Quarta-feira, 8 de julho de 2009 - 13h38
Bruno Peron Loureiro
A violência abrange duas dimensões: a real e a fictícia. Como se não bastassem os atos reconhecidos como violentos e o seu aumento estatístico, uma parte do que se propaga é fruto do medo, da insegurança e de outros sentimentos introduzidos que nos fazem sobredimensionar o fenômeno e crer que nossa época é o seu momento culminante. Quanto a este tema que percorre vários quadrantes, como o âmbito familiar e o profissional, o texto presente incentiva ao desvelo da idéia de violência sem fugir do cotidiano.
Desde o risco pretenso à espécie humana oferecido pelo vírus da gripe H1N1, que envolve a irresponsabilidade de setores que destroem a credibilidade de alguns países tal como passou com o turismo no México e tende a se repetir na Argentina e no Chile, até a busca de destroços de um avião que caiu em alto-mar e a contagem gradual dos corpos encontrados, pratica-se algum tipo de violência. Relega-se a fragilidade humana a favor de um mercantilismo que peleja para conquistar a nossa fidelidade como clientes de bens materiais e ideológicos.
Com estas atitudes, ignora-se que muitos cidadãos levaram ao pé da letra a história apocalíptica da gripe suína e outros sentem o vazio da perda de um ente querido. Tudo porque a criação subjuga o fato e a violência real aguarda ansiosamente o momento certo de emergir, cujo exemplo se expressa na intenção malévola dos correios eletrônicos que sugerem o clique num link de vírus para que se apresentem fotos dos corpos que estavam no voo 447 da Air France. Houve uma imbricação de violência, indiferença e sadismo.
Noutros contextos: em vez de aumentar a oferta de programação educativa e saudável, propagam-se as demonstrações de conflitos familiares na rádio e dedica-se mais tempo em horário nobre a apresentações de auto-flagelo na televisão, como o ator que é conscientemente violentado no Pânico da Rede TV e as sessões de Jackass. Baixou o preço da violência, que se tornou barata, ao mesmo tempo que ela provoca a curiosidade no espectador e se divulga a idéia de que é desejável. Sem contar as humilhações e as pegadinhas de mau gosto que se impingem aos cidadãos humildes.
O receio que tenho é de que percamos a capacidade de compreensão e discernimento do significado de violência a ponto de aceitar o mundo que alguém nos ditou. Se fosse pela exibição espetacular e fictícia, o Brasil estaria numa crise civilizatória e não haveria condições de sair de casa devido ao congestionamento em grandes cidades e aos assaltos frequentes. Se fosse pelo que contam, perderíamos a chance de vivenciar em primeira mão. Se o mundo fosse tão e somente violento, perderia seu encanto.
Nem sempre a idéia que fazem de uma pessoa é o que vemos nela. Sigo este mesmo raciocínio em relação ao que se constrói em torno da violência, uma vez que nossa interpretação tem-se diluído num molho consensual. O fato violento, portanto, tende a se transformar num fenômeno de audiência, espetáculo e lucro. A violência pode ser emocional, corporal, fingida, momentânea e de outras naturezas. Poderíamos pensar no seu significado real e fictício, mas compreendendo e discernindo. O que acha?
Fonte: Bruno Peron Loureiro é analista de relações internacionais.
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