Segunda-feira, 29 de junho de 2020 - 17h11
Das
ferramentas da comunicação humana, as lágrimas são as que mais sensibilizam o
outro, porém é difícil descobrir-lhes a face, saber se são puras, honestas, ou
falsas, profissionais! Como acreditar em
lágrimas carpideiras ou naquelas provocadas por profissionais das artes
cênicas? Lágrimas verdadeiras, profissionais,
falsas, basais, reflexivas, psíquicas, difícil dizer a qual categoria pertencem,
quando elas estão dispostas a enganar. Exatamente
devido a este caráter obscuro, as lágrimas são as preferidas por autores de
ficção, quando querem confundir o leitor, Machado de Assis fez isso muito bem
com a sua Capitu. Por outro lado, são também elas que mais instigam o lado
emotivo do autor/leitor.
O fato
preponderante é que elas são formas de expressão, ainda que de difícil
definição, podem ser vistas como o transbordamento das emoções, na construção
do diálogo humano. O símbolo da dor, da tristeza, mas que também estão
presentes na alegria, ou você nunca chorou de tanto rir?
As
lágrimas se sujeitam a inúmeras alegorias: estão na vida, quando o bebê se
apresenta para o mundo e na morte, ao compartilharmos a despedida da vida.
Entrementes ao esgrimir com as palavras, na construção deste texto, foram as lágrimas
parasitas, que mereceram a minha reflexão.
Lágrimas
parasitas não existem sozinhas, sequer possuem vida própria, elas se alimentam
de incursões ao mundo dos sentimentos alheios, são parceiras, solidárias, empáticas, porque
respondem a uma mistura de sentimentos, às vezes, são ousadas, atrevidas,
aparecem em locais impróprios, estampando um enorme atestado de fraqueza na
testa masculina, como que reproduzindo a máxima familiar machista – homem não
chora!
Um
observador comum que se preocupa apenas com a singularidade da emoção, jamais
entenderá uma lágrima parasita, como se toda e qualquer lágrima fosse resposta
a uma interrogação sentimental própria. Às vezes, nem as lágrimas sabem porque
estão respondendo a impulsos depressivos, funcionando como poderoso calmante: chore
meu filho, chorar é bom, alivia!
Lágrimas
parasitas podem ser feedback ao talento de um ator ou de um roteirista, no
recinto de um cinema, de um teatro, podem ser reação às cenas melosas, diante
da novela, sentado no sofá de casa. Lágrimas parasitas não são originariamente suas,
foram intencionalmente imaginadas pelo texto do autor, como ninho de indez,
atraindo a emoção alheia.
Já as
vi assanhadas, rolando em cascata pela minha face jovem, enquanto reproduzia,
em voz alta, partes do texto shakespeariano, Romeu e Julieta, durante uma aula
de literatura, no ensino clássico. Estas minhas lágrimas, certamente, parasitaram
as do autor, no momento da sublime criação, contaminando, pelo efeito de minha
voz enfática, os rostos de meus colegas de ambos os sexos.
Lágrimas
parasitas, portanto, são as que se alimentam de outras. Certa vez, entrei num
velório errado e, ao ver tanta gente chorando, não pude evitar a infestação parasitária.
Nem tive o cuidado de me aproximar do caixão para saber se era homem ou mulher,
jovem ou não, a causa da morte; coisas triviais produzidas no recanto das curiosidades
e que sugestionam lágrimas parasitas.
Naquele
dia, elas me brotaram dos olhos por assimilação, quase morri de vergonha ao ser
indagado por um estranho, antes de me esgueirar porta afora: quem é o
senhor, você conhece a falecida, é parente, sabia que ela morreu porque traía o
marido, por que você está chorando tanto?
Acho
que seria engano chamar as lágrimas parasitas de hipócritas, acompanhando o
conceito do falso riso, porquanto, tenho certeza, elas nascem no bojo do
conceito filosófico/sentimental de alteridade. Não seriam apenas um caso
simples de contágio, como imaginara Honoré de Balzac: “As lágrimas são
tão contagiantes quanto o riso.”
Por
outro lado, posso testificar que as lágrimas, na grande maioria das vezes,
ainda que parasitas, são resultantes do encontro de emoções muito fortes,
produzidas por corações sensíveis. As falsas são treinadas, atendem ao efeito de
glicerina, ou correspondem à sensibilidade artificial do ator/atriz.
Confesso,
por experiência própria, que as lágrimas evoluem com a vida, na velhice elas
brotam com mais facilidade, como se a emoção da infância, da juventude, da
maturidade e da velhice obedecessem a uma regulagem diferenciada, conforme o
passar do tempo.
Entretanto,
as lágrimas parasitas estão mais atreladas ao conhecimento perceptivo, à solidariedade,
à piedade, enfim, à empatia: nem todo mundo chora ao olhar uma tela impactante,
ao presenciar crianças perdidas no lixão,
ao mirar um caixão com defunto desconhecido, ao ler um livro, ao assistir um
filme, ao ouvir uma notícia, etc.
Infelizmente
muita gente sabe usar a desfaçatez, como defesa ou recurso desleal, para se
atingir objetivos escusos, impedindo ao outro a leitura correta dos níveis de
um sorriso, aparentemente sincero, ou de uma lágrima, honesta ou simulada.
Cronista
da existência, pauto meus escritos pelo discernimento, minhas emoções são
produzidas no coração, misturadas às veias e artérias da convivência fraterna,
permeadas por ações sinceras e honestas, prontas a abastecerem o poço fundo de
todas as lágrimas, estacionadas no âmago do ser, prestes a cumprirem o seu
expressivo papel social.
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