Segunda-feira, 18 de outubro de 2021 - 13h29
As vistas da janela do
silêncio se confundem com a expressão facial do taciturno, elas falam pelo
silêncio, nos dão pistas se ele é bom ou ruim, mas são dos olhos as vistas
silenciosas mais verdadeiras. Por outro lado, não podemos esquecer que a
palavra, falada ou escrita, formadora dos signos da comunicação, foi
responsável, em maior grau, pela evolução do cérebro humano. A mais
significativa das palavras é a que dá voz ao silêncio, a que transborda pelos
olhos e se comunica com o coração.
Os poetas compõem os versos do
silêncio, os cronistas, em quarentena pela Covid 19, produzem A
janela do silêncio, os compositores conseguem ouvir a música do
silêncio, os cineastas já filmaram o silêncio dos inocentes, na verdade os
artistas são unânimes em afirmar que o silêncio é eloquente, basta saber lidar
com ele.
Só os políticos desconhecem
tal eloquência e encabulam o silêncio, com o abuso de palavras inadequadas. Ora
são profanas, gritam, xingam. Conforme a ocasião o que sai pela boca da
contenda política polarizada é mais forte do que um tapa na cara. Ultimamente,
o embate entre o presidente e alguns senadores é de estarrecer o silêncio do
brasileiro, mostrando que o exemplo não vem de cima, não vem da elite do poder.
Por melhores índices de relacionamento humano, dá vontade de ir à luta,
comandar palavras, afiadas de significados, palavras com alma, tendo o silêncio
como espectador. Mas, contudo, todavia, entretanto, só a palavra não resolve,
ela precisa estar, no contexto do fio da espada, como fazia Maomé, divulgando o
Alcorão aos beduínos. Mesmo em regime representativo, infelizmente, nem sempre
a voz do político é a voz da gente.
Interpretar o silêncio alheio
não é fácil, depende de uma série de fatores, como expressão corporal, flexão
dos músculos da face, suor e o olhar, este é tagarela. Não é à toa que o povo repete,
diante de uma confusão ocasionada por palavras ferinas, cortantes, ditas no
calor da emoção: o silêncio é a melhor resposta. No entanto, na maioria das
vezes, o silêncio como resposta é pior do que mil palavras, porém é fato: quando
um não quer dois não brigam!
Evidente que não estamos
falando do silêncio absoluto, do silêncio da morte, ainda assim os mortos
martirizados falam mais alto do que milhares de vivos, foi assim com as Cruzadas:
enquanto os ocidentais defendiam o Cristianismo e os orientais o Islamismo, o
sangue, em silêncio, mas representando a palavra dos mártires − Maomé e Jesus −
escorria pelas colinas e pelas muralhas da cidade sagrada de Jerusalém. Na
antessala da morte, nas UTIs da Pandemia de coronavírus, percebemos, entre as
horas do tempo, pontes de sabedoria a serem ultrapassadas, para alcançarmos o
âmago do silêncio, o sentido da esperança: e o logos se fez carne, a
mensagem se materializou e expandiu o conhecimento do amor ao próximo, da
convivência em paz!!!
Em uma das vistas da janela do
silêncio, em momento extremo de meditação, segundo os praticantes, o mundo das
palavras comuns é esquecido, como se existisse, em outra dimensão, uma nova
classe de palavras musicais – Uuuumm − sem sentido, em que a expressividade da
vista é interior e transcendente, advinda do equilíbrio do yin com o yang,
a unidade entre o corpo, a mente e a palavra: Om mani padme hum!
Ainda que exista muita euforia
nos pensadores orientais, sobre os ensinamentos do silêncio e das vibrações do
som dos mantras, a tradição oral no budismo é muito forte – Buda gostava de
discursar aos seus discípulos. O repouso das palavras não significa que elas
não estejam em ebulição interior. O ato espontâneo de calar emudece muitos
sentimentos, bons e maus, mas não apaga as palavras milenares que circulam
entre os neurônios humanos, dizem que muitas tem força para sobrepujar a morte.
Para os gregos, a imortalidade é da palavra, rhema ou logos! assim também pensa
a maioria das Academias: a imortalidade é dos feitos, literários ou artísticos,
de seus membros.
Admirador da evolução da
Inteligência Artificial (IA), ainda não me conciliei com a imaginação projetada
ao futuro: como o ser artificial silenciará? O silêncio artificial será tão
eloquente quanto o humano ou o silêncio será sepultado pelo algoritmo, pela
máquina?
Vale lembrar que sem a palavra
(falada ou escrita) não existiria doutrinação, logo é a palavra quem doutrina o
cérebro humano, para que ele alcance a compreensão, a reflexão do silêncio, e
não seria exagero afirmar que a principal vista da janela do silêncio é a
palavra, logo não são opostos, mas companheiros que se comunicam e se
interrelacionam consigo mesmos e com o próximo.
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