Domingo, 28 de dezembro de 2008 - 09h18
O Rio de Janeiro recebeu neste sábado, 27 de dezembro de 2008, a inacabada e tão questionada obra da Cidade da Música Roberto Marinho, um complexo cultural faraônico, que já consumiu R$ 518 milhões dos cofres públicos municipais (e especula-se que o novo prefeito, Eduardo Paes, ainda terá de desembolsar R$ 80 milhões para concluí-la), encravado no coração da Barra da Tijuca, a Miami carioca. O projeto arquitetônico é do francês Christian de Portzamparc, o mesmo que realizou a Cité de la Musique, em Paris, e de onde surgiu a inspiração para o prefeito-ermitão César Maia, o mais longevo administrador municipal da Cidade Maravilhosa.
A construção da Cidade da Música nasceu da frustração de César Maia em erguer uma “filial” do Museu Guggenhein na Zona Portuária do Rio de Janeiro. O projeto foi vetado e, conhecido por ser um homem “pirracento”, Maia partiu para um novo e suntuoso desafio: construir um dos maiores centros musicais da América Latina. O intento do prefeito foi amplamente criticado durante as campanhas eleitorais que precederam o pleito de outubro. De forma irresponsável e tacanha, os candidatos a prefeito do Rio de Janeiro abriram fogo contra a realização do projeto e mostraram-se absolutamente despreparados para administrar uma das áreas mais sub-julgadas e abandonadas pelos governos: a Cultura.
É lugar comum no Brasil o descaso com a Cultura, seja em âmbito Federal, Estadual ou Municipal. Em geral, a pasta cultural é usada como uma mercadoria de escambo político e fica reservada ao loteamento de cargos promovido pelos governantes. Para se ter uma idéia de como a Cultura é apenas um cabide de empregos públicos para aliados, o prefeito eleito Eduardo Paes já designou sua futura secretária da pasta: a comunista Jandira Feghali. Outrora sua rival no primeiro turno das eleições, Jandira aliou-se a Paes no segundo turno e, por conta de sua “ajuda”, conquistou uma “boquinha” para si e para seu partido, o PCdoB, na nova administração. O que a médica Jandira Feghali entende de Cultura? Essa é a grande pergunta ainda sem respostas e que provavelmente permanecerá assim.
Há muito tempo venho insistindo na tese de que o Rio de Janeiro mergulhou em uma noite melancólica desde que Brasília fora inaugurada e a grande salsicha espremida entre o mar e a montanha perdeu o título de Capital da República. A Cidade da Música Roberto Marinho talvez seja uma tentativa, mesmo que cara demais, de resgatar e fomentar o desenvolvimento cultural do município, que em outros tempos foi (e talvez ainda seja) a grande vitrine nacional. O mesmo aconteceu com o ex-prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, quando iniciou seu governo com a proposta de promover uma “acupuntura” na cidade com a construção de grandes obras, principalmente culturais. Hoje, Curitiba é o que podemos chamar de cidade-pólo nacional, um verdadeiro exemplo a ser seguido e as obras de Lerner são aplaudidas e amplamente visitadas por turistas de todo Mundo.
Não podemos dizer que a gestão de César Maia para a Cultura (ou “as Culturas”, como ele gosta de nomear) foi sensacional. Muito pelo contrário. Mas afirmar que a Cidade da Música é um “elefante-branco” não passa de inveja medíocre de seus adversários. Não sou nem um pouco fã dessa versão ermitão virtual que o prefeito adotou neste seu último mandato. Acredito que a grande maioria dos cariocas gostava mais do César Maia obreiro, peão que ia às ruas, que fiscalizava pessoalmente cada detalhe de seus empreendimentos. Não foi uma boa idéia tentar governar uma cidade como o Rio de Janeiro através de um blog. Mas também não é uma boa idéia questionar a construção de um patrimônio que certamente terá grande importância para as próximas gerações e que atende uma antiga demanda cultural carioca. Se Maia tivesse gastado esse mesmo volume de recursos distribuindo “bolsas-família” ou qualquer outro tipo de assistencialismo barato, certamente sua popularidade estaria em melhores condições. Mas o investimento de que tratamos aqui é infinitamente mais edificante e importante do que muitos gostam de especular.
O dia em que os governantes desse País compreenderem que a Cultura não é um braço da Política e sim o exato contrário, que a Política é um braço da Cultura, talvez os povos consigam observar, criticar e, principalmente, participar de melhor forma. Quantos bilhões escoam mensalmente dos cofres públicos para o bolso de bandidos corruptos? Quanto dinheiro foi parar dentro da cueca de políticos petistas? Quantas obras consumiram fortunas e permanecem inacabadas há décadas por todo Brasil? Se César Maia errou ou acertou, só o tempo dirá. Mas a Cidade da Música é sim muito bem-vinda! Mas o tempo de César acabou. Certamente outros políticos farão uso de seus suntuosos palcos e César já é passado, antes mesmo de sê-lo.
Em seu discurso de inauguração, o prefeito César Maia deu um passo atrás e levou um tombo federal. Fez-me lembrar a famigerada cena do Imperador Pedro II ao chegar ao último grande baile realizado na Ilha Fiscal. Após uma monumental escorregada, logo na entrada, Sua Majestade levantou-se, cambaleante, e disse: “O Imperador escorrega, mas a Monarquia não cai!”. Seis dias depois estava proclamada a República. Será mesmo o fim de César? Ave César! Avestruz...
HELDER CALDEIRA
Articulista Político
heldercaldeira@estadao.com.br
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