Sábado, 18 de julho de 2009 - 20h30
Nas discussões sobre a corrupção no Brasil é comum que alguém desenvolva uma teoria sobre termos tendência genética, em razão da nossa formação inicial com deserdados portugueses. Nada mais falso. Corrupção é desvio comportamental e não genético. Todas essas teorias miram um período como a vinda de D. João VI, o pós-guerra ou ainda, a ditadura militar. Claro que em cada período citado ou em outros, tivemos maior ou menor índice de percepção da chaga, o que nos leva a afirmar que todas essas teorias têm algo de verdadeiro, mas que seria uma corrupção intelectual, adotar e afirmar como única, qualquer uma delas. E o que importa mais, decifrar a sua gênese ou optar pela erradicação do comportamento de forma atemporal? Sem descobrir suas causas é possível tratar suas conseqüências? Creio que em primeiro lugar é necessário que tomemos consciência de que a corrupção faz mal à sociedade, independentemente de focarmos a face do corrupto ou do corruptor para enfrentarmos o caminho da estabilidade dos costumes. E o que significa corromper? No Michaelis é: decompor, estragar, tornar podre, alterar, desnaturar, mudar para mal, depravar, perverter, viciar, induzir ao mal e seduzir. Mas, no dia a dia, além de todos esses significados a corrupção trás junto sua irmã gêmea – a impunidade – e contamina o frágil tecido social com duas conseqüências diretas: a descrença nas instituições, dentre as quais a justiça e a certeza de que a corrupção é parte integrante da sociedade e logo, admissível. Essa talvez seja a pior conseqüência. Se uma alta autoridade do governo pode ser corrompida por uma empreiteira ou fazer tudo ao arrepio da lei e sem ser alcançado por ela, aquela autoridade menor, um guarda de trânsito, um fiscal de rendas, da saúde ou do meio ambiente também pode. Acreditam nisso tanto o corrupto quanto o corruptor. Em todas as capitais do país o jogo ilegal – bicho ou bingos – é praticado com a conivência da polícia. Qualquer pessoa pode tirar a licença para dirigir, sem pisar os pés num Detran de qualquer estado. Mas, tudo isso é brincadeira de criança se compararmos às grandes negociatas que ocorrem, por exemplo, a partir do Orçamento Geral da União onde alguns ganham e todos perdem. Situação análoga à inflação. Um dia o país percebeu que todos perdiam com ela. Várias tentativas foram feitas até que de repente, a cultura anti-inflacionária foi absorvida por toda a sociedade, inclusive pelos grupos que julgavam levar alguma vantagem com ela. Domar a inflação mesmo com todo o aparato científico foi demorado e combater os repiques inflacionários virou política pública. Para combater a corrupção porém, não existem fórmulas científicas. Inicialmente é necessário o envolvimento da sociedade para interromper a cultura e isso é tão complicado como querer acabar com o tal “jeitinho brasileiro”. Mas, como virar a mesa com o sistema judicial arcaico, amparado pelo artigo 5º da Constituição – “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” – se esse sistema adota subsistemas que permitem por exemplo, o foro privilegiado ampliado, as imunidades parlamentares que se transformaram em refúgios judiciais e a infinidade de recursos procrastinatórios que impedem que a sentença seja prolatada a tempo de alcançar o criminoso? A internet, com sua estrutura anárquica, tem contribuído para que a “corrupção oficial” caia na rede e que a sociedade tome conhecimento, a tempo de manifestar-se contra. O problema maior é que em pontos chaves dos três Poderes Constituídos estão encasteladas pessoas investidas do poder de barrar ações para impedir que a maracutaia, o roubo, o desvio, ou o nome que se queira dar aconteça. Mas o processo avança. Por ora o que queremos é que a corrupção seja suportável.
Fonte; Léo Ladeia / www.gentedeopiniao.com.br / www.opiniaotv.com.br
leoladeia@hotmail.com
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