Domingo, 27 de maio de 2007 - 12h52
As reações às operações da Policia Federal pelas autoridades são fortes, injustas e único meio de defesa às evidências cristalinas de envolvimento em corrupção; e são piores do que a própria corrupção. São mais graves porque mostram a falta de ética e ofende a inteligência de todos com justificativas descabidas. As justificativas de uma personagem do programa global Zorra Total ao marido chifrudo são mais convincentes.
Também merece maior credibilidade o marido que vai para debaixo da cama para constatar o que só ele não quer crer. A mulher entra em casa com outro, o marido vê os beijos e aceita a justificativa de que se tratava de respiração boca-a-boca; ele ouve chamá-lo de "mozinho", e ela diz que se referia a ele mesmo; escuta ela gritando, meio sufocada, para colocar aí...aí...aí...; mas o maridão se convence que era para colocar a mão e verificar se a temperatura estava alta, com febre. Assim, são os políticos negando o que nem eles acreditam do que falam.
Na gravação, o assessor do ministro orienta por qual porta a mulher Gautama deve entrar; ela entra com um pacote, sempre chamado "daquele objeto, negócio", sai sem ele, tudo filmado; e nada disso serve como prova. Ainda que presunção seja o quarto item dos meios de prova. Só falta exigirem que confessem o crime. Mesmo assim, vão alegar que foi sob tortura psicológica.
Nem se fale da aceitação das doenças imediatamente após as descobertas. Outro escárnio constante é a justificativa recorrente para não se fazer julgamento prévio; mas pode a absolvição prévia. O presidente da República, o orientador-mor da Polícia Federal, afirma que não precisaria colocar algemas nos seus apanigüados, como se fosse competência dele. O ministro jurista Gilmar Mendes desceu o nível e tentou desmoralizar a Polícia Federal. A credibilidade das decisões de ministros que agem assim está na carta do leitor Múcio Tavares de Oliveira, na Folha de São Paulo de 25 de maio corrente, quando finaliza dizendo: "só falta soltar o dono da Gautama para ficar tudo 'às claras'.'" O presidente Lula deveria colocar em prática sua sugestão para abrir a "caixa-preta" do Poder Judiciário.
Só que ninguém consegue desmoralizar quem tem moral. Antes da última de Renan Calheiros, ele disse que recebe "mimos institucionais" de fim de ano de todo qualquer um. Seria pertinente devolvê-los e se for de empreiteira, qualquer pessoa comum, desconfiaria. Já o ingênuo ministro, não! Inclusive ele acha normal um lobista pagar suas contas, mesmo que cada senador tenha inúmeros assessores. Ah! Estava esquecendo que eram contas particulares!
Mas o importante são as duras medidas tomadas. Contratos são cancelados, obras inacabadas, ponte sobre estradas, túneis aéreos, aeroportos subterrâneos, linha de metrô nos ares, são tudo devidamente explicados. Isso reforça a necessidade de que o Ministério Público deveria ser mais diligente ainda, porque essa negligência das autoridades fere todos os Princípios de Direito Administrativo, e da função essencial da Administração Pública que seria zelar pelo interesse público.
As conversas capturadas só reforçam o que todo mundo já sabe, se fiscalização séria existisse, nenhuma obra pública escaparia da propina, do superfaturamento ou desnecessidade. Todo mundo sabe que a Administração Pública brasileira é um peneira que ninguém se interessa em tapar. O mais estranho é que ninguém uma instituição organizar uma passeata a Brasília, um dia nacional de protesto. Mais que preocupante, causa estranheza a quietude das ONGs, OAB, CUT, CGT, CNBB, UNE, todas instituições muito representativas quantitativamente. Existe uma conivência demasiada de toda a sociedade com a corrupção.
Talvez sejam ações como a Navalha que justifiquem a tentativa permanente de se controlar meios de comunicação, de colocar mordaça no Ministério Público e na Polícia Federal, e que quase todos os processos corram sempre em segredo de justiça. A cobertura da imprensa deixa muito a desejar; sempre com ênfase ao "estado democrático de direito" para um lado muito definido, nunca lembrado quando os do morro têm a cabeça levantada para seus flash.
Talvez seja essa corrupção institucionalizada que justifique posição, como a do presidente da República, de benevolência com as crianças assassinas. Eles Compreendem que muitos desses jovens poderiam ser salvos com o dinheiro que esses bandidos, travestidos de autoridade, empurram para o próprio bolso. Para os esquecidinhos de sempre, cabe lembrar de Nicolau dos Santos Neto, do Juiz Rocha Matos, ministro do Superior Tribunal de Justiça, Leal, e tantos outros.
Fonte: Pedro Cardoso da Costa
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