Bispos e movimentos populares dos EUA lançaram neste domingo (19) uma convocação à desobediência civil no país depois que a agência Associated Press divulgou um memorando interno do governo Trump indicando o uso de 100 mil soldados da Guarda Nacional para promoverem uma caçada humana e deportação em massa de imigrantes sem documentos. O porta-voz de Trump, Sean Spicer, negou a informação, mas a agência de notícias publicou a íntegra do documento, assinado pelo secretário de Segurança Interna, John Kelly (aqui).
No domingo, houve o encerramento na cidade de Modesto (Califórnia) de uma reunião de quatro dias de mais de 600 líderes de movimentos americanos, no primeiro encontro regional acontecido no âmbito do Encontro Mundial dos Movimentos Populares, articulado pelo Papa Francisco desde 2014 (foram três edições até agora). No documento final, com apoio do Vaticano, as lideranças sociais e comunitárias lançaram uma convocação para que “cada comunidade de fé, incluindo todas as paróquias católicas, declarem-se santuários para as pessoas que estão enfrentando a ameaça da deportação e para aqueles perseguido por causa de sua religião, raça ou crenças.” Trata-se de uma convocação à desobediência civil diante da ameaça do governo Trump e uma ponte para acolher de mexicanos a muçulmanos, negros, pessoas de todo o planeta que moram nos EUA e agora estão sob grave risco (leia a íntegra do documento final do encontro aqui).
O I Encontro dos Movimentos Populares dos EUA convocou também uma mobilização nacional e internacional “contra o ódio e os ataques a nossas famílias”, que deverá acontecer entre 1 e 7 de maio. No documento final, os participantes mencionaram a carta que Francisco enviou a eles poucos dias antes, contendo um ataque direto ao capitalismo, “sistema que causa enormes sofrimentos à família humana, atacando ao mesmo tempo a dignidade das pessoas e nossa Casa Comum para sustentar a tirania invisível do dinheiro que garante apenas os privilégios de alguns”.
Ao discursar no encontro, o bispo de San Diego, dom Robert McElroy, fez um duro pronunciamento incentivando o rompimento com o governo Trump: “Precisamos romper com quem quer tropas nas nossas ruas para deportar os imigrantes ilegais, para separar mães e pais de suas famílias. Precisamos romper com quem retrata os refugiados como inimigos, ao invés de irmãos e irmãs passando por necessidades. Precisamos romper com quem nos treina para enxergar homens, mulheres e crianças muçulmanas como ameaças e não como filhos de Deus. Precisamos romper com quem quer roubar nossa assistência à saúde, principalmente dos pobres. Precisamos romper com quem tiraria até mesmo a assistência nutricional das bocas das crianças”.
Também no domingo, a conferência dos bispos do Estado americano do Novo México divulgou uma nota equiparando a proposta de uso da Guarda Nacional contra os migrantes a uma “declaração de guerra”. Para os bispos, a administração Trump está declarando uma guerra interna, dentro das fronteiras americanas. O Novo México é um dos quatro Estados americanos fronteiriços com o México que poderão ser ocupados pelas tropas (os outros são Califórnia, Arizona e Texas). Mais sete Estados contíguos também estão ameaçados de receber os soldados da Guarda Nacional (Oregon, Nevada, Utah, Colorado, Oklahoma, Arkansas e Louisiana).
A Igreja Católica nos EUA está profundamente dividida em relação ao governo Trump. Enquanto cresce a mobilização dos bispos e movimentos de base alinhados ao Papa contra as políticas beligerantes do novo governo, a hierarquia conservadora, sob o comando do cardeal Raymond Burke, líder da oposição integrista a Francisco, especialmente nos EUA e Europa. O confronto crescente com Trump deverá agravar ainda mais os tensionamentos no interior da Igreja.
[por Mauro Lopes com agências e serviços de notícias no blog Caminho para Casa.