Terça-feira, 30 de julho de 2024 - 15h24
Uma apresentação durante a abertura
das Olimpíadas de Paris 2024, que incluiu uma cena que lembrava "A Última
Ceia" de Leonardo da Vinci, gerou polêmica significativa. A performance
conto com drag queens, uma delas usando um adereço prateado na cabeça que
lembrava um halo, feito à representação icônica de Jesus e seus apóstolos. A
intenção da apresentação era abordar a violência humana de forma satírica e
promover a inclusão, mas ela foi recebida com críticas de diversas comunidades
cristãs e comentaristas conservadores, que a consideraram desrespeitosa e
demonstração
Os críticos argumentaram que a
performance banalizou um evento religioso sagrado, com alguns sentimentos de
que foi uma provocação intencional contra o cristianismo. Essa opinião foi
compartilhada por líderes religiosos e figuras públicas, incluindo bispos
franceses, que condenaram a cena como uma zombaria das esperanças cristãs
Por outro lado, o diretor
artístico da cerimônia, Thomas Jolly, defendeu a apresentação, afirmando que
ela não tinha a intenção de ofender, mas sim de transmitir uma mensagem de amor
e inclusão ( Religião Unplugged ) . Apesar desses objetivos, a controvérsia
ressalta o equilíbrio complexo entre a expressão artística e o respeito pelas
sensibilidades religiosas, além dos desafios de lidar com a diversidade cultural
em eventos globais como as Olimpíadas.
Mas tem um detalhe importante
nisso. Embora reação conservadora de bispos francesas tenham analisado a
apresentação como se fosse a Última Ceia, mais um equivoco se apresenta. O
próprio diretor da cerimônia, Tomas Jolly, em entrevista, disse que a
apresentação, na verdade, mostra o deus Dionísio, seminu, pitado de azul, em
uma mesa de banquete. O diretor disse que, para os que não entenderam, a cena
retrata uma festa pagã ligadas aos deuses do Olimpo e nunca uma zombaria á fés
cristã.
Faço uma pausa aqui, pois ao
trazer um termo novo, contemporâneo, que vem sendo utilizado nesse novo
momento, preciso também tentar retratar o seu contexto, embora sua
interpretação seja amplamente aplicada de maneira diversas em cada situação. Unplugged,
(desconectado), conforme se expressou o
diretor artístico das olimpíadas, se refere a uma abordagem pessoal intima e
desvinculada de formalidades ou estruturas rígidas. Nesse caso específico, acho
que o artista tentou associar a apresentação a uma espiritualidade mais
individualizada, mais focada na conexão direta com o Divino, sem intermediários
ou rituais complexos. Ou seja, cada um sente ou se comunica com a Criação a sua
própria maneira e não por imposições.
A crítica à performance artística
nas Olimpíadas não deve se restringir ao fato de ter sido realizada por drag
queens. É importante ressaltar que, mesmo não sendo uma referência a própria
obra de Leonardo da Vinci esta, por sua vez, também não retrata de maneira
precisa o evento histórico do último jantar de Jesus com seus discípulos. Da
Vinci criou uma interpretação artística desse momento, que se estilizou de uma
representação realista e fiel ao que, na sua mente, teria acontecido. Então, a
Igreja não pode se apoderar dessa arte e querer incutir que ela é a própria
expressão do fato. Isso incluiu uma disposição dos personagens em uma única
linha e uma composição que serviu mais para expressar ideias teológicas e
artísticas do que para fornecer um relato histórico ou fotográfico do evento. Parem
por ai!
Embora a obra de da Vinci traga,
para o leigo, um conceito religioso, nada tem a ver com a obra de Thomas Jolly nas
olimpíada. O que ele mostrou, os cegos culturais não viram, foi trazer Dionísio que aparece à mesa porque
é o Deus do Vinho e pai de Sequana, deusa relacionada ao rio Sena, retratando a
pintura Festa dos Deuses, obra do italiano Gionvanni Bellini, em 1514.
Meu irmão maçom, Willian Sanches, atento aos fatos, lembrou bem disso,
mostrando a pintura.
