu governo, mesmo diante de escândalos pedestres de corrupção ou de vergonhosos devaneios e desmandos politiqueiros. Com Obama não será diferente.
O que nos é real hoje é o fato de, apesar de seus discursos de campanha, Barack Obama não conhecer a América Latina, ser profundo defensor das esmagadoras práticas protecionistas norte-americanas e não ser, nem de longe, simpático ao desenvolvimento brasileiro, principalmente no que tange ao nosso bem-sucedido programa de biocombustíveis e às potencialidades comerciais (e políticas) da produção petrolífera do sul do continente americano. As decisões de Obama enquanto senador refletem bem suas opiniões. E que ninguém se engane quanto uma hipotética "change" conceitual por conta do cargo: a única coisa que mudou foi o alcance da tinta de seu caneta.
Assim, quando o presidente Lula declarou sua preferência por Obama, estava apenas demonstrando sua falta de compromisso com os interesses da nação, o que não é novidade para ninguém. Apenas mais uma galhofada de quem só consegue ver o presidente eleito dos Estados Unidos como um "neonegro", agora poderoso, que conseguiu romper barreiras e "chegar lá". Lula (e muita gente por aqui) não consegue ou prefere não enxergar a envergadura política de Barack Obama.
O importante é que, caso Obama consiga lograr êxito na realização da prometida "change" nos EUA, todos esses governos populistas, e fundados em demagogia, que estão assolando a América Latina estarão fadados ao degredo. Se o jovem advogado havaiano consagrar-se como um verdadeiro estadista com a mesma ansiedade e dedicação vertiginosas que o levaram à Casa Branca, estaremos muito mais próximos do que imaginamos do fim de Lula, Hugo Chávez, Evo Morales, Christina Kirchner, Rafael Correa e todo atraso continental que representam.
Ah! Essa tal "change"... inspira-nos até a ter fé que ela é possível e a desejar que Barack Houssein Obama seja um bom presidente para os Estados Unidos da América. Ah! Essa tal "change"... está muito mais para "hope" que para "change".
HELDER CALDEIRA
Articulista e Estudante de Direito
heldercadeira@folha.com.br
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