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ARTIGO: Persona non grata


 

“Espero que o Brasil não jogue esse jogo”

Shahriar Mandanipour –escritor iraniano no exílio (recorrendo a metáfora futebolística para definir a visita de Ahmadinejad)


A visita do presidente iraniano ao Brasil, Mahmoud Ahmadinejad, deixou um rastro de indignação que se propagou pelo Brasil e pelo mundo afora. Parafraseando editorial do periódico espanhol El País, sua passagem não admitiria outro desenlace senão um jogo de soma zero. As mesuras locais dispensadas ao mandatário iraniano devem custar caro ao Brasil, comprometendo o prestígio e credibilidade internacionais do país. Essa avaliação foi estampada em diversos e prestigiosos veículos da mídia escrita mundial.

A decisão do governo brasileiro de recepcionar o chefe de um regime ditatorial e repressivo constituiu um enorme equívoco da política externa do presidente Lula. Ao acolher figura tão controversa, o anfitrião atentou contra a nossa própria Carta Magna, que, entre outros valores, consagra a democracia e os direitos humanos como pilares cardeais.

Faço questão de reproduzir o que afirmei da tribuna do Senado Federal no dia da chegada do visitante – persona non grata – para utilizar apenas uma expressão do jargão diplomático: pessoa não bem vinda.

Não há pragmatismo que justifique receber um chefe de Estado que nega o Holocausto e prega a destruição de Israel. Como se não bastassem posições antissemitas e outras aberrações defendidas pelo mandatário iraniano, o seu governo desenvolve um nebuloso programa nuclear direcionado para fins militares e reprime de forma sanguinária os opositores. Não podemos esquecer o “tratamento” recebido pelos manifestantes que foram às ruas contestar o caráter duvidoso da sua reeleição. A esse respeito, registro o tom obsequioso das declarações oficiais durante a permanência do presidente iraniano em Brasília. Nenhuma condenação sobre a recusa de Teerã de submeter-se a monitoramento internacional de seu projeto nuclear, nem mesmo uma reprimenda sobre as violações de direitos humanos no país e as suspeitas de fraudes nas urnas.

As relações diplomáticas mantidas com o governo do Irã já são suficientes e respeitam a moldura institucional de um relacionamento bilateral. Por que estreitar esses laços e legitimar politicamente um regime isolado no plano internacional? E afinal de contas: Por que receber com pompa e circunstância Ahmadinejad?

O intercâmbio comercial entre os dois países, em que pese ser favorável ao Brasil, é pouco expressivo no cômputo geral do comércio exterior brasileiro. As vendas do Brasil para o Irã (carne, óleo de soja, açúcar, milho, minério de ferro, papel, peças automotivas, etc) alcançaram o patamar de US$ 1,1 bilhão em 2008, o que representa aproximadamente 0,5% de todas as exportações brasileiras naquele ano. As importações (enxofre, frutas, pistache, tapetes, peles) são da ordem de US$ 14,7 milhões, menos de 0,01% do total das importações do Brasil em 2008.

É possível ampliar a pauta de exportações para o Irã e expandir consideravelmente o atual intercâmbio comercial sem que seja necessário receber em solo pátrio o líder de um governo que representa um pequeno grupo da guarda islâmica.

A partir de agora cerramos fileiras ao lado da Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua -, países que decidiram abrigar o Irã como membro observador na quixotesca Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas) – avalizando um governo e um dirigente que vem se alçando à condição de um “pária internacional”.

O semblante pacífico e sorridente exibido pelo presidente iraniano nas solenidades e recepções palacianas em sintonia com as declarações presidenciais de “estar feliz” em recebê-lo, nos remetem aos versos íntimos do poeta Augusto dos Anjos: “...a mão que afaga é a mesma que apedreja”.

Senador Alvaro Dias – 1º vice- líder do PSDB

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