Domingo, 24 de maio de 2009 - 09h10
Tem jeito, sim!
Este país tem jeito, ainda que a frase mais usada por conveniência seja o contrário, de que não tem jeito. Mas se deve ressaltar que é difícil, mas a dificuldade não deve ser empecilho de busca da solução.
Muitos a pessoa pela sensação de que cumpriu com sua responsabilidade e de que nada tem a ver com os problemas. Quem pensa assim, engana-se. As questões sociais no Brasil precisam ser encaradas com mais seriedade por todos.
Quando o prefeito Paulo Maluf aprovou a lei que obrigava o uso do cinto de segurança, a chiadeira foi total. Argumentos sobraram. Como se tratava de uma medida salutar, foi estendida ao país e hoje quase todos utilizam naturalmente. Não fez grande diferença na quantidade de mortos em acidentes, mas o brasileiro adora provocar a morte e nem mesmo o cinto consegue evitar acidentes gravíssimos. Morre-se muito em função de irresponsabilidade, falta de fiscalização e nenhuma punição aos que fazem do próprio carro uma arma de matar. A erradicação da paralisia infantil demonstra que solução existe quando a ação é séria.
No final da década de noventa e começo desta, em São Paulo os sequestros ocorriam a todo segundo. Hoje ainda existe, mas em número bem menor, quase chega à extinção. Caso houvesse pena certa e rápida, se houvesse prisão perpétua ou de morte para os sequestradores, raramente ocorreria esse crime. O problema é que o Estado e a cultura brasileira visam proteção sempre ao criminoso e esquecem as vidas perdidas no esporte predileto dos assassinos. Na diminuição de fumantes está outra demonstração de que tem jeito, sim. Basta atuar e utilizar-se das diversas variantes para a solução. Existem situações esporádicas que demonstram também que todo problema tem solução. O caos dos aeroportos mostra isso. A reciclagem, também.
Claro que alguns fatos tentam provar que não existe solução ou que ela estaria muito longe, como as recentes notícias de que em São Paulo aumentaram o número de moradias irregulares e também são 75% das construções em Salvador, além do assalto a uma agência bancária dentro do Comando do Quartel General do Exército por apenas dois homens. Tudo coroado com a frase do deputado Sérgio Moraes de que se lixa para o que pensa e acha a população e do presidente Lula de achar hipocrisia a contestação contra voos de parentes, amigos, esposas e amantes de parlamentares ao exterior com dinheiro público.
Precisa-se seguir a dica do presidente Lula para solucionar. Levantar-se da cadeira. Requer extinção urgente do analfabetismo. Apesar de já terem sido criados inúmeros programas, cada um com o nome mais pomposo, Mobral. Mova, EJA, apenas milhões de reais foram engolidos pelo ralo da corrupção. O resultado é um país com uma educação deplorável, onde até quem estuda e conclui o ensino médio continua analfabeto. Os índices têm demonstrado o desastre que é o ensino público fundamental e médio. E de que as universidades públicas foram feitas para a elite. Não cito exceções, sempre mencionadas pelas autoridades.
Estradas esburacadas, a má dentição, a gravidez precoce, o desmatamento, a falta de moradia, as pichações generalizadas nas cidades, inclusive de prédios públicos, a morosidade infinita do Judiciário, carecem de solução com brevidade. São problemas que se eternizam pela incompetência cristalina da Administração Pública, respaldada pela inércia e hibernação de toda a sociedade. Alguns ocorrem por conivência camuflada, como a falta de julgamento de bandidos da alta classe. E isso a sociedade precisa forçar o Poder Judiciário a acabar. Criminoso precisa ser punido pelo crime que comete e não pela classe a que pertence. Ninguém entende por que o Ministério Público Federal não ingressa com ações para ressarcimento de todo centavo gasto com os passeios de parentes e amigos de parlamentares.
Não resta dúvida de que tem jeito, mas é preciso levantar-se da cadeira, cobrar incisivamente do Poder Público e exercer a cidadania em sua plenitude. Senão, ao menos fale, se calar, jamais.
Pedro Cardoso da Costa
Bel. Direito
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