Segunda-feira, 7 de março de 2022 - 12h00
Respondendo
à máxima popular: quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha, a ciência não
titubeia, o “feminino veio primeiro. É básico”. Cai por terra,
cientificamente, o mito de Adão.
No
começo dos ajuntamentos, as sociedades eram matriarcais, só com o advento das
civilizações, oriundas do Crescente Fértil, há cerca de 12 mil anos, é que as
religiões passaram a fortalecer o patriarcado, fundadas no criacionismo
masculino, relegando à mulher uma categoria secundária, resultante da
observação dos animais irracionais. Contudo, na natureza, nem sempre o macho é
mais belo e mais forte que a fêmea; a aranha caranguejeira, por exemplo, além
de maior, depois que acasala, mata e come o macho. Se a moda pega!? Rsrs.
No contexto
sócio-histórico-cultural a mulher esteve sempre sob a sujeição vexatória do
patriarcado, os valores centrados no poder do homem refletiam as ideias de
deuses machistas. O mundo preparou melhor a competência masculina, segregando a
mulher do acesso à educação, à cultura. Nesta ingrata luta de equiparação de
forças, as desvantagens femininas advêm do império da força muscular, ou da
força de argumentos consuetudinários machistas centrados nas várias religiões
espalhadas pelo mundo.
Ainda bem que este poderio
machista secular vem se diluindo, por conta da solidariedade de parcela da
comunidade masculina, mais intelectualizada, e de visão mais abrangente, surgida
paralelamente aos movimentos feministas que, a partir da década de 1960,
estimularam uma consciência de alteridade em defesa da identidade cultural e
histórica da mulher.
O Deus criador, dos hebreus e
posteriormente dos cristãos, fez a mulher a partir de uma costela do homem, ou
seja, ela era um mero subproduto dele, e devia-lhe irrevogável submissão,
codificada em vários livros da Bíblia. O hebraico sequer tinha uma palavra que
significasse “mulher”, e Eva não era um nome próprio, simbolizava a mãe de
todos os viventes. Das mulheres bíblicas, destaco Judith, a que usou inteligentemente
o sexo para subtrair a cabeça do inimigo.
Acreditava-se na Grécia, que o gênio artístico
guardava uma porção divina da qual as mulheres não faziam parte. Predestinada e
vista como ser incompleto, no direito romano chegou a ser considerada “res”
(coisa). Volto a lembrar, à mulher, foi negado, durante muitos séculos, o acesso
à educação e ao conhecimento, tentaram impingir-lhe ignorância eterna.
Vivenciando a família, ser
escritora era uma compensação, porquanto ela se dividia entre o chamamento da
arte literária e as imposições sociais, que exigiam dela o desempenho de papéis
predeterminados: “a febre de produzir, de poder sucessivamente criar um
filho de sua carne e um filho de seu sonho, fazer o homem e criar a ficção,
desfraldando a bandeira da pátria duas vezes, no culto da família e no da arte
literária, é uma sensação nobre e que oferece à consciência da mulher uma
tranquilidade perfeita”. Em muitas civilizações ter filha mulher era, e
em certos países ainda é, sinal de mau agouro, ou castigo divino.
Acovardadas por esta
hostilidade, poucas foram as mulheres que enveredaram pelos difíceis caminhos
da literatura e, quando se dispuseram a encantar ou desencantar a palavra, para
serem lidas, usaram o artifício do pseudônimo.
O reconhecimento da sociedade
ocidental, embora setorial e tardio, coroou a obstinação e o talento, hoje,
mulheres já não são olhadas com desdém ou indiferença, mas reconhecidas por
governos, academias, universidades, enfim, reconheceram que a força do talento
e da capacidade intelectual não têm sexo, embora muitos teimem em vesti-los de
calças.
A historiografia literária no
Ocidente sempre foi uma atividade reconhecidamente masculina, mas isso não
impediu que as mulheres escrevessem. Tudo se pode escravizar no mundo, menos o
pensamento, portanto o dom e a genialidade da mulher, se existirem, implodirão
amarras e lhe trarão visibilidade literária, consequentemente, o sucesso
almejado. Seria impossível nomear, neste pequeno trabalho comemorativo, as
mulheres que emergiram da criatividade literária, que marcaram a literatura com
a história de suas vidas, produzindo textos capazes de moldar a mente dos
leitores, arrefecendo-lhes a solidão.
A primeira mulher a ingressar na Academia
Brasileira de Letras foi a cearense Rachel de Queiroz, em 4 de novembro de
1977, ocupando a cadeira de número 5 cujo patrono é Bernardo Guimarães. Vale
lembrar que a Academia Brasileira de Letras foi fundada por Machado de Assis no
dia 20 de julho de 1897, portanto passaram-se 80 anos para que uma mulher
ingressasse na academia.
Apesar da impossibilidade de
citar todos os nomes de escritoras ilustres dos séculos 20/21, não posso
encerrar minhas palavras sem declarar eterna gratidão àquelas que venceram
obstáculos, pularam muros, derrubaram cercas, deixaram suas marcas
orientadoras, descobrindo o caminho do sucesso entre as árvores da densa
floresta masculina, sem precisar rastejar como cipós, mas fazendo dos esteios
machos a sustentação que as direcionou ao alto. Parabéns, meninas! Salve
08 de março de 2022.
Das nossas janelas víamos as janelas dos vizinhos, o muro era baixo e nossa casa foi construída no centro de três terrenos, num nível mais alto. A m
Os que se dedicam às letras, normalmente principiantes, mosqueiam a prosa de palavras "difíceis", rebuscadas no dicionário, e frases enigmáticas, pa
O valor das coisas depende de quem é
Possuía, no século passado, meu pai, na zona histórica, belo prédio barroco – que recebera dos avós, – mas, ao longo dos anos, se delapidara.Reforma
Um médico, ginecologista, instalou seu consultório no nosso bairro. Mulheres de longe, e até as que moravam perto e tinham alguma condição financeira,