Quinta-feira, 7 de março de 2024 - 10h20
Um cenário urbano agitado, com
mulheres de diferentes idades e origens marchando pelas ruas empunhando
cartazes e entoando cânticos de protesto. Alguns homens também se juntam à
multidão, demonstrando solidariedade com a causa. Bandeiras coloridas com símbolos
de igualdade e empoderamento tremulam ao vento.
Destacam-se três mulheres - Stepnhanie,
Áurea Vitória e Alline - que lideram a marcha, carregando faixas com
mensagens inspiradoras.
Stephanie: Companheiras,
hoje marcamos um novo capítulo na história das mulheres! Não mais seremos
silenciadas, não mais aceitaremos a opressão!
Áurea Vitoria: Juntas,
somos fortes! Juntas, podemos conquistar a igualdade que nos é devida!
Alinne: Nós estamos aqui não apenas por nós
mesmas, mas por todas as mulheres que vieram antes de nós e por todas as que
virão depois de nós. Esta é uma luta pela justiça, pela dignidade e pelo
respeito!
A multidão irrompe em aplausos
e gritos de apoio. À medida que a marcha continua, - mulheres com palavras de
ordem pela obtenção do direito ao voto. líderes femininas desafiando o status
quo, e trabalhadoras exigindo condições de trabalho justas se fortalecem.
A descrição se assemelha ao
contexto do início do movimento pelo Dia Internacional da Mulher, que teve seu
marco inicial em 8 de março de 1908, na cidade de Nova York, Estados Unidos. O
evento ocorreu em uma fábrica têxtil chamada Cotton, onde cerca de 15.000
mulheres trabalhavam, e foi nessa fábrica que ocorreu o incêndio que acabou
vitimando muitas trabalhadoras e que serviu como um catalisador para a
mobilização das mulheres por melhores condições de trabalho e direitos. No
entanto, a celebração do Dia Internacional da Mulher hoje em dia não está
vinculada a um local específico, mas é observada em todo o mundo em
reconhecimento às lutas das mulheres por igualdade e justiça.
O Dia Internacional da Mulher
é uma ocasião significativa que nos convida não apenas a celebrar as conquistas
e avanços das mulheres ao longo da história, mas também a refletir sobre os
desafios contínuos que ainda enfrentam em sua busca por igualdade e
reconhecimento. Esta data, observada em todo o mundo, não é apenas uma
celebração, mas também um lembrete das lutas passadas e presentes das mulheres,
bem como uma chamada à ação para garantir um futuro mais justo e inclusivo. Desde então, muitas conquistas foram
alcançadas, incluindo o direito ao voto, igualdade perante a lei, acesso à
educação e oportunidades de carreira.
É importante reconhecer, que o
movimento feminista, em suas várias formas e manifestações, desempenhou um
papel crucial na promoção da igualdade e na defesa dos direitos das mulheres. Porém,
essas conquistas foram alcançadas através de uma luta árdua e persistente, com
muitas mulheres enfrentando oposição e resistência ao longo do caminho.
A História mostra que as
mulheres têm sido frequentemente subjugadas e marginalizadas, com suas
contribuições muitas vezes subestimadas ou ignoradas. Em muitas sociedades,
conceitos religiosos e culturais foram invocados para justificar a opressão das
mulheres, perpetuando estereótipos prejudiciais e limitando suas oportunidades.
Na tradição cristã, por
exemplo, o relato bíblico do Jardim do Éden frequentemente é interpretado como
culpando Eva, a primeira mulher, pela queda da humanidade, ao comer o fruto
proibido. Essa narrativa tem sido usada para justificar a inferioridade e
submissão das mulheres, perpetuando uma visão distorcida e prejudicial de seu
papel na sociedade. Assim como Maria de Mgadala, que seria apedrejada na rua se
não fosse a interferência do Messias.
Apesar dos avanços
significativos, as mulheres continuam a enfrentar uma série de desafios no
mundo contemporâneo. A desigualdade salarial, a violência, a sub-representação
em cargos de liderança e a falta de acesso a cuidados de saúde reprodutiva, são
apenas algumas das questões que persistem em muitas partes do mundo.
É verdade que o empoderamento
das mulheres e as mudanças nos papéis de gênero tiveram impactos significativos
nas dinâmicas familiares e sociais. À medida que as mulheres conquistaram mais
autonomia e oportunidades, isso naturalmente desafiou as normas tradicionais, desfigurando
o papel do homem como provedor principal e do pai como modelo de autoridade e
responsabilidade na família. Isso, por sua vez, levou a uma reconfiguração da estrutura
familiar.
Uma das consequências desse
processo é a diminuição da ênfase na família nuclear tradicional, com mais
mulheres optando por criar seus filhos sozinhas ou buscando diferentes arranjos
familiares que refletem sua independência e autonomia. Essa mudança pode ser
vista como uma resposta ao desejo das mulheres por liberdade e
autodeterminação, mas também pode resultar em uma lacuna na presença paterna na
vida das crianças.
