Quarta-feira, 16 de dezembro de 2009 - 11h38
*Arquilau de Paula
A maior desgraça do Brasil, induvidosamente, é a corrupção.
Ocorre que muitos pensam que corrupção é somente “meter a mão” no dinheiro público. Talvez, essa seja a mais danosa e a mais covarde, na medida em que, às escondidas, o corrupto não permite que as vítimas se defendam. Ocorre, por exemplo, quando se rouba o dinheiro da merenda escolar (as crianças roubadas não podem se defender e vão passar fome) ou quando se rouba o dinheiro da saúde (os miseráveis doentes não podem se defender e vão sofrer muito ou até partir para sempre para o Oriente Eterno).
Mas, existem outras formas de corrupção igualmente danosas. Trata-se da corrupção dos costumes e dos valores, que se manifesta de diversas formas; até mesmo através de leis imorais concessivas de privilégios incompatíveis com a República e próprias da Monarquia. Aqui, o corrupto diz: eu estou agindo de acordo com a lei.
Faço essas reflexões natalinas, afastando-me de análise constitucional, fundamentando-me, exclusivamente, nos preceitos religiosos, exatamente por ser Natal. As religiões condenam a corrupção.
Vejamos. A Bíblia condena o corrupto:
Gênesis 6,12)
“Deus olhou para a terra e viu que ela estava corrompida: toda a criatura seguia na terra o caminho da corrupção”.
(Salmos 15,10)
“Porque vós não abandonareis minha alma na habitação dos mortos, nem permitireis que vosso Santo conheça a corrupção”.
O Espiritismo condena, também, a corrupção. Li um pequeno trecho de Kardeck, no qual ele rezava com piedade do corrupto vingador, tratando-o como um espírito doente e suicida. Lembremo-nos de Kardec quando coloca no Evangelho Segundo o Espiritismo: "Com o Espiritismo a dúvida não sendo mais permitida, modifica-se a visão da vida".
Lutero é mais severo com a corrupção. Com base na ética luterana, somos estimulados a reagir com todo rigor e profundidade contra a corrupção, pois deteriora a criação de Deus e a dignidade humana.
O Brasil de hoje clama por reformas, assim como toda a Idade Média estava repleta de movimentos de reformas, que é o desejo de uma sociedade que caminha em direção a um futuro melhor, sem corrupção.
Lutero lutou e, segundo Martin Dreher, “não como mérito diante de Deus, mas como serviço necessário ao mundo e suas instituições”. O professor de Wittenberg era um profeta da penitência, não da penitência monástica. Sua mensagem, sua visão ética não eram distanciadas do mundo. Não pretendia transformar o mundo em um convento, em uma clausura. Destinava-se ao mundo para que ele permanecesse mundo e fosse o que é, a boa criação de Deus.
A crise de honestidade não é novidade no Brasil. Em 1914, Rui Barbosa já afirmava: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto” (Obras Completas, Rui Barbosa. v. 41, t. 3, 1914, p. 86).
*É advogado e mestre em Direito Constitucional.
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