Terça-feira, 13 de maio de 2008 - 18h03
HELDER CALDEIRA
Estudante de Direito
Petrópolis – RJ
A menina Isabella Nardoni, de cinco anos de idade, foi defenestrada pela janela do apartamento de classe média-alta de seu pai, em São Paulo. Todos os sucessivos movimentos dessa barbárie moderna são acompanhados à exaustão pela grande maioria dos brasileiros. O espetáculo seria cultural, se não fosse tão violento. Desde então, no papo de botequim, conversamos sobre as diferenças entre enforcamento e esganadura, discutimos as psicopatias dos envolvidos, questionamos a eficiência de nosso Código Penal e, tal qual sentimos e comportamo-nos como técnicos de nossos times de futebol, escalamos os protagonistas e antagonistas dessa trágica novela urbana.
No entanto, o “reality show” Nardoni é apenas mais um atestado de nossa pequenez, uma prova de que ainda somos incapazes de enxergar com clareza tudo o que acontece a um palmo de nossos olhos, quiçá a sete palmos da superfície, onde não apenas enterramos a menina paulistana, mas também sepultamos nosso senso crítico e nossa capacidade de discernir entre o real e o ilusório, entre o central e o marginal, entre o foco e o confete. Estamos assassinando nossos princípios e, em breve, seremos obrigados a acender uma vela para Deus e outra para o Diabo, tal qual o sertanejo João Grilo, personagem de “O Alto da Compadecida”, célebre obra de Ariano Suassuna. Mas, nesse caso, não haverá compaixão que possa nos salvar.
De um lado, uma multidão em festa no espetáculo criado pela Polícia de São Paulo para cumprir o pedido de prisão preventiva do pai, Alexandre Nardoni, e da madrasta, Anna Carolina Jatobá. Diante das câmeras, ao vivo para todo Brasil, assistimos suspeitos algemados, expostos à antecipada condenação popular e expondo suas intimidades ante o olho da mídia. À luz dos holofotes, alguns clamavam por “Justiça”, outros vociferavam, espumando cólera, chamando-os de “assassinos” e, na multidão, era possível ouvir a torcida organizada, vestidos de Anjo ou Bin Laden, gritar: “salve o Corinthians!”
No outro extremo, telespectadores atentos às lágrimas da moçoila, pertinentemente vertidas no dominical Dia das Mães. Há dor nas palavras dessa jovem, que teve seu sagrado direito amputado por um fétido e cruel assassinato. Mas, também, há um quê de colusão, de conchavo, nessa entrevista de Ana Carolina Oliveira. Quão interessante foi essa exposição para a Promotoria do caso? Quanto essa declaração chorosa influiu e afetou a decisão do desembargador Caio Eduardo Canguçu de Almeida, recolhido em isolamento para julgar o pedido de Habeas Corpus impetrado pelos Advogados de Defesa do casal Nardoni? Há certa verdade nas lágrimas dessa mãe. Mas o que há de acordos, mentiras e omissões?
Nossa crônica ignorância, apologeticamente defendida por nossas “autoridades”, faz-nos crer, com fé inabalável, que somos capazes julgar em meio a suor e lágrimas. Não, não somos. À revelia de uma decisão final da Justiça, não podemos condenar ou absolver ninguém. Estamos diante de uma investigação terceiro-mundista de uma Polícia equipada de forma obsoleta e capaz de cometer erros primários, auto-intitulado-se, em novo equívoco, paradigma do que há de mais moderno e crédulo. Na verdade, continuamos a ser catadores do lixo do primeiro mundo e, por melhor que possam ser esses restos do desenvolvimento, não são o digno consolo que nos querem fazer engolir. Aliás, toda essa superexposição de pseudo-eficiência é, na verdade, o camuflar da reivindicação por melhores salários, maior atenção e mais dedicação dos nossos governantes com a Segurança Pública.
No embalo pujante de nossas mazelas, lobos em pele de cordeiro nos reavivam nossos medos infantis: o terrorismo mais cruel contido nas imagens das antológicas madrastas malvadas; das maçãs envenenadas que, desde Adão e Eva no Paraíso, condenam a inocência despudorada de nossas necessidades vitais; da figura assustadora de Miss Gulch, sempre querendo matar nossos “Totós” e que depois é transformada em Bruxa Má do Oeste pela fértil imaginação da pobre e irritante Dorothy. Não foi por acaso que Anna Carolina Jatobá exibiu-se vestida em uma blusa vermelha com capuz no momento de sua prisão. Mas foi a casualidade que permitiu o registro de Alexandre Nardoni expondo seus dentes enormes na ante-sala do cárcere. Uma caricatura oblíqua de Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau? Mas quem será o vilão e o mocinho nesse incauto e midiático trailer de terror, que tem ainda o pirata caolho e a bonitinha chorosa?
À esmo, esbarramos num conflito histórico sobre o que é a Ética. Absurdamente, a vemos subordinada à formalidades jurídicas e não o contrário. Construímos seus conceitos de forma relativizada e menosprezamos sua importância diária em nossas vidas. Confundimos necessidades com uma obrigatória piedade alheia. Nosso “segredo de liqüidificador” é misturar em uma mesma receita nossos medos e agruras com nossas medíocres e fantásticas dicotomias conceituais. Nos fazemos produtos de um meio cada vez mais díspar e contraditório, uma amálgama de beleza e caos.
Não duvidem da festa com sabor de final de Copa do Mundo que será realizada caso Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá sejam condenados pelo crime, daqui há cinco ou seis anos, por nosso moroso Poder Judiciário, indiferente a real culpabilidade de ambos. Na arena de batalha, estão muito mais do que profissionais de defesa e acusação. Nesse gramado estão em jogo nossos pútridos conceitos e a realidade retardada de um País que não amadurece. E na arquibancada de nossos piores medos, empunhamos a bandeira de nossa dolorosa e deliciosa estupidez.
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