Terça-feira, 27 de fevereiro de 2007 - 05h49
"na passarela do samba: Os aguerridos puxadores (intérpretes), a escola que cantou o samba enredo, o povo que pede espaço. Estamos a menos de uma ano para o próximo carnaval."
As escolas de samba passaram. E passaram bem! Em meio à correria da organização para os desfiles, registramos alguns tópicos para compor este nosso artigo. Muito embora as agremiações, desde o ano passado, virem mostrando sensível melhoria qualitativa, em seus trabalhos, ainda existem coisas, procedimentos e posturas que não mais cabem num processo de organização. A escola Gaviões do Guaporé tem na pessoa do seu presidente (Waldir), uma verdadeira escola do eu sozinho. Além da função maior na agremiação, o presidente é também o autor do enredo, do samba de enredo e pra não ficar só nisso, foi, na avenida, o mestre sala. Terá, o polivalente cartola do carnaval, sido também o figurinista, baiana, costureiro, artesão e algo mais?
A escola Império do Samba cantou seus trinta anos de vida, sob a luz do seu Presidente Waldomiro Gonçalves (o popular Mirim) estar totalmente alheio ao regulamento que ele próprio votou e ajudou a aprovar em assembléia na FESEC. Na hora da apuração, quando da abertura dos envelopes, a sua escola fora penalizada num dos itens de obrigatoriedade. Aí o Mirim pulou, sacudiu e disse aquilo ser perseguição, injustiça e coisa e tal. Acontece que, o regulamento é, neste e noutros casos, o vade-mecum a ser visitado, lido e acima de tudo interpretado, entendido. Tava na cara que na disputa do grupo de acesso não haveria equilíbrio. Muito embora a (re)estreante Asfaltão - por força de regulamento não haver se creditado com o repasse de recursos, como acontecera com as demais ente-federadas da FESEC, a agremiação do Bairro Santa Bárbara valeu-se do seu poder de organização e trabalho comunitário para suplantar, na avenida, as suas duas concorrentes e ascender ao grupo especial. Cabe agora, aos Gaviões do Guaporé e Império do Samba, reprogramarem suas ações e disputar uma vaga para 2009, na elite das escolas, com a Rádio Farol que desceu ao grupo de acesso.
A escola que cantou o samba enredo: diz o Ernesto Melo, numa de suas canções que "o samba no Asfaltão é diferente, tem gente que canta com a gente..." Isso foi provado no desfile da escola (Asfaltão), na noite de domingo na passarela do samba. O problema técnico com o som na avenida, serviu para mostrar o quão lindo e importante é, os brincantes, saberem, e cantarem o samba enredo na hora do desfile. A escola Asfaltão, trouxe sua aguerrida bateria marcando firme e dando ritmo para as alas, de ponta a ponta, cantarem o tema que fala da reciclagem e defesa ao meio ambiente. Crianças e adultos disseram no gogó e deram aquela força aos cantores para levantar a agremiação. Isso prova que, os ensaios quando acontecem e os integrantes se envolvem, a coisa dá certo. Parabéns ao pessoal do "tigre" (apelido da Asfaltão).
Os emocionados e emocionantes puxadores (intérpretes): já sabíamos que as escolas do grupo especial fariam um bom desfile. Porém, o melhor da noite estava por vir. Quando da armação da Escola Diplomatas do Samba, o compositor e intérprete Ernesto Melo tomou a decisão de não subir no Trio Criativada e lá do asfalto, pisar firme com seu sapato bicolor (vermelho e branco, é claro) e soltar o seu emocionado canto que diz na cabeça "Sou Diplomatas Sim Senhor, vou cantar para vocês..." e daí em diante a letra faz um passeio pelo mundo infantil, brincadeiras, heróis, circo e personagens do colorido universo da criança. Tudo bem que o velho (como diz o Sílvio Santos), é experiente, tem as manhas, mas confesso, poucas vezes, ter visto um intérprete de samba enredo tão emocionado e emocionante. Quando veio a Armário Grande, não foi diferente. O Jair Monteiro desde a cabeceira da pista, detonou, puxando a escola sozinho, ou seja, sem as vozes de apoio. O cara tava suado pra burro, seguro de si, decidido, firme não deixou a peteca cair. Gosto de ver quando o artista surpreende, fere o convencional e faz a diferença. Missão espinhosa a do Jair, porém, muito bem desempenhada. A São João Batista, entrou na avenida e eu já estava pra lá de satisfeito com o Ernesto e o Jair. Mesmo assim, o Banana Split também fez a sua parte, empunhou o microfone e arrebentou empolgando arquibancada e camarote.
O povo pede espaço: há anos que em Porto Velho se espera por melhorias estruturais para os acontecimentos de grande porte. Entretanto os debates em torno desse assunto nunca avançaram, a cidade pode chegar ao seu centenário (faltam menos de dez anos), superando a casa de meio milhão de habitantes, o que sugere a ampliação de espaços para grandes realizações. No caso do desfile das escolas, nós da organização, vivenciamos um baita problema: onde e como acomodar tanta gente. Na concentração, no recuo da bateria, no meio da pista, tentando controlar ambulantes, tentando desobstruir o acesso das escolas ou tentando dar apoio a estas na armação, afinal, era muita gente em tudo que era lugar. Para assistir o desfile, as pessoas tinham mesmo que se aglomerar em algum lugar. Deu muito trabalho, mas o povo deu o seu show de educação, paciência e sensibilidade, em que pese ter reclamado muito da falta de espaço. A Avenida Costa e Silva oferece condições para tal, mas deve ser planejada para acomodar o público e abrigar os ambulantes. Sobre os ambulantes, os mesmos já tinham sido organizados nas laterais das arquibancadas mas foram reconduzidos à beira da pista. Aí, o bicho pegou! Alegrias e emoções, muito trabalho, pra quem trabalhou, muito cansaço pra quem se cansou e pronto! já estamos a menos de um ano do carnaval/2008. Urge que nos preparemos. Resta varrer as lantejoulas que rebrilham espalhadas no salão, pisar os derradeiros confetes nas calçadas e, como mote, fazer valer o refrão de João Nogueira e Paulo César Pinheiro: "as pragas e as ervas daninhas, as armas e os homens de mal, vão desaparecer nas cinzas de um carnaval."
(*) O autor é músico e vice-presidente da Fundação Iaripuna.
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