Quarta-feira, 17 de agosto de 2022 - 11h48
A partir da
descoberta do fogo, os sapiens passaram a uma nova etapa da evolução: se
reuniam ao redor de uma fogueira, conspirando pelo surgimento de novas
comunidades, escolhendo lideranças, enfrentando as necessidades com mais
capacidade. O homem aprendeu, então, que pensar em grupo rendia maiores
dividendos. Daí surgiram as grandes fraternidades brancas do oriente, as
sociedades civis, abertas e secretas, as seitas e religiões, as academias
gregas e europeias, etc., com influência marcante no poder. Um provérbio
africano diz:
“Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo."
Os séculos 17, 18 e 19 foram pródigos no surgimento dessas sociedades, a
maioria voltada para a fraternidade, a troca de experiências, o crescimento das
artes, das ciências, da justiça, além da implementação das regras para uma boa
convivência. Com o tempo, os homens descortinaram um comovente segredo: viver
não é só durar! Era comum, nos discursos de posse na ABL, a referência ao
fato de que “agora, estamos condenados a conviver para o resto da vida”,
o que implicava renúncia a personalismos, ao exercício de atitudes de
arrogância ou prepotência.
As academias de
letras, artes e ciências, surgiram no rastro deste segredo, quando se descobriu
que a reunião de pessoas com os mesmos propósitos; a discussão sadia de temas
que visavam a melhoria do convívio, o sorriso franco, o tapinha nas costas, o
abraço, o café e o chá em grupo, eram os melhores remédios para uma vida mental
sadia, feliz, alongando o tempo de prazer sobre a terra. As guerras e
pandemias, ao longo dos anos, vem dificultando essas atividades prazerosas. Dói
mais, quando a simples falta de uma sede, num universo de vários espaços
públicos abandonados, interfere no exercício do prazer em grupo e na interação
cultural com a sociedade.
Quando fundamos a
Academia Rondoniense de Letras - ARL adubamos o terreno infértil das distâncias
sociais, achando que cifras e letras poderiam florescer sob o mesmo manto da
cultura. Estávamos imbuídos do propósito maior de que a academia se
transformasse em uma confraria, onde sentimentos mesquinhos como o da inveja,
do preconceito, da vaidade, do exclusivismo, fossem vencidos pela irmandade,
pelo perdão, pela convivência, pelo amor ao próximo, de tal forma que
desaparecesse do interior de cada um dos membros, o sentimento de solidão. Sem
uma sede própria fica imensamente difícil a aproximação entre os participantes,
assim como a elaboração de projetos conjuntos, para melhoria da educação e da
cultura de nossa amada região. Academia de laços solidários é uma utopia
necessária.
Nesses pouco mais
de 6 anos de existência, a ARL, de certa forma, cumpriu com a missão
primordial, atribuída a uma academia, mas por não possuir uma sede própria,
descuidou-se do lado social, da convivência sadia entre seus membros. A
Academia é um gesto de ousadia! Contudo entristece a todos nós, membros
efetivos, que em pouco mais de 2 anos da posse dos novos acadêmicos,
(14/03/2020), devido à pandemia, o tempo foi derrubando os tijolos que sequer
sofreram a ação da argamassa da convivência, conturbando o silêncio da confraria
sem teto. Entretanto, hoje, a pandemia já não assombra, ainda assim os
confrades se esquivam de participar de eventos que deveriam contar com a
presença de todos os empossados. Não queremos ser uma confraria de
fantasmas, ainda não aprendemos a teletransportar o chá dos acadêmicos.
Recentemente Dr.
Dimis, um dos mais entusiasmados membros da nossa confraria, recebeu uma
importante comenda das mãos do Prefeito e apenas 3 confrades (William, Célio e
Machado) dos 40 em atividade, compareceram ao evento. Vale lembrar que nesse
evento, no Teatro Banzeiros, nós reforçamos o pedido por uma sede própria e
recebemos a resposta positiva da secretária da Semed e do Prefeito. Estamos
aguardando o cumprimento da promessa.
Nas últimas semanas,
nossos confrades Cledenice, Célio e Zênia promoveram lançamentos de livros, que
poderiam ter funcionado como reunião presencial: os dois primeiros no Teatro
Banzeiros e Zênia no Talismã. Ao evento da Cleide apenas quatro membros,
William, Nestor, Délcio e Ernesto compareceram, já no lançamento do Célio, os
confrades William, Palitot e Bariani estiveram presentes. No lançamento da
Zênia não compareci porque ocorreu no mesmo dia e horário do evento do Célio e
foi num clube distante, também não sei quantos confrades compareceram.
Devemos lembrar aos
confrades que quando redigimos nosso Estatuto e o Regimento Interno, trazíamos
a experiência da outra academia, e tomamos o cuidado de não tornar os membros
efetivos em vitalícios, assim pontuamos em alguns artigos a possibilidade da
troca de categoria de membros que não comparecerem as reuniões, que não pagarem
as mensalidades ou que não cumprirem com suas obrigações, na Diretoria e nas
reuniões. A Assembleia Geral da ARL tem amplos poderes, acima até mesmo do
Presidente. Enquanto não conseguirmos um grupo coeso, uniforme, que cumpra com
os objetivos da entidade, vamos promovendo a inclusão de novos membros
efetivos. A ARL não é escada, nem adereço de currículo.
Logo logo nossas
reuniões presenciais acontecerão, já que a pandemia não mais assombra: tomara
que a nossa sede própria se materialize, para que o êxito, social e literário,
acarinhe o convívio despretensioso, que dará coesão e irmandade a um grupo renovável
de escritores, cientistas e artistas ad immortalitatem.
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