Domingo, 20 de dezembro de 2009 - 16h33
Bruno Peron Loureiro
O inglês é o idioma que se adota convencionalmente e instrumentaliza a possibilidade de comunicação entre povos distintos em qualquer rincão do mundo. Sua hegemonia também se expressa na informática, cuja linguagem é majoritariamente inglesa. O chinês e o japonês são dois idiomas em ascensão. Noutros tempos, o alemão e o francês eram a primeira escolha no Brasil depois da obrigatoriedade do português. Hoje o espanhol ganha espaço. Nenhum destes idiomas, porém, é genuinamente americano.
A língua é um instrumento de expressão, poder e resistência. Através dela e sobretudo nos países da América Latina, chegaram-nos ameaças, idéias, religiões, valores e a busca insaciável de comércio. Héctor Lacognata, um parlamentar paraguaio, propôs que o guarani se convertesse numa das línguas oficiais e de trabalho do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), cujo projeto de integração a maioria dos cidadãos pertencentes ao bloco ainda não sabe o que é nem para que serve.
O ponto de partida de meu argumento é que o guarani é falado por pouco mais de dez milhões de pessoas de regiões do Paraguai, Argentina, Bolívia e Brasil. O guarani e o espanhol são as duas línguas oficiais do Paraguai, enquanto a primeira o é desde 1992. O guarani é falado por mais de 90% dos paraguaios, 27% deles só falam este idioma, e é oficial também na província argentina de Corrientes. Em algumas regiões paraguaias, o guarani é mais relevante que o espanhol.
Além de rebater as críticas que se fazem às assimetrias do MERCOSUL ou à pequenez do Paraguai diante da gigantez econômica do Brasil, a oficialização do guarani no bloco atenderia a parte das reivindicações indígenas da dívida histórica que se tem com estes povos. O guarani é um idioma de origem ameríndia e considerado o primeiro da categoria a conquistar a posição de oficial na América. Em caso de não ter este reconhecimento, é maior o risco de extinção de um idioma.
Por ser uma língua de existência prévia à vinda de Colombo à América e em respeito às raízes indígenas como uma das vertentes de nossa formação, reconheceu-se finalmente o guarani como um dos idiomas oficiais do MERCOSUL. Este avanço teve lugar na 37ª cúpula de presidentes do bloco em Assunção, Paraguai, nos dias 23 e 24 de julho de 2009. Vitória não só dos indígenas da região, mas também daqueles que lutam pela preservação das nossas identidades.
É preferível aprender um idioma nosso, que fosse autenticamente latino-americano, a intercambiar expressões e idéias com roupagem alheia. A União Européia contém dezenas de idiomas oficiais até de regiões cuja população não passa de um milhão de habitantes. Por que aqui não se dá a atenção devida ao guarani, já que os outros idiomas nativos foram caducando? A América Latina tem a oportunidade de dar exemplos ao mundo.
Esta atenção concedida ao idioma guarani não significa um incentivo ao abandono gradual do português e do espanhol nos países do MERCOSUL senão uma maneira de dar voz a uma de nossas raízes, que é a indígena, e valorizar o que é daqui sem qualquer sentimento de atraso e culpa. Os países ditos “desenvolvidos”, ao contrário do que lega a história, terão que aprender o guarani e respeitar o espaço cultural latino-americano.
Bruno Peron Loureiro é mestre em Estudos Latino-americanos.
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