Sexta-feira, 14 de março de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

Artigo: Jango como Eduardo Frei?



O artigo "Jango como Eduardo Frei?" é de autoria do jornalista Mauricio Dias e foi publicado em sua coluna Rosa-dos-Ventos, da revista CartaCapital desta semana:

"Em novembro do ano passado, em cerimônia realizada durante a conferência da Ordem dos Advogados do Brasil, em Natal, o governo brasileiro anistiou postumamente o ex-presidente João Goulart, atendendo à ação movida pela ex-primeira-dama Maria Teresa.

Jango, como era conhecido, deposto por um golpe militar em 1964, morreu em 6 de dezembro de 1976, no Uruguai. No atestado de óbito, assinado por um médico uruguaio, a causa da morte foi diagnosticada descuidadamente como enfermedad e, posteriormente, rebatizada de "ataque cardíaco". Nada mais suspeito para uma morte já cercada de suspeição.

À margem do diagnóstico oficial, consolidou-se a versão de assassinato. Jango constava da lista de crimes perpetrados, pela Operação Condor, contra líderes políticos sul-americanos. Ele teria sido envenenado. Jango foi enterrado sem a autópsia pretendida pela família.

Há poucos dias, o povo chileno foi informado de que um ex-presidente do país, Eduardo Frei, foi assassinado, em 1982, no apogeu da ditadura do general Pinochet. A versão oficial na ocasião: choque séptico motivado por infecção bacteriana. A morte, constatou-se agora, foi provocada criminosamente "pela introdução de substâncias tóxicas" no corpo de Frei. Uma fatal sopa de bactérias.

Essa revelação no Chile fortalece as suspeitas no Brasil. "Estou cada vez mais convencido de que envenenaram meu pai", reafirma João Vicente Goulart, que há anos disputa uma maratona contra o ceticismo e descaso das autoridades brasileiras.

Às vezes, parece que João Vicente vai perder a corrida. Às vezes, acredita que pode ganhar.

Nos últimos dias, além da reviravolta da morte de Frei, ele recebeu notícias animadoras de uma ação civil que, da Procuradoria-Geral da República, em Brasília, desviou para o Ministério Público do Rio Grande do Sul.

Inicialmente, até mesmo o ministro da Justiça, Tarso Genro, ligou para ele com a impressão de que o MP estava com tendência "a encerrar a ação". Parecia mesmo. O filho de Goulart recebeu um comunicado "surpreendente" do MP de que faltavam provas e que cabia à família apresentá-las.

Mas há, sim, provas suficientes para sustentar uma exumação. As mais recentes: um ex-agente uruguaio, preso no Brasil, confirmou o crime; CartaCapital publicou documentos do extinto Serviço Nacional de Informações em que aparece um certo "Agente B" infiltrado no círculo de relações do ex-presidente brasileiro.

Mais uma vez, em vez de recuar, o filho do ex-presidente avançou. Dirigiu-se com respeito, mas também com vigor, ao procurador, sugerindo que "em vez de pedir provas à família" ele deveria dirigir-se ao Arquivo Nacional, onde há 600 caixas de documentos ainda não conhecidos. "Lá, certamente, estão mais documentos referentes a Jango de 1973 a 1976", acredita João Vicente. O procurador seguiu a sugestão.

Não é mais, e somente, a emoção da família do ex-presidente que tem justificadamente a cabeça tomada pelas dúvidas. Há pistas que podem conduzir às provas do assassinato. A exumação é necessária.

Por que, alguém de direito, não se designam um juiz e um procurador, ou mais, se necessário, para cuidarem exclusivamente do caso, como foi feito no Chile? A história envolve um ex-presidente brasileiro. Mesmo que, como se sabe, seja ele um nome maldito para a elite brasileira". 

Fonte: OAB/Conselho Federal

Gente de OpiniãoSexta-feira, 14 de março de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Estrada da Penal – o retrato do descaso oficial

Estrada da Penal – o retrato do descaso oficial

A RO – 005, conhecida como Estrada da Penal, é a única via terrestre que dá acesso a milhares de moradores do baixo Madeira, como Vila Calderita, Sã

Do outro lado do poder: Lula sempre defendeu a Anistia

Do outro lado do poder: Lula sempre defendeu a Anistia

O ano era 1979. Tinha acabado de chegar de Belém do Pará, onde fui estudar e tive os meus primeiros contatos com a imprensa na Revista Observador Am

Consórcio 4UM-Opportunity vai cobrar pedágio na BR-364 sem investir nenhum centavo imediatamente

Consórcio 4UM-Opportunity vai cobrar pedágio na BR-364 sem investir nenhum centavo imediatamente

A BR-364, uma das principais rodovias de Rondônia, está prestes a ser concedida à iniciativa privada pelo prazo de 30 anos. O consórcio 4UM-Opportun

Centrão aproveita fragilidade do governo Lula para exigir mais cargos

Centrão aproveita fragilidade do governo Lula para exigir mais cargos

A popularidade do governo Lula vem caindo a cada pesquisa de opinião pública. Há quem diga que nunca esteve tão baixa. Muitos são os motivos, entre

Gente de Opinião Sexta-feira, 14 de março de 2025 | Porto Velho (RO)