Terça-feira, 6 de dezembro de 2011 - 21h54
EMMANOEL GOMES, PROFESSOR, HISTORIADOR, MEMBRO DA ACADEMIA DE LETRAS DE VILHENA
É difícil acreditar, mais o Brasil já viveu períodos onde a corrupção era mais presente, até porque era oficializada, sempre tivemos problemas com a forma corrupta, calhorda, desigual e injusta de se governar. Hoje, temos a sensação de que todos sejam corruptos e cremos na impossibilidade de exterminar com característica tão nojenta e nefasta.
O leitor tem todo o direito de duvidar sobre essa afirmação, porém, gostaria encarecidamente de justificar tal afirmativa.
Devemos lembrar que as poucas conquistas sociais são recentes em nossa história, lembramos que há pouco mais de cem anos vivíamos um vergonhoso regime de escravidão, parte da economia acumulada por muitos grupos presentes ainda hoje, se construíram, mercê da exploração do comércio de pessoas.
Direitos e leis para o trabalhador, escola pública, hospital público e voto para as mulheres somente surgiram há pouco mais de sessenta anos com o governo Vargas em 1934. O estado repassava tudo que era produzido para a elite agrária nacional.
Trinta e cinco anos no passado, a grande maioria da população era analfabeta de pai e mãe e morava na roça.
Frente a esse panorama fático, fica evidente, que o Estado não era fiscalizado, voltando-se absolutamente, para os interesses elitistas. Algo em torno de um por cento da população se beneficiava utilizando o Estado Nacional como seu.
Saímos de uma condição na qual o “povo” era nada, para uma condição em que o “povo” é quase nada. Tal situação demonstra, mesmo minimamente, que houve tênues mudanças.
À medida que as pessoas vão conquistando a civilidade e cidadania os instrumentos de fiscalização e controle se revelam mais atuantes.
Para entendermos o Brasil, gostaria de convidar o leitor para refletir a respeito de uma realidade muitas vezes oculta construída em nossa história e que pouquíssimas pessoas são capazes de enxergar.
Quando ocorreu a independência dos Estados Unidos da América, o discurso do seu primeiro presidente George Washington era taxativo em relação ao modelo de Estado que nascia ali, no momento da independência.
Ele afirmou: “O Estado que nasce hoje, nasce com o objetivo de liderar o mundo na política, economia e cultura. Seremos mais fortes se o Estado que surge agora, existir para fortalecer seu povo, somente assim seremos líderes do novo mundo que surge com a nossa independência. Quanto mais rico e culto for nosso povo, mais condição terá de liderar o mundo”.
O discurso ecoou e todos os demais Presidentes e líderes seguiram o caminho apontado na origem. Os Estados Unidos se transformaram na potência que conhecemos. O Estado, lá, existe para responder aos anseios do povo que ele representa.
Na independência do Brasil, o nosso patrono, José Bonifácio de Andrada ao lado de duas dúzias de latifundiários e escravocratas, mais nosso Imperador “português” Don Pedro I, juntos lançaram um modelo de Estado afirmando: “Hoje sete de setembro de 1822, nasce o Estado Independente do Brasil, mais poderosos seremos nós, proprietários de terras e escravos se dominarmos e explorarmos profundamente nosso povo. Mantemos a escravidão, mantemos o latifúndio, mantemos o povo distante das decisões políticas”.
O Brasil transformou-se na “republica das bananas” e o Estado existe unicamente para concentrar renda explorando como se tornando um eficiente parasita em nossas vidas, existimos, cidadãos brasileiros, para alimentar esse monstro criador de desigualdades sociais.
Todos os governantes posteriores, desde a camarilha de nosso patrono José Bonifácio e Pedro I, até nossa “Presidente” Dilma, aplicaram a teoria presente naquele momento, teoria responsável pelo terrível abismo social brasileiro existente.
Somos o povo que mais paga impostos no mundo, e em contrapartida nos oferecem os piores serviços públicos. Pagam-se salários astronômicos para políticos e para os altos cargos governamentais, em detrimento de um salário mínimo miserável para os demais.
Acredito que após esta breve explanação, poderemos compreender melhor o problema da corrupção no Brasil.
Rondônia, novamente ocupa as páginas policiais de todo o Brasil e de algumas partes do planeta, em função da nefasta quadrilha instalada na Assembléia Legislativa Estadual.
Um triste esquema de criminalidade salta dos porões e guetos de nossa principal instituição política e se apresenta escandalizando àqueles poucos que ainda são capazes de se indignar.
Acompanhando as reações, as mais diversas possíveis, me pergunto se podemos crer num processo que seja capaz de dar respostas a tão terrível mal, gerador de tantas desgraças sociais em nosso país.
Reflito sobre algumas manifestações textuais, como a do professor Nazareno, sua inteligente ironia e sarcasmo. Reconheço que o autor não desiste e traça um caminho interessante, uma luta da negação de tudo o que está estabelecido, um grito de desconforto e de tristeza que tem minha sincera simpatia.
O Nazareno, professor como poucos, é alguém que não se acovarda ou se entrega, militante de uma trincheira ingrata, a trincheira em prol da sabedoria, dos valores morais, da Educação, das Artes e da Cultura. Combate ingrato, pois vivemos no país do Créu, da Lapada na Rachada, do Faustão e do Big Brother Brasil. País, em que igrejas, todas, presumivelmente, voltadas aos compromissos sociais e espirituais, se enriquecem como se fossem bancos.
Não nos damos conta de que essas balbúrdias alimentam a miséria social em que estamos envolvidos.
