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Artigo: No reino das minorias e das exceçõe



Léo Ladeia

De vez em quando o problema surge: o que fazer com um determinado grupo social que segundo pesquisas – de alguém ou de um outro grupo – precisa ser resgatado, incluído ou coisa que o valha? A solução aparece como se saída de uma mesma cartilha. Em primeiro lugar aparece o Conselho para tutelar aquela causa. O Brasil já tem Conselho para quase tudo: do menor, do idoso, do índio, do negro – negro não afro-descendente – mas, as portas estão abertas para criação de mais outros tantos. Longe de mim ser contra Conselhos. A idéia é moderna e boa mas, é na hora de preencher o quadro que o "bicho pega". Eleitos ou não, o preenchimento dos cargos é um festival de cartas marcadas. Sinecuras na verdade. E se por algum motivo falta o conselho, por inexistência ou por omissão, sempre se poderá contar com o recurso de uma ONG, associação ou até um movimento bem articulado e sem registro oficial, caso do MST e suas filiais, subsidiárias, conexas ou similares. E dinheiro não falta, não importando se a origem é privada, pública de fonte limpa ou pública transformada em privada – perdoem-me pelo trocadilho – nos esgotos da corrupção.

Desde 1988 com a Constituição, o país adquiriu uma síndrome de patologia social ainda não catalogada – a maioria devendo algo às minorias – quando participantes de um restrito grupo atingiu o panteão na luta contra a ditadura transformando-se, com o aval da justiça e o meneio vacuno da imprensa, em neo-nababos detentores de pensões milionárias e arautos de regras não escritas de um comportamento social de apadrinhamento e permissividade.

Como a história é contada pelos vencedores, não se pode pensar em pespegar no peito d'um herói, outra coisa que não a medalha sagrada da honra, ainda que se lhe assentasse melhor em alguns casos, a marca vergonhosa da traição, da deduragem, do entreguismo e do abandono de companheiros na batalha. Aos heróis e sobreviventes, toda honra e toda gloria agora sim, mas será para sempre? Os mortos não falam nem reclamam. E se até aqui deu certo desse jeito, dará certo ali, mesmo que essa seja uma opinião simplista. A partir daí a porteira parece que se abriu aos novos reclamos, conselhos, movimentos sociais, etc.

Enquanto crescia e cresce a moda de identificação de novos nichos, a maioria silenciosa e pasma da sociedade foi incorporando essa tal síndrome e lograda de forma sub-reptícia.

É comum ouvirmos que o Brasil tem um débito histórico com alguém ou algum grupo e a sociedade se cala, pois alguém um dia soube ou inventou com base em achismos, esse tal débito. E a sociedade vem pagando sem reclamar, entender ou chiar, até porque, recorrer a quem? Reclamar do que, se os conceitos foram mudados? Um latifúndio hoje, tanto pode ser um sítio como uma fazenda. Uma reserva indígena pode ser deslocada com o auxílio da nova tecnologia de geo-referenciamento para quilômetros do ponto original e tangenciar outra, tornando-se una e incorporando o que estiver no seu centro e periferia, como na Raposa Serra do Sol. Quilombos foram reinventados a partir de estudos de sumidades de quem nem se conhecem os nomes e marcações foram criadas em escritórios, sem a visita "in loco". O direito à propriedade, pelo uso e/ou compra, com freqüência é relegado pró "função social".  O índio, que não precisa mais do apito, mudou tanto que às vezes não traz sequer os traços fisionômicos, indicativos de cultura, crença ou hábitos mas, nada disso importa. Aliás nem mesmo a identificação física positiva – aquela de ver em carne e osso – do índio importa. Ver para crer é coisa de São Tomé e, claro, não pode ser levado em conta pelo estado laico mas, que não esquece símbolos religiosos nos Tribunais ou no Congresso.
A mais nova invenção para aprofundar a síndrome é o índio isolado e que nasce classificado assim: "Índios isolados são grupos indígenas que nunca tiveram contato com não-índios e não devem ser contatados, a não ser que estejam sob risco de morte". Que profundidade...

Pasmem leitores, a Cachoeira de Santo Antonio está localizada quase na periferia da cidade de Porto Velho, a aproximadamente 10 Km. do centro. Neste ponto começa a ser construída a Usina Hidrelétrica de Santo Antonio. E ali, "descobriram", índios isolados, invisíveis aos moradores – em tese seus vizinhos – à Funai, ONGs, missionários e Prefeitura. Deve ser verdade cristalina para uma pesquisadora – que também não os viu – mas, que assinou um artigo sobre o assunto. Para ela sim. Não para quem nasceu ou reside em Porto Velho .

Sou brasileiro nato, "tabaréu" baiano, morei em guetos de Salvador, trabalho desde meus 14 anos, moro em Rondônia, fui estudante de escola pública e conheço de andar, os nossos diversos "brasis". Os certos e os errados. O Brasil não me deve nada. Sou parte dele e não um parasita que nele busca alimento. Esta síndrome não me pega. Não uso antolhos, não tenho um pau atravessado na venta, falo e escrevo o que penso e sou vacinado contra cachumba, varíola, sarampo, gripe, demagogia, safadeza e maracutaia.

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