Sexta-feira, 8 de janeiro de 2010 - 08h32
Dois mil e dez; século XXI; e a grande notícia: “É hora de reciclar a surrada forma de fazer jornalismo.”
Os leitores estão cada vez mais críticos e lêem de tudo, até o que não está escrito, é informação por toda parte e o público está cada vez mais participativo. Chegamos à temporada da exigência, só os velhos e arcaicos manuais não descobriram isso.
Formatos de jornais que são impossíveis de folhear dentro do ônibus ou metrô estão ficando fora de moda, assim como título pouco criativo e cheio de malabarismo para atingir certa quantidade de toques, matérias com elevados números de caracteres e tantas outras regras pré-estabelecidas; é a tradicional receita de fazer jornal ficando obsoleta.
Entramos na fase dos 140 caracteres, os leitores querem saber de tudo, tendo que ler o mínimo possível. Isso não é sinônimo de preguiça e sim de globalização, em que a invasão de caranguejos na Austrália ou a inauguração de um novo prédio em Dubai é de interesse de todos, mesmo que os receptores dessas informações estejam a quilômetros de distância. Afinal de contas, estar atualizado é exigência de qualquer concurso ou vestibular.
Muita informação no papel não significa que o leitor irá estar informado, ao contrário, ler por completo um exemplar dos jornais considerados grande aos domingos é um exercício que nem mesmo o mais aficionado e ocioso leitor é capaz de fazer, sem falar que quando acabar a leitura antes de passar o efeito da entropia, já está na rua o jornal da segunda-feira.
É hora dos jornais falarem bastante dizendo pouco, lembrar que as fotos e os infográficos às vezes se expressam melhor que qualquer texto longo e enfadonho.
O leitor exige boa diagramação, boa charge, bom artigo, e principalmente muita criatividade e aprofundamento no assunto em questão. A linguagem da internet (informal) cautelosamente deve ser usada, e muitas vezes uma matéria ilustrada como uma janela de bate-papo informa e desperta mais o interesse dos novos leitores que qualquer matéria enquadrada nos quadrados manuais.
Hoje vemos o exemplo de que um jornal de economia pode falar o que interessa aos economistas sem deixar de tratar de assuntos que são de interesse de qualquer leitor, muitas vezes com formato “alternativo” e até páginas coloridas, todos esses recursos contribuem para fazer com que no país em que muitos desde cedo torcem o nariz para as aulas de matemática descubram que ler sobre o tema não é nenhuma tortura.
Os jornais que reclamam que vendem pouco, ou que estão vendendo menos, são porque não pararam para ver que o gosto do leitor mudou. Nos dias atuais qualquer leigo sem nunca ter ouvido falar da palavra “semiótica” sabe muito bem seu significado na prática.
Repito: Não é a era do jornalismo preguiçoso de se escrever pouco, ao contrário, é a era do jornalismo inteligente escrevendo muito em poucas palavras.
Se o fotógrafo vai ao local dos fatos e tira uma infinidade de fotos, porque os jornais ainda teimam em repetir a foto da capa nas páginas internas? Não sabem que foto também se lê? É a forma de teletransporte para levar o leitor até o local dos fatos.
Chegou à hora de usar e abusar do cross-mídia, de não tomar muito o tempo do leitor, mas ao mesmo tempo municiá-lo de informação, o fundamental vai para o papel, o material extra não vai para a lixeira e sim para internet, quem se interessar mais pelo assunto saberá onde encontrar.
Isso não é nenhuma novidade, mas é preciso entender que não se pode entrar na evolução de maneira tímida e temerosa. O jornalismo está atrelado à arte. É hora de ter medo de ficar ultrapassado e abusar da capacidade criadora. De se perguntar a todo instante para quem se está escrevendo, pois o leitor é um consumidor cada vez mais novo e moderno independente de sua idade. Assim deve ser a mentalidade dentro de qualquer redação que queira sobreviver à nova era; das fotos em 360 graus, dos textos em 140 caracteres e abundante imaginação.
Fonte: Laércio Guidio (jornalista)
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