Luta dolorida para os combatentes do degredo cultural, pois as manifestações que prostituem aquilo que possui algum valor moral e cultural neste país encontraram abrigo, guarida dentro das escolas, universidades e faculdades do Brasil.
Se as instituições que foram criadas com o objetivo de possibilitar a vazão e assimilação do justo aprendizado (saber, ciência, pesquisa, educação, cultura, etc) revelam-se, hoje, invadidas por manifestações tão contraditórias à sua existência e objetivos. Então: o que podemos esperar do nosso futuro e do futuro dos nossos próprios descendentes? O que podemos fazer...
Primeiro, acredito que o estado de coisas pode ser transformado. Alguns eventos históricos são prova da incrível capacidade da qual somos dotados. Somos capazes de criar e transformar as sociedades, aliás, a sociedade em que vivemos é resultado do nosso esforço humano. Se é ruim é, simplesmente, resultado de nossas ações.
Li, recentemente, um artigo desabafo da Professora Fátima Cleide, Professora que, a certa altura, transformou-se em Senadora.
Pude conviver por um curtíssimo período ao seu lado nos idos de 1989 e 1990, quando a Fátima era uma jovem Professora e militante do Partido dos Trabalhadores.
Não posso dizer que seja próximo ou mesmo seu amigo, porém, despossuído de qualquer sentimento ou desejo que não seja o de contribuir com as reflexões, gostaria de afirmar que a professora e ex-Senadora Fátima Cleide é uma grande vítima, assim como todos nós, do grande circo ideológico criado pela esquerda após a ditadura militar.
O problema é que a condição de Senadora e Professora, ao mesmo tempo, lhe ofereceu condições para promover transformações, e sinceramente, não vimos em sua atuação uma postura revolucionária. A Senadora/Professora carrega um partido que estranhamente se enquadrou à realidade de outros partidos políticos e colabora significativamente com as páginas policiais dos últimos dez anos. Veja o caso da Presidente Estadual do PT, que teve seus bens bloqueados pela justiça em função das evidências de participação no esquema criminoso do homem “bonitão”, exemplo, até ontem, de bom homem, severo guardião da palavra de Deus.
Insisto na idéia de que todo esse oceano se relaciona com o desmonte da educação brasileira nos últimos trinta anos.
A crença de que nada prestava no período de ditadura militar, fez com que todos nós: Professores, Advogados, Médicos, Estudantes, Operários, Sindicalistas, Artistas, entre outros, atuássemos na destruição de tudo que estivesse relacionado ao trágico período histórico.
Fomos tão competentes no desmonte da ditadura militar que acabamos com tudo, inclusive com os valores existentes à época e que hoje tanto defendemos. Respeito, Ética, Ordem, Moralidade, Justiça, foram parar na mais profunda e imunda sarjeta social em nosso tempo.
A ex-senadora, ressentida com a generalização, “todo político é corrupto” não entendeu ainda, que o sistema do qual ela e todos nós somos inseridos é desigual, opressor e corrupto.
Um Estado que entende que o trabalhador em educação com nível superior, atuando em uma escola estadual, deve viver com um salário de mil e trezentos reais, um professor primário com míseros seiscentos reais, e que o salário mínimo seja de quinhentos e quarenta e cinco reais e ao mesmo tempo aceita os ganhos astronômicos dos mandatários em todas as áreas e esfera de poder é no mínimo ingênuo.
Segundo a instituição “Transparência Brasil”, um dos organismos mais sérios deste país, com grande divulgação da rede globo de televisão, um Senador ou Senadora da República do Brasil custa em média por ano, dez milhões e quinhentos mil reais para os pobres pagadores de impostos.
O custo de cada Deputado Federal, segundo o mesmo estudo, chaga a mais de seis milhões e quinhentos mil reais ao ano e a farra patriótica tem continuidade nas Assembléias Legislativas, Câmara de Vereadores, Judiciário, Executivo etc.
Não tenhamos dúvidas, todos os dias esse quadro se agrava, pois as escolas públicas e privadas, em todos os níveis, com seus conteúdos inúteis e a completa ausência na cobrança de comportamentos éticos e morais, mais a profunda ausência de políticas públicas na área de cultura, esporte e arte, são o carro chefe desse desmantelo.
Meus amigos, o desmonte histórico dos valores ocorridos pós-ditadura militar e com o apoio da grande massa de dirigentes sindicais, professores, artistas. ... Nós mesmos, eu, o Nazareno a Fátima Cleide, o Chico Buarque de Holanda, o Alberto Lins Caldas, o Januário, o Roberto Sobrinho, a turma do PMDB, PSDB, PDT.
Fomos autores coadjuvantes, sem dar-nos conta, do nascimento e crescimento do monstro que nos assombra: a sociedade deformada que temos que nos envolve e tentamos combater. A ignorância gerada com o desmonte dos valores humanos gerou essa profunda e perturbadora ausência de reflexão crítica e inteligência que poderia e pode reverter lentamente tão lamentável condição.
A ignorância é mãe, pai e avó de todos os males existentes, a escola existente em nosso país é infelizmente um instrumento a serviço da manutenção desse atraso.
Dominó, Termópilas, Anões do Orçamento, Valérioduto, Sangue Suga, Mensalão, Mensalinho, e tantos outros milhares de escândalos, são componentes existentes nos dois lados da mesma moeda presente em nosso “modelo” de sociedade.
São pontas minúsculas da realidade monstruosa existente. Não existe outro caminho que não seja o de reversão imediata das práticas educacionais cotidianas nesse pobre, rico país de bananas podres, chamado Brasil...
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