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Crônica

Os roubos dos leitões


Luiz Albuquerque - Gente de Opinião
Luiz Albuquerque

Antigamente, numa época quando muitas famílias criavam animais no quintal de casa para o consumo próprio ou para vender, havia um costume, na Semana Santa, de algumas criações serem roubadas, principalmente galinhas, para serem degustados no sábado de Aleluia. Assim, quem tinha suas criações passava as noites de Quinta e de Sexta-feira Santa de olho nos bichos para flagrar algum malandro que os viessem roubar.

Numa certa capital da Região Norte havia um conjunto de quartos geminados - que por lá é conhecido como Estância - construído sobre um terreno úmido, com assoalho de madeira um pouco elevado do solo. Abaixo dele, no chão, galinhas, patos e outros bichos passeavam ou se deitavam, aproveitando a sombra fresca debaixo dos quartos. E isso parecia não incomodar muito os moradores.

Acontece que uma porca, seguida de uma dúzia de filhotes, passou a vir passear e chafurdar todas as madrugadas naquele local, tornando o chão enlameado. Depois de alguns dias, os roncos, a sujeira e o fedor da lama começaram a incomodar. Ninguém sabia a quem pertenciam ou como expulsar os bichos dali.

Certa noite, uma Quinta-Feira Santa, um grupo de moradores tomava umas “pingas” enquanto jogavam conversa fora quando, de repente, surgiu a tal porca e seus “bacorinhos”. O assunto passou a ser sobre a inconveniência de tais bichos. Foi quando um deles sugeriu: “Por que não pegamos esses ‘bichos’ e sumimos com eles?”. A ideia foi imediatamente aprovada. Só que, ao ser colocada em prática, a cada aproximação dos vizinhos a porca abria o maior berreiro e os filhotes “sumiam”. Já estavam para desistir quando um avião passou em voo baixo. Com o barulho alto das turbinas, a turma aproveitou pra cercar os porcos e agarrar ao menos os filhotes enquanto os berros deles e da porca iam sendo abafados pelo “ronco” da aeronave. A “caçada” rendeu seis leitõezinhos que em pouco tempo estavam limpos e despelados, sendo levados para as geladeiras dos pequenos quartos. 

No sábado de Aleluia, saboreando leitões assados enquanto bebiam muita cachaça, a confraternização da vizinhança foi total. A porca, com o restante dos filhotes, nunca mais apareceu.

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