Quinta-feira, 14 de maio de 2009 - 19h33
Prof. Diogo Tobias Filho*
A semana que passou me reservou dois momentos distintos. Num primeiro momento, ao navegar nos sites, deparei-me com o Professor Pardal e relembrei meus tempos de infância quando lia gibis todos os dias. Este era o nome do cientista do bem que, junto com Lampadinha, criava soluções inteligentes para enfrentar com sucesso a turma do mal, em aventuras mirabolantes nos quadrinhos.
No segundo e infeliz momento, li uma notícia de um nome semelhante: Professor Pascoal, citado no noticiário dos sites rondonienses e que me causou profunda decepção. O que me estarreceu não foi o projeto enviado pelo Governo Cassol, que propunha alterações na Lei 420/2008 e a revogação do artigo 68, conspirando contra educadores que sofrem há 500 anos com os péssimos salários, condições adversas de trabalho e todo tipo de espoliação, sobretudo porque Ivo Cassol já demonstrou que não pretende amarrar a boca do seu saco de maldades enquanto estiver no comando do governo. O título Flagelo da educação conquistado com méritos é dele e ninguém põe as mãos. A minha indignação consiste em ler que um professor universitário é a eminência parda de tamanha indecência contra seus colegas de profissão. É aceitável que o Pascoal Aguiar esteja deslumbrado com os meandros do poder. Ser Secretário-adjunto provavelmente lhe confere uma polpuda remuneração, viagens para encontros importantes, hospedagens em luxuosos hotéis, um contato mais próximo com a elite dirigente da educação no país.
Este lado glamoroso é inconcebível para o professor comum. Se Pascoal pertencesse ao quadro efetivo do Estado, estaria exaurido com 30 aulas semanais; se trabalhasse na periferia das cidades maiores, sofreria com a falta de estrutura ou recursos pedagógicos nas escolas; sem carro próprio ficaria temeroso em tomar o coletivo no fim do expediente, receoso de ser assaltado ao chegar em casa; se morasse em alguma cidade da esburacada 429, sentiria na pele o fardo de viver num lugar de difícil acesso em todos os sentidos. Mas Pascoal sabe que quando a farra da roça acabar ele voltará ao seu emprego federal, bom salário, sala de aula bem mais estruturada e uma aposentadoria confiável, e isso sem precisar andar no buzão, de parada em parada. A pedra que atirou para o alto não cairá sobre sua cabeça.
Quando vejo alguém da mesma profissão armando uma cilada deste naipe, o nosso sentimento é de frustração. Deduzo que nossa classe se assemelha mesmo ao elefante: grande, forte, mas sem nenhum poder de reação. Sequer temos a humildade de agradecer ao SINTERO por estar alerta e evitar um prejuízo ainda maior. Aliás, se não fosse o Sindicato dos educadores, tão odiado por Cassol, o absolutismo típico do século XVIII, seria o regime oficial no atual governo.
Caso o que li seja verdadeiro, lamento que o Professor Pascoal não tenha tido uma ideia melhor. Poderia disfarçadamente, inserir no projeto, algo como incentivo para cursos de mestrado ou doutorado, quem sabe, programar para o estado fornecer computadores portáteis aos professores, ou ainda, algum tipo de bônus para quem se destacasse no processo de ensino-aprendizagem, como fazem outros Estados. A aprovação seria favas contadas, posto que, os deputados não leem os projetos que aprovam. O Professor Pascoal, mesmo que fosse sumariamente demitido, sairia consagrado pelos seus pares.
Ele preferiu o lado inverso. Compactuar com mais um cálice envenenado servido nos escaninhos da Assembléia Legislativa a ponto de assustar a própria base aliada, acompanhar a educação da era Cassol em sua irreversível caminhada rumo à lata de lixo da história e o pior, fazer parte do seleto grupo onde já se encontram Judas, Brutus, Calabar e Joaquim Silvério dos Reis.
*O autor é professor de filosofia em Ji-Paraná/RO digtobfilho@hotmail.com
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