Segunda-feira, 24 de novembro de 2008 - 20h22
Enterram-se os velhos conceitos. Nascem novas interpretações e propostas para um segmento populacional que passa a receber maior atenção da sociedade e dos governos: os idosos. Concomitantemente o setor privado fabula maneiras de expandir o mercado, os organismos não-governamentais elaboram projetos que visam à melhora da qualidade de vida, e as políticas públicas dedicam-se a promover a inserção. A atenção na terceira idade tem aumentado.
O termo “terceira idade” é um eufemismo da sucessão de fases: infância, maturidade e logo terceira idade na tentativa de atenuar a impressão de haver chegado ao envelhecimento, senilidade ou velhice. As empresas têm-se preocupado crescentemente em diversificar os produtos e os serviços para este segmento populacional: sítios na rede que provêem serviços específicos, acessórios e equipamentos de uso doméstico, e até conjuntos habitacionais elaborados para facilitar a vida dos idosos são exemplos do que tem surgido.
O segmento populacional sobre que escrevo, no entanto, tem uma importância que vai muito além de atender a uma oferta como consumidor, pois seus representantes acumulam e recontam experiências proveitosas de vida para as gerações seguintes, são fonte de conhecimento histórico e das tradições regionais e nacionais, têm capacidade e disponibilidade de educar e zelar pelos familiares, percorrem longos períodos de desenvolvimento humano.
Encontrei na rede mundial de informação uma quantidade enorme de projetos interessantes para a terceira idade, sobretudo no âmbito dos governos municipais e de organismos não-governamentais. Entre outros que também merecem ser citados, estão os que facilitam o atendimento bancário com filas especiais ou encaminhamento pessoal, a criação de oficinas dedicadas ao segmento, como de cerâmica, pintura, idioma e música.
Destaco também projetos que incentivam a prática de atividades físicas, dança, lazer, assistência médica (fisioterapeutas e geriatras), descontos nas tarifas de transporte público e interestadual, estímulo à obtenção de cães e outros animais para servirem como companhia; além da promoção de eventos como caminhadas, bailes, semana do idoso.
Quase todos estes projetos tratam de propor novas formas de garantir a autonomia dos idosos e melhorar a qualidade de vida. A primeira garantia refere-se à manutenção da independência deles no dia-a-dia, ou seja, para que possam viver sem o amparo obrigatório de outrem; a segunda, a um ambiente ou forma de vida que lhes dê a sensação de não terem envelhecidos.
Aumenta o número de centros comunitários ou clubes onde grupos de terceira idade se reúnem para conhecer novas pessoas, conversar, contar piadas, jogar cartas ou bingo, rezar, trocar e vender bugigangas. Estas são atividades saudáveis que se desenvolvem sem a intervenção necessária do governo e afastam o mal-estar mais temido protagonizado pela solidão. O afã de solidarizar-se e sentir-se úteis e amparados percorre o psicológico desta fase.
Hoje os idosos são pouco mais de 10% da população brasileira e se prevê o aumento do percentual, embora seja difícil definir a idade a partir da qual alguém se transforma em idoso. São mais importantes as propostas para que os próprios idosos possam escolher o que fazer entre mais opções em vez de serem passivos de algumas atividades que se lhes conferem, ou seja, as que os consideram dentro do padrão normal de vida e não pensam somente em relegá-los a asilos ou casas de dedicação exclusiva, ainda que estas opções sejam pertinentes aos casos de restrições físicas.
Um idoso tem necessidades semelhantes às de outras idades, como as de socializar-se, ir ao médico ou passear, com a diferença de que seu corpo físico resulta de um desgaste natural de muitas décadas. O espírito não se deteriora; ao contrário, evolui e amadurece. Pode haver idosos com mentalidade mais jovial que a de uma criança ranzinza. A saúde da alma contribui para o bem-estar físico e não deixa que as enfermidades perturbem mais do que sua ação provisória.
Ao escrever sobre a terceira idade, baseio-me no apreço que tenho em conversar com pessoas desta fase, tanto da minha família como com vizinhos ou de onde seja, e no reconhecimento da sua relevância. Acho que eles demonstram um afeto, um carinho e uma sensibilidade exponenciais. Quando reclamam que chegaram à velhice, retruco em pensamento que estão mais próximos da juventude do que possam imaginar. A mente responde a outra concepção de envelhecimento.
Bruno Peron Loureiro é bacharel em Relações Internacionais pela UNESP
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