Quinta-feira, 21 de novembro de 2024 - 14h27
Vinício Carrilho Martinez (Dr.) – Cientista
Social/UFSCar
Vinícius Miguel Raduan (Dr.) – Cientista
Social/UNIR
Este artigo
propõe uma análise interdisciplinar que combina perspectivas da economia
política com uma leitura crítica da sociologia histórica brasileira. O título,
"Pensamento Escravo-Fascista", alude à fusão entre um modelo arcaico
de exploração – que denominamos pensamento escravista – e os resquícios de
práticas, técnicas e subjetividades que configuram formas contemporâneas de
autoritarismo, com traços fascistas.
Para ilustrar a
lógica econômica embutida no título, tomemos um exemplo hipotético: uma fazenda
escravista produz uma laranja ao custo de R$ 10, vendendo-a por R$ 12 com
margem de lucro reduzida. Em contraste, uma fazenda mecanizada, integrada aos
padrões capitalistas de produção, pode produzir a mesma laranja a um custo de
R$ 8, vendendo-a pelo mesmo preço ou mais barato, mas com maior lucratividade.
A permanência de modelos econômicos que utilizam mão de obra em condições
análogas à escravidão, paradoxalmente, sustenta a precificação e,
indiretamente, a lucratividade do capital hegemônico, perpetuando assim uma
dinâmica que subverte o próprio princípio de modernização econômica.
A Lógica Econômica do Pensamento Escravista
Por pensamento
escravista, entende-se um conjunto de práticas, discursos e estruturas que
articulam racismo estrutural à exploração de trabalho análogo à escravidão.
Trata-se de uma contradição interna do capitalismo brasileiro, na medida em que
formas de produção pré-capitalistas coexistem e, em alguns casos, sustentam a
precificação capitalista. Historicamente, o capitalismo é capaz de absorver
formas regressivas de trabalho, mas no Brasil, tal absorção assume contornos
disfuncionais, pois estas práticas não apenas degeneram a dignidade humana como
também retardam a transição para modelos mais produtivos e inclusivos.
Este fenômeno
evidencia um "descompasso estrutural" entre a formação econômica brasileira
e os padrões hegemônicos globais. O agronegócio, principal vetor de exportações
nacionais, opera em boa medida segundo essa lógica. Embora modernizado em
tecnologia, é sustentado por relações laborais que se apropriam de práticas
historicamente associadas à escravidão. O trabalho análogo à escravidão não é
apenas um resquício histórico; ele serve, na economia contemporânea, como um
referencial de valor que infla artificialmente a lucratividade do setor
capitalista. O preço final da mercadoria é fixado com base nesse modelo,
conferindo ao capitalista moderno uma dupla vantagem: exploração da mais-valia
e fixação de preços elevados por comparação.
Além disso, essa
lógica arcaica é intrinsecamente vinculada a outras formas de poder
patrimonialista e corporativista, como o coronelismo, o patriarcalismo e a
bancada ruralista no Congresso Nacional. Este grupo, em articulação com os
setores mais conservadores da política brasileira, como a chamada bancada BBB
(Bíblia, Boi e Bala), reforça pautas regressivas que não apenas perpetuam, mas
institucionalizam esse modelo de exploração.
O Capitalismo Especulativo e o Fascismo Contemporâneo
Ao discutirmos os
"laivos fascistas" no título, remetemos a um conjunto de práticas
políticas e institucionais que reforçam formas regressivas de repressão social.
Fascismo, aqui, é entendido como a mobilização de elementos autoritários em
resposta às crises do capitalismo. No contexto brasileiro, observa-se uma
associação entre estruturas repressivas do Estado e práticas econômicas que
privilegiam o capital especulativo em detrimento de direitos sociais.
Um exemplo
emblemático é a substituição de funções de segurança pública por milícias ou
forças paraestatais, criando um ambiente de insegurança que legitima formas
autoritárias de controle social. No caso específico da Polícia Rodoviária
Federal (PRF) em Sergipe, o assassinato de Genivaldo de Jesus Santos em 2022,
mediante uma tática que remonta às câmaras de gás nazistas, evidencia como o
treinamento policial pode incorporar práticas de violência extrema que negam o
princípio constitucional da dignidade humana.
Essa negação é
facilitada por uma estrutura estatal que, historicamente, legitima a repressão
como ferramenta de controle social. Desde o período escravista até o regime militar
e a consolidação do neoliberalismo no Brasil, o Estado tem se alinhado a
interesses econômicos que reproduzem desigualdades. A Constituição de 1988
tentou romper com esse ciclo ao incluir a dignidade humana como princípio
fundamental. Contudo, a persistência de práticas como o "treinamento
fascista" das forças de segurança revela o quanto o arcabouço jurídico e
os direitos fundamentais são frequentemente ignorados na prática.
O Papel do Racismo e da Síndrome do Capitão do Mato
Um dos aspectos
mais inquietantes do pensamento escravo-fascista é a internalização do racismo
estrutural, que perpetua dinâmicas de opressão dentro das próprias classes
subalternas. A figura do "capitão do mato", que historicamente
simbolizava o negro que perseguia outros negros para manter a ordem escravista,
é ressignificada nas práticas contemporâneas de repressão policial. Um policial
negro sufocando outro homem negro já contido ilustra como o racismo estrutural
não apenas oprime, mas também coage os indivíduos a reproduzirem as hierarquias
de poder.
Síntese: A Confluência Entre Arcaísmo e Contemporaneidade
O pensamento
escravo-fascista simboliza a fusão de duas forças regressivas: o legado
escravista e as práticas autoritárias contemporâneas. Na economia, essa lógica
se manifesta na sobrevalorização de mercadorias baseada em formas
pré-capitalistas de produção. Na política, é reforçada por grupos de pressão
que atuam para preservar esses modelos. E na sociedade, manifesta-se por meio
de práticas racistas e repressivas, que negam a dignidade humana.
O Brasil de 2024
enfrenta o desafio de romper com essa síntese perversa entre passado e
presente. A superação do pensamento escravo-fascista requer não apenas
políticas públicas robustas, mas uma reforma estrutural nas instituições, no
mercado de trabalho e nas relações sociais. Sem isso, continuaremos a repetir o
ciclo histórico de exclusão, repressão e exploração que marca a sociedade
brasileira.
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