Terça-feira, 21 de novembro de 2023 - 09h10
“Sendo o Exército um
instrumento essencialmente político, a consciência coletiva deve-se criar no
sentido de se fazer a política do Exército, e não a política no Exército.”
Gen
Gois Monteiro, 1934
UNUS SED LEO – É SÓ UM; MAS, É UM LEÃO
Dito romano, Sec I AC
No começo de 1935, foi fundada
no Brasil a Aliança Nacional Libertadora (ANL), sendo Luís Carlos Prestes
aclamado seu presidente de honra. Capitão do Exército, vivendo na
clandestinidade, convertido ao comunismo depois de participar do movimento
tenentista dos anos 20, tendo inclusive morado e estudado na Rússia, Prestes
tomou como missão, juntamente com o Partido Comunista Brasileiro (PCB),
realizar a revolução comunista no Brasil. Assim, entre 23 e 27 de novembro de
1935, revoltas armadas protagonizadas por integrantes da ANL e lideradas por
Prestes aconteceram em Natal, Recife e no Rio de Janeiro, para derrubar o
governo, no que ficou para a História como a Intentona* Comunista (*intento
tresloucado). O Exército, como um leão ferido, com uma patada certeira
rapidamente neutralizou os movimentos, mas o saldo foi sangrento, e as feridas
das traições junto aos companheiros de farda jamais cicatrizaram.
O tenentismo gerou nos militares a crença de
que o ideário comunista era contrário a tudo que defendiam e acreditavam para o
país, mas foi naquele novembro, faz quase 90 anos, que esse sentimento
anticomunista se enraizou de fato nas Forças Armadas. A lealdade, a camaradagem e a confiança entre
chefes e subordinados – fundamentos da coesão para o combate – além dos pilares
organizacionais de qualquer Exército, a hierarquia e a disciplina, foram
totalmente desconsiderados pelos comunistas, que não hesitaram em assassinar
friamente os próprios camaradas, na tentativa de impor suas crenças
ideológicas.
Os anos que se seguiram aos levantes de 1935
foram marcados por um profundo acirramento ideológico, no país e no mundo,
quando o comunismo mostrou a sua face autoritária e seus métodos homicidas de
tomada e manutenção do poder. Lenin, Stalin, Mao Tsé Tung, Fidel Castro, Che
Guevara, Pol Pot, apenas para lembrar aqueles mais sanguinários, responsáveis
por mais de 100 milhões de vítimas políticas do comunismo, no Século XX.
De fato, a História comprovou que a ideologia
comunista despreza os princípios que fundamentam a profissão das armas, ameaçando
não somente a cadeia de comando, mas também a própria estrutura militar, na sua
essência. Os militares brasileiros, habitualmente movidos por fortes
sentimentos de nacionalismo e patriotismo, entenderam ser impossível aceitar o
internacionalismo proletário pregado pelos comunistas. Pesou também o
conservadorismo positivista dos nossos soldados, que os tornou – à princípio –
defensores do status quo, e refratários da via revolucionária e da
dissolução das instituições, enquanto gestão política. Em suma, diferentes dos
seus congêneres sul-americanos, nossos militares possuem um sentimento de
ojeriza ao comunismo quase que inato, e construíram, historicamente, a
convicção de que seus valores e crenças entram em choque com tudo o que é
preconizado pelo comunismo. Em poucas palavras: no Brasil, ser militar é ser
anticomunista.
Entretanto, contrariando seu passado histórico,
por razões interna corporis, as Forças Armadas se abstiveram de
participar dos últimos acontecimentos políticos. Sem responder aos clamores
populares, o Exército adotou a neutralidade política, com atitudes pouco
transparentes e facilmente confundidas com omissão. O clima mudou, a selva e os
animais são outros. De sua jaula constitucional, o leão vislumbrou o perigo por
entre a mata densa dos riscos e, embora atento, permaneceu passivo. Talvez tenha
evitado um fratricídio, porém sua cautela excessiva permitiu à matilha das hienas
comunistas (fauna só encontrada no Brasil), livre de predadores, lançarem-se sobre
o rebanho de cidadãos indefesos, abocanhando direitos, matando opiniões e dilacerando
leis, “em defesa da democracia.”