Não muito distante, mais há
quase 50 anos, dois filmes também causaram grande polemica e chegaram a ser
proibidos de serem exibidos em algumas salas de cinema. Jesus Cristo Superstar
e A Última Tentação Cristo, duas obras que desafiaram a sociedade com uma
abordagem que fugia as regras tradicionais e contrariava a sociedade
conservadora da época. Sem entrar mais profundamente no assunto, recomendo
enquanto continuo esse pensamento.
Portanto, criticar a
performance nas Olimpíadas apenas pela escolha dos artistas, sem considerar a
natureza interpretativa e simbólica da arte em si, revela uma compreensão
limitada da função da arte. A arte, incluindo interpretações modernas, é
frequentemente um meio de explorar temas universais e transcender contextos
históricos e culturais. Assim, uma performance pode ser vista como uma
reinterpretação contemporânea que busca comunicar mensagens relevantes para o
público atual, independentemente dos detalhes específicos da tradição ou da
representação histórica.
Além disso, é fundamental a
preocupação de que o uso de imagens religiosas ou simbólicas em performances
artísticas deve ser abordado com sensibilidade, mas não pode ser censurado
apenas pela presença de elementos que desafiam as normas tradicionais ou
religiosas. A arte tem a capacidade de provocar reflexão, debate e, às vezes,
desconforto, mas isso faz parte do seu papel na sociedade de questionar e
expandir os horizontes culturais.
Na contramão de suas próprias
regras o COI criou uma situação vexatória para o surfista brasileiro João
Chianca, mais conhecido como Chumbinho, e o obrigou a passar por um imprevisto
nas vésperas da estreia nos Jogos Olímpicos. Para participar do torneio, o
atleta customizou o próprio material com a imagem do Cristo Redentor. Contudo,
a iniciativa infringe uma regra do esporte olímpico. De acordo com o artigo 50
do regulamento da competição, "não é permitido nenhum tipo de manifestação
ou propaganda política, religiosa ou racial". Assim, o Comitê Olímpico
notificou o atleta da restrição e Chumbinho precisou trocar as pranchas de
última hora antes de estrear nas Olímpiadas.
A situação envolvendo o
surfista brasileiro impedido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) levanta
questões importantes sobre a consistência das políticas de representação
simbólica nas Olimpíadas. O COI justificou a proibição com base nas regras que
impedem o uso de símbolos religiosos ou políticos para evitar polêmicas e
preservar a neutralidade do evento. No entanto, uma performance artística na
cerimônia de abertura, que incluiu uma representação moderna e provocativa da
"Última Ceia", foi permitida e até mesmo planejada com antecedência
pela organização do evento. Alguma coisa está errada! Ou a organização dos
jogos não se comunica ou não tem controle sobre suas próprias limitações?
Essa discrepância nas decisões
aponta para uma possível aplicação desigual das regras. De um lado, o uso de
uma imagem religiosa como o Cristo Redentor em uma prancha de surf foi
considerado inadequado para o ambiente olímpico, mesmo que não houvesse uma
intenção explícita de provocar. Por outro lado, uma performance que
reinterpretou uma imagem religiosa central para o cristianismo foi autorizada,
mesmo sabendo-se que poderia gerar
A posição do COI, levanta a
questão de “dois pesos, duas medidas” na abordagem da organização olímpica
quanto ao uso de símbolos religiosos. Enquanto o Comitê buscava evitar
polêmicas com o veto às pranchas do surfista, a performance artística passava
sem restrições, revelando uma falta de coerência na aplicação das normas. Isso
destaca a complexidade de lidar com questões de expressão artística, símbolos
religiosos e a neutralidade esperada em eventos globais como as Olimpíadas.
Essa aparente inconsistência pode refletir uma falta de sensibilidade para com
o impacto social e cultural das decisões tomadas, tanto em relação aos atletas
quanto às performances artísticas.
Devemos pois, nesse momento,
de diversidade cultural, religiosa e sexual, ficarmos atentos as posições
radicais que podem transparecer de um conservadorismo ortodoxo, que não se
coaduna com a liberdade de expressão contida na arte ou em qualquer meio de
comunicação. Eu, como maçom, que mantenho valores sociais, mas não dogmáticos,
entendo que, embora o evento das Olimpíadas tenha uma administração
internacional, o Governo Francês se curvou diante das pressões de conservadores
religiosos, ao pedir desculpas pela belíssima apresentação. A frase Liberdade,
Igualdade e Fraternidade, símbolos maiores da maçonaria universal e símbolo
maior da Republica francesa, não pode ser interpretada às conveniências
religiosas.
A Maçonaria tem desempenhado
um papel significativo na história e na cultura da França, influenciando tanto
a política quanto o pensamento social e filosófico do país. Desde sua
introdução no início do século XVIII, a Maçonaria francesa tornou-se um centro
de debates intelectuais e um fórum para a promoção de ideias de liberdade,
então não se pode permitir, mais uma vez que a Igreja, escondidas cada vez mais
nas sobras de suas crenças, possa quere impor seus valores a essa nova
sociedade mais aculturada e pensamento livre. Essa luta não é de hoje. A tensão
entre a Igreja Católica e a Maçonaria tem raízes profundas, refletindo
diferenças fundamentais em suas visões de mundo e abordagens à espiritualidade
e à liberdade de pensamento. A Maçonaria promove a liberdade de consciência, a
busca individual pelo conhecimento e a fraternidade entre seus membros,
independentemente de suas crenças religiosas. Esses valores muitas vezes
contrastam com a estrutura hierárquica e doutrinária da Igreja, que
tradicionalmente exerceu uma grande influência sobre a vida espiritual
A oposição da Igreja à Maçonaria
é historicamente evidente em várias bulas papais publicadas ao longo dos
séculos. A primeira e mais notável foi a bula "In Eminenti Apostolatus
Specula", promulgada pelo Papa Clemente XII em 1738, que condenou a
Maçonaria e proibiu os católicos de se unirem a ela. Esta bula expressava a
preocupação de que a Maçonaria promovesse ensinamentos contrários à fé cristã e
que suas reuniões secretas poderiam representar uma ameaça à autoridade da
Igreja. A notificação foi reiterada em documentos subsequentes, como a bula "Providas
Romanorum" de 1751, do Papa Bento XIV, e a encíclica "Humanum
Genus" de 1884, do Papa Leão XIII. Essas declarações papais
enfatizavam a incompatibilidade percebida entre os princípios maçônicos de
racionalismo, secularismo e relativismo moral, e a doutrina católica
Essas bulas papais tiveram um
impacto significativo, criando um ambiente de desconfiança mútua e, em alguns
casos, perseguição aberta. Os católicos que participavam da Maçonaria eram
frequentemente excomungados ou enfrentavam outras formas de censura e sanção
eclesiástica. A Igreja via a Maçonaria como uma ameaça ao seu monopólio sobre a
verdade espiritual e ao seu papel na sociedade
Essa história de oposição
reflete uma luta mais ampla sobre como a autoridade religiosa e a liberdade
individual devem coexistir. Enquanto a Igreja buscava manter sua influência e
controle sobre a fidelidade, a Maçonaria defendia a liberdade de expressão e a
autonomia individual, valores que se tornavam cada vez mais importantes em uma
sociedade pluralista e diversa. Essa luta continua a ser relevante hoje, à
medida que a sociedade moderna se torna mais secular e a diversidade de
reflexões e práticas espirituais se expande, desafiando as instituições
religiosas tradicionais a se adaptarem ou enfrentarem um declínio na adesão
Não podemos admitir mais que essas pressões continuem a conduzir a humanidade que caminha para um mudo plural, uno, respeitando a forma como qualquer um se identifica com o Divino. Aquilo que não me agrada, me afasta, mas meus valores são pessoais, assim como dever ser de todos.
Rubens Nascimento é
Jornalista, Bel. Direito, Mestre Maçom e ativista do Desenvolvimento.
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