Quinta-feira, 14 de dezembro de 2023 - 14h09
As vistas da janela do
silêncio se confundem com a expressão facial do taciturno, elas falam pelo
silêncio, nos dão pistas se ele é bom ou ruim, mas são dos olhos as vistas
silenciosas mais verdadeiras. Por outro lado, não podemos esquecer que a
palavra, falada ou escrita, formadora dos signos da comunicação, foi
responsável, em maior grau, pela evolução do cérebro humano. A mais
significativa das palavras é a que dá voz ao silêncio, a que transborda pelos
olhos e se comunica com o coração.
Os poetas compõem os versos do
silêncio, os cronistas, em quarentena pela ansiedade do amanhã, produzem A
janela do silêncio, os compositores conseguem ouvir A música do
silêncio, os cineastas já filmaram O silêncio dos inocentes, na
verdade os artistas são unânimes em afirmar que O silêncio é eloquente,
basta saber lidar com ele.
Só os políticos desconhecem
tal eloquência e encabulam o silêncio, com o abuso de palavras inadequadas. Ora
são profanas, gritam, xingam ou sorriem sarcasticamente, como Dino, respondendo
às perguntas dos senadores, antes de ingressar no solo sagrado e autoritário do
STF. Ultimamente, o embate entre as palavras embutidas no silêncio do povo e as
que saem da boca de seus representantes no congresso é de estarrecer o silêncio
do brasileiro. Dá vontade de ir à luta, comandar palavras, afiadas de
significados, palavras com alma, tendo o silêncio como espectador. Mas,
contudo, todavia, entretanto, só a palavra não resolve, ela precisa estar, no
contexto do fio da espada, como fazia Maomé, divulgando o Alcorão aos beduínos.
Mesmo em regime representativo, infelizmente, nem sempre a voz do político é a
voz da gente. A diferença entre um político e um ministro do STF, nas palavras
do Dino, estimulam o silêncio para não desencadear o ódio.
Interpretar o silêncio alheio
não é fácil, depende de uma série de fatores, como a expressão corporal, a flexão
dos músculos da face, o suor e o olhar, este é tagarela. Não é à toa que o povo
repete, diante de uma confusão ocasionada por palavras ferinas, cortantes,
ditas no calor da emoção: o silêncio é a melhor resposta. No entanto, na
maioria das vezes, o silêncio como resposta é pior do que mil palavras, porém é
fato: quando um não quer dois não brigam!
Evidente que não estamos
falando do silêncio absoluto, do silêncio da morte, ainda assim os mortos
martirizados falam mais alto do que milhares de vivos, foi assim com as
Cruzadas: enquanto os ocidentais defendiam o Cristianismo e os orientais o
Islamismo, o sangue, em silêncio, mas representando as palavras dos mártires −
Maomé e Jesus − escorria pelas colinas e pelas muralhas da cidade sagrada de
Jerusalém. Hoje é o judaísmo que briga com o Islamismo, nas colinas de Golan. O
hebraico não dialoga com o árabe, precisamos de pontes de sabedoria para
alcançarmos o âmago do silêncio, o sentido da esperança: e o logos se fez
carne, a mensagem se materializou e expandiu o conhecimento do amor ao próximo,
da convivência em paz!!! Infelizmente, para muitos, a paz é surda e muda.
Em uma das vistas da janela do
silêncio, em momento extremo de meditação, segundo os praticantes, o mundo das
palavras comuns é esquecido, como se existisse, em outra dimensão, uma nova
classe de palavras musicais – Uuuumm − sem sentido, em que a expressividade da
vista é interior e transcendente, advinda do equilíbrio do yin com o yang,
a unidade entre o corpo, a mente e a palavra: Om mani padme hum!
Ainda que exista muita euforia
nos pensadores orientais, sobre os ensinamentos do silêncio e das vibrações do
som dos mantras, a tradição oral no budismo é muito forte – Buda gostava de
discursar aos seus discípulos. O repouso das palavras não significa que elas
não estejam em ebulição interior. O ato espontâneo de calar emudece muitos
sentimentos, bons e maus, mas não apaga as palavras milenares que circulam
entre os neurônios humanos, dizem que muitas tem força para sobrepujar a morte.
Para os gregos, a imortalidade é da palavra, rhema ou logos! assim também pensa
a maioria das Academias. A imortalidade é dos feitos literários dos acadêmicos,
ainda que seus livros mofem no silêncio das prateleiras interiores dos que
pouco leem.
Há dias, li estupefato uma
expressão desdenhosa de uma juíza sobre uma das muitas metáforas que uso no meu
dia a dia literário: “abraço com braços de esponja, capazes de apagar o período
doloroso da pandemia (…)” Ao questionar o significado dos braços de esponja, a
pobre magistrada ignorava o trabalho secular da esponja na mão do professor,
apagando quadros-negros, talvez ela tenha sido traumatizada, por ter sido
obrigada a lavar muita louça, na infância e na adolescência, sem demérito ao
trabalho honroso das donas de casa.
Admirador da evolução da
Inteligência Artificial (IA), ainda não me conciliei com a imaginação projetada
ao futuro: como o ser artificial silenciará? O silêncio artificial será tão
eloquente quanto o humano ou o silêncio será sepultado pelo algoritmo, pela
máquina?
Vale lembrar que sem a palavra
(falada ou escrita) não existiria doutrinação, logo é a palavra quem doutrina o
cérebro humano, para que ele alcance a compreensão, a reflexão do silêncio, e
não seria exagero afirmar que a principal vista da janela do silêncio é a
palavra, logo não são opostos, mas companheiros que se comunicam e se
interrelacionam consigo mesmos e com o próximo, conforme o silêncio e a
instrução de cada um. Lamentável que algumas palavras e atitudes precisem de
uma esponja, ainda que seja para apagar a arrogância e a estupidez de certos
humanos, na paz e na guerra.
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