Na história de "Alice no
País das Maravilhas", quando Alice chega à encruzilhada e se depara com o
Gato de Cheshire, ela expressa sua incerteza sobre para onde quer ir. O Gato
responde de uma maneira bastante filosófica, dizendo a famosa frase: "Isso
depende de para onde você quer ir". E assim ela diz: Não sei! O
gato complementa: “Para quem não sabe para onde ir, qualquer caminho serve”
...
Essa cena pode ser vista como
uma metáfora poderosa para a jornada das mulheres em busca de liberdade e
autonomia. Assim como Alice na encruzilhada, muitas mulheres enfrentam uma
sensação de desconhecimento sobre seus destinos e objetivos quando se trata de
alcançar a liberdade. Elas podem ter uma noção geral de querer mais autonomia e
independência, mas muitas vezes não têm uma visão clara do que essa liberdade
realmente significa para elas ou como alcançá-la. Ou seja, qual é o seu
verdadeiro empoderamento?
Será que o conceito de
empoderamento é exemplificar Anita, com sua liberdade sexual irrestrita? Ou,
quem sabe, escolher viver só, beber e sair por aí sem destino ou ter que dar
satisfação a ninguém ou a sí, mesma?
Ou será que é escolher ser
mãe, sem a responsabilidade de cria, educar e ensinar o verdadeiro caminho para
o caráter? Precisamos entender isso. Eu, homem tradicional com mente
contemporânea, confesso que, as vezes tenho muita dificuldade para processar
esses conceitos.
Assim como o Gato de Cheshire
sugere a Alice que o caminho a seguir depende de onde ela quer chegar, entendo
que as mulheres também enfrentam a necessidade de se autoquestionar e definir
seus próprios objetivos e prioridades em termos de liberdade. Isso pode
envolver desafiar normas sociais e expectativas. Enfrentar obstáculos pessoais e sociais e, em
última análise, descobrir o que realmente as faz sentir-se livres e realizadas.
Assim como Alice pode se
sentir perdida e solitária em sua jornada, algumas mulheres podem acabar se
sentindo isoladas ou desconectadas enquanto buscam sua própria definição de
liberdade. Isso pode ser especialmente verdadeiro em uma sociedade que muitas
vezes valoriza a independência individual em detrimento do apoio comunitário e
das relações interpessoais.
A analogia com "Alice no País das
Maravilhas" deve lembrar as mulheres da importância de explorar e definir seus
próprios caminhos em busca da liberdade, mesmo que isso signifique enfrentar a
incerteza e a solidão ao longo do trajeto. Mas, para isso, é preciso ajustar a
bússola do destino.
Gosto de usar essa metáfora da
Alice, porque ela, destaca a importância que as mulheres precisam ter para encontrar
apoio e conexão com outras pessoas que compartilham nessa jornada e valores,
tornando a busca pela liberdade um esforço coletivo para o tão sonhado
empoderamento.
De outra forma, devemos reconhecer
que a ideia da família tradicional não é necessariamente o modelo mais saudável
ou adequado para todas as pessoas. A diversidade de arranjos familiares reflete
a diversidade de experiências e necessidades das pessoas, e o importante é que
as crianças, frutos dessas relações conturbadas, recebam amor, cuidado e apoio,
independentemente da estrutura familiar em que crescem. Eu próprio, sou um
exemplo disso. Nasci de um caso e fui criado por minha avó e minha tia, mas nem
por isso me tornei uma criança revoltada com a família. Da mesma forma que meus
filhos também sofreram a consequência desse fenômeno do empoderamento feminino,
que resultou na dissolução conjugal de um relacionamento de mais de 15 anos. Estão todos bem e superaram esse tsunami.
Temos que aprender a ensinar as novas gerações a conviver com esse momento em
que o ser humano se afasta cada vez mais um dos outros através de uma
socialização estritamente digital e fria.
Além disso, é fundamental
entender que o empoderamento das mulheres não deve ser visto como uma ameaça aos
homens, mas como uma oportunidade para promover relações mais igualitárias e
saudáveis entre os gêneros. Nós homens também podemos nos beneficiar de uma
redefinição dos nossos papéis, permitindo-nos explorar uma gama mais ampla de
expressões de masculinidade e encontrar maior realização pessoal e familiar.
Isso, não quer dizer que devemos buscar uma zona de conforto e procurar um
mirante para olhar as mulheres a carregarem suas pedras. Não! Ou acompanhamos
esse processo juntos, ou estaremos demonstrando que todo não passa de uma
hipocrisia masculina e ilusionista para deixar as mulheres caírem no precipício
que cavaram com seus próprios pés.
É importante não apenas
celebrar as conquistas das mulheres, mas também reconhecer as lutas contínuas e
os desafios que enfrentam. Devemos continuar a trabalhar juntos para criar um
mundo onde todas as mulheres possam viver com dignidade, igualdade e respeito.
Neste Dia Internacional da
Mulher, vamos nos comprometer a continuar a lutar pela igualdade de gênero e a
criar um mundo onde todos, homens e mulheres possam prosperar e alcançar seu
pleno potencial.
Rubens Nascimento, é
jornalista, Bel. Direito e M.M. Maçom.
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