O Brasil já tem uma população adulta
politicamente, e capaz de constatar quão deletérias são as práticas comunistas
para democracia. A aproximação comunista pela via pacífica se concretizou no país,
por meio da hegemonia cultural gramcista dos últimos 60 anos, valendo-se
de uma Constituição leniente, de chicanas jurídicas ativistas e da
desinformação que grassa no meio da juventude, principalmente. O atual
Presidente da República, assim como alguns integrantes do seu governo se
autodeclaram comunistas, sem qualquer pudor. A política externa do governo é de
esquerda, com adesão ao Foro de São Paulo, apoios expressos às ditaduras
comunistas e solidariedade com organizações terroristas, como as FARC e o HAMÁS.
Os Ministros do STF defendem pautas comunistas, inocentam notórios corruptos,
libertam traficantes de drogas, devolvem bens apreendidos aos criminosos, sentenciam
à cavaleiro da ideologia, tudo “dentro da lei”. A imprensa, a Academia e o
Judiciário estão aparelhados, e exercem um patrulhamento ideológico esquerdista
implacável. Agora, os comunistas ensaiam
domesticar o leão, com uma nova jaula de “legalidades”, desconsiderando
criminosamente quanto isso atenta contra a soberania e a segurança pública, do
país.
Sim, estamos no Século XXI, e não cabem
tenentismos nem intentonas. Não foi e nem é necessário golpe, quartelada ou
revolução, simplesmente urge maior responsabilidade política por parte das
instituições e autoridades do país. E que haja reação legal ao que não pode ser
aceito como “normal” ou “democrático”, quando na verdade não passa de narrativa
comunista, que nos deteriora as convicções, e nos submete a um autoritarismo travestido
de democracia, diariamente. No meio da selva política, o simples ecoar do rugido
anticomunista histórico das Forças Armadas (do Exército!) já seria um alerta
aos abutres metidos nas carcaças das liberdades.
É missão constitucional das gentes das armas discordar,
pleitear, influir, ser capaz de frear certas decisões de governo que contrariam,
desde sempre, não só a política do Exército, mas os próprios valores da
Nação. E cabe aos Ministros detentores
da violência institucional do Estado (Defesa e Justiça) preservar e atender
o jus sperniandi – direito de espernear – dos fardados. Quanto ao
almejado “controle civil” das Forças Armadas, só depende da capacidade do governo
de materializar os anseios militares, no cumprimento da missão constitucional. Na
democracia moderna, é do estadista e não da tropa a responsabilidade de fazer acontecer
a “política do Exército”, aquela capaz de suportar – com o uso da força,
quando necessário – as pedras angulares do estamento militar, e das liberdades
democráticas.
Hoje, a parte que cabe à sociedade nessa
história é de reconsiderar o tratamento abusivo e inconsequente que tem sido dispensado
às Forças Armadas, para que elas possam – antes de tudo – manter o respeito
próprio, e o de todos os brasileiros. Elas estão amargando um injusto destino,
fruto de decisões questionáveis, mas como disse o Marechal Hermes da Fonseca,
oitavo Presidente da República: “Não esqueçais que as situações políticas
passam, e o Exército fica!”
De outra forma, persistindo a nossa cumplicidade,
omissão ou negligência, ter-se-á conseguido mais um êxito ao contrário: ajudar
a implodir os valores da Nação brasileira, para enfim se concluir o desastre já
em curso da construção de um Estado comunista brasileiro. Consertar o carro
andando é o segredo da sobrevivência da democracia. E isso implica em dar
tratamento condigno ao Exército, mesmo porque no Brasil, é só uma a instituição
anticomunista; mas, é um leão.
Gen Marco Aurélio
Vieira
Foi Comandante da Brigada de Operações
Especiais e da Brigada de Infantaria Paraquedista
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