Terça-feira, 19 de novembro de 2024 - 08h47
Possuía,
no século passado, meu pai, na zona histórica, belo prédio barroco – que
recebera dos avós, – mas, ao longo dos anos, se delapidara.
Reformara-se
com modesta pensão, bastante para levar vida desafogada, suficiente para
possuir empregada, que realizava o maneio do lar.
Morrera-lhe
a mulher, vítima de um meningioma. Manteve a serviçal, que, desde rapariguinha,
trabalhava em sua companhia. Era já da família.
Com os escassos recursos, que possuía, não lhe
era possível realizar as obras que o velho edifício precisava.
Idoso,
bastante doente, – enfermidade que o vitimou, – recebe notificação oficial.
Dizia o ofício: " Informa-se que deve fazer obras ou demolir o prédio, que
possui na rua x, no prazo de três meses. Caso não cumpra, obriga a que esta o
faça, e impute a si, as despesas."
Aflito,
arrastando os pés, firmando-se na bengala – os filhos cumpriam serviço militar,
– recolheu a amigo de infância, para solicitar entrevista com o Edil.
Perante
a autoridade, explicou: não possuir recursos para satisfazer o pedido. Mas,
como se tratava de imóvel barroco, podiam chegar a acordo: venderia, ao
município, por preço modestíssimo.
Era, no momento, impossível tal negócio, segundo lhe
disseram.
Colocou
o edifício à venda. Apareceu falaz capitalista, que esmagou o preço, já de si
irrisório. Comprou-o por tuta-e-meia.
Decorrido meses (anos?,) numa manhã luminosa,
de céu lavado, tive que perpassar pelo prédio e reparei que havia enorme
azafama de operários, no interior.
Acerquei-me
de mulher, que permanecia recostada a umbral de humilde casa, e interroguei-a:
" O que se passa?"
Solícita,
informou-me: " É para instalar serviços oficiais".
Agradeci,
e fiquei inteirado: o valor de imóvel, terreno. Objecto de arte ou o que for,
vale consoante for o proprietário.
Na
mão de meu pai, velho e doente, nada valia; na mão de capitalista, era casa de
valor, e embelezava o centro histórico